Powell diz que não é papel do Fed falar sobre tarifas de Trump, mas reagir aos impactos
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O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse aos parlamentares nesta terça-feira (11) que o argumento a favor do livre comércio ainda faz sentido, mas acrescentou que não é papel do banco central dos Estados Unidos comentar sobre tarifas ou políticas comerciais, mas reagir ao impacto que elas têm na economia.
“O caso padrão para o livre comércio… logicamente ainda faz sentido”, disse Powell em resposta a questionamento durante audiência perante o Comitê Bancário do Senado. “Não é trabalho do Fed fazer ou comentar sobre política tarifária… O nosso (papel) é tentar reagir a isso de uma forma pensada e sensata”, acrescentou.
A fala de Powell ocorre enquanto o governo Trump começa a implementar impostos de importação sobre diferentes países e commodities, adicionando uma nova dose de incerteza à batalha do Fed contra a inflação. A taxa de inflação nos EUA permanece mais de meio ponto percentual acima da meta de 2% do Fed.
O debate sobre como a combinação de políticas da administração impactará a economia aumentou a relutância do Fed em se comprometer com novos cortes nos juros até que fique claro quais políticas podem ser adotadas, quais podem ser implementadas e como elas vão influenciar uma economia que Powell descreveu como “em um lugar muito bom”.
Em resposta a perguntas sobre as taxas de hipotecas que continuam altas pelos padrões recentes, Powell disse que não havia como saber quando essas ou outras taxas de longo prazo controladas pelo mercado poderiam diminuir.
“Não sei quando isso vai acontecer”, disse Powell, observando que os rendimentos dos títulos de longo prazo mudam como resultado não apenas da política do Fed, mas das expectativas sobre inflação futura, dívida federal dos EUA e outros fatores.
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Powell foi questionado sobre uma ampla gama de tópicos, com os senadores se concentrando nas implicações das medidas do governo Trump para limitar ou eliminar o Consumer Financial Protection Bureau — agência encarregada de defender o consumidor de produtos financeiros — e outras questões.
Mas ele recebeu um voto de confiança de uma importante voz conservadora, com o republicano da Louisiana John Kennedy dizendo: “Eu queria agradecer a você e seus colegas” por proporcionar o “pouso suave” da alta inflação, que também conseguiu manter o desemprego baixo.
Sem pressa
Em comentários preparados para o comitê, Powell disse que “a economia está forte no geral e fez progressos significativos em direção às nossas metas nos últimos dois anos”, com uma taxa de desemprego de 4%, considerada próxima ao nível de pleno emprego, e uma inflação menor, embora ainda acima da meta.
“Não precisamos ter pressa para ajustar nossa postura de política monetária. Sabemos que reduzir a restrição da política monetária muito rápido ou de forma muito intensa pode prejudicar o progresso na inflação”, disse Powell, reiterando a linguagem usada depois que o Fed, em sua reunião de janeiro, manteve a taxa de juros e indicou que novos cortes dependerão da queda da inflação e da manutenção da saúde do mercado de trabalho.
As declarações iniciais de Powell mencionaram apenas indiretamente os “riscos e incertezas” que a economia enfrenta à medida que o novo governo de Donald Trump impõe novas tarifas de importação sobre países e produtos industriais, deporta imigrantes que têm sido uma fonte de crescimento recente da força de trabalho e avalia as próximas reformas tributárias e regulatórias.
“Estamos atentos aos riscos para ambos os lados do nosso mandato duplo”, disse Powell em referência às metas de inflação estável e pleno emprego. “A política monetária está bem posicionada para lidar com os riscos e incertezas que enfrentamos.”
O depoimento de Powell no Senado é o primeiro de dois dias de audiências no Capitólio, que acontecem no momento em que o Fed tenta entender como as políticas promulgadas e esperadas do presidente Trump impactam uma economia que, segundo muitos indicadores, já está apresentando bom desempenho.
Pisar com cuidado
Powell e outros membros do Fed sempre tomam cuidado para evitar julgamentos sobre a sensatez das ações do Executivo ou do Congresso, mantendo o foco em como a economia muda como resultado disso.
A possibilidade de tarifas elevadas sobre parceiros comerciais próximos, como México e Canadá, e sobre produtos industriais essenciais, como aço e alumínio, desencadeou um debate sobre as maneiras pelas quais tais impostos de importação causariam ou não inflação generalizada.
O governo ainda não divulgou um plano detalhado de impostos, gastos e desregulação, mas as próximas negociações sobre essas questões podem ter uma grande influência no desempenho da economia.
Por enquanto, os investidores leram dados recentes — em particular o relatório de emprego de janeiro, mostrando a taxa de desemprego caindo para 4% e um ritmo forte de aumentos salariais — como argumentos para menos cortes de taxa pelo Fed este ano.
Os mercados ainda preveem uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros pelo banco central dos EUA em junho, mas começaram a tirar da precificação quaisquer outros movimentos este ano.
Em sua reunião de janeiro, o Fed manteve a taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,5%, após cortar 1 ponto percentual nas últimas três reuniões de 2024.
Powell fará uma segunda rodada de depoimentos perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara na quarta-feira.