Donald Trump

Trump e Lava Jato têm ecos nos mercados

23 jan 2017, 10:14 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A última semana completa de janeiro começa com a maior potência mundial sob novo comando e a principal investigação contra corrupção no Brasil ainda sem dono. As incertezas sobre as políticas do governo Trump somam-se às dúvidas sobre o futuro da Lava Jato, impondo riscos aos mercados financeiros.

Afinal, o discurso de posse do republicano, na última sexta-feira, falhou em impressionar sobre as ações a serem adotadas por ele pelos próximos quatro (ou oito?) anos. Com um tom patriótico e mantendo o viés adotado na campanha, Trump defendeu que os EUA e os interesses do país estão em primeiro lugar para fazer a “América grande de novo”. Mas o impacto desse viés protecionista e nacionalista ainda soaram distantes.

As poucas novidades sobre os planos do governo Trump para impulsionar o crescimento econômico norte-americano pesam no dólar, que perde terreno para as moedas rivais, e fortalecem o ouro, que sobe pela quarta semana seguida. Os metais básicos também avançam, em meio aos planos de reconstruir a infraestrutura nos EUA. O petróleo recua.

Nas bolsas, Tóquio caiu (-1,30%), mas o restante da Ásia subiu, ao passo que o sinal negativo prevalece em Wall Street e também nas principais praças europeias. Os investidores avaliam se o rali nos mercados após a vitória de Trump, em novembro, não foi muito longe e muito rápido e agora esperam por evidências das promessas de estímulo fiscal pela nova administração.

Afinal, o foco inicialmente voltado às relações comerciais dos EUA pode comprometer o objetivo de crescer 4% ao ano. Com apenas dois dias na Casa Branca, Trump anunciou que irá continuar com os planos de renegociar o Nafta, o tratado norte-americano de livre comércio assinado com o México e o Canadá há mais de 20 anos e que prevê isenção de tarifas de importação, ou taxas muito baixas aos produtos dos três países.

No noticiário local, o fim de semana pouco avançou sobre quem substituirá Teori Zavascki na relatoria da Operação. Em uma rápida declaração durante o enterro do ministro, o presidente Michel Temer afirmou que irá esperar a indicação do relator pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para então decidir quem irá substituir a vaga deixada na Corte.  

Desse modo, o mais provável é que prevalecerá um sorteio entre os ministros da 2ª Turma – Celso de Mello, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Gilmar Mendes – mas também a questão pode ser decidida em plenário, entre todo o colegiado. Por enquanto, todos aguardam os primeiros sinais da presidente do STF, Cármen Lúcia, que já anunciou que só falará sobre o assunto quando retornar a Brasília, no mês que vem.

E essa falta de sinalização deve redobrar a cautela ente os investidores. A tragédia envolvendo Teori tem uma interpretação dúbia nos mercados domésticos. De um lado, aumentam as incertezas no cenário brasileiro, gerando especulações sobre a Lava Jato e o andamento da Operação, o que pode demandar uma postura mais defensiva nos negócios.

De outro, a homologação da delação premiada de executivos da Odebrecht, inicialmente prevista para fevereiro, deve atrasar. Isso tende a abrir espaço ao governo Temer para avançar nas reformas econômicas sem sofrer interferência da divulgação de informações sobre a participação de políticos (inclusive o próprio Temer) em casos de corrupção.

Porém, essa premissa mais favorável à tomada de risco ignora a possibilidade de vazamentos – tal qual ocorreu em meados do mês passado. Assim, pode até haver um atraso, mas não uma interrupção do processo.

Com o foco dos mercados domésticos concentrado nessa questão, os negócios locais não devem descartar o sinal vindo do exterior, pois à medida que a confiança com os EUA for resgatada, o dólar tende a se fortalecer e o Federal Reserve tende a reforçar os sinais de aperto monetário mais intenso em 2017. Os investidores devem continuar testando a intenção do Fed de subir os juros norte-americanos ao menos três vezes neste ano.  

Enquanto isso, os investidores se debruçam sobre a agenda econômica, que reserva uma semana mais leve de indicadores e eventos. O grande destaque, no exterior, é a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no quarto trimestre de 2016, na sexta-feira.

Os números podem sinalizar qual é a atual tração da atividade norte-americana e dar pistas sobre qual deve ser a resposta do Federal Reserve na condução da taxa de juros ao ritmo de crescimento. No mesmo dia, sai a leitura final deste mês do sentimento do consumidor nos EUA.

Antes, destaque para os números do setor imobiliário norte-americano, a partir de amanhã. Hoje, o calendário está vazio tanto lá fora quanto aqui e deve seguir mais fraco no Brasil nesta semana.

A Pesquisa Focus (8h30) do Banco Central junto a economistas deve ajustar, para baixo, a expectativa de inflação neste ano. O BC volta à cena nos próximos dias para divulgar a nota do setor externo e sobre as operações de crédito em dezembro.

Amanhã, saem dados sobre os setores industrial e de serviços na zona do euro e, na quarta-feira, é feriado na cidade de São Paulo, o que mantém os mercados domésticos fechados. Também tem início, na sexta-feira, as festividades na China pela chegada do ano do Galo de Fogo, o que paralisa os negócios em Xangai e em Hong Kong por vários dias.

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