Trump deposita esperança em comícios que podem selar sua derrota
Os esforços do presidente dos Estados Unidos para mais uma vez desafiar as pesquisas e conseguir uma segunda vitória dependem de uma marca registrada da primeira: comícios de campanha barulhentos que Donald Trump vê como um sinal crucial de entusiasmo dos eleitores. No entanto, institutos de pesquisa dizem que esses eventos podem apenas cimentar sua derrota.
Trump fez três comícios na segunda-feira, todos na Pensilvânia, com mais três agendados na terça-feira e até cinco ou seis por dia esperados para o fim de semana.
Os comícios são adequados ao showman com raízes nos reality shows: música estridente, produção inteligente, montagens de vídeo, discursos iniciais para animar o público, Air Force One como pano de fundo e o próprio presidente como atração principal.
Os participantes explodem em gritos e aplausos com a chegada do presidente, e republicanos das cidades visitadas dizem que é diferente de qualquer evento político que já viram.
Trump realizou cinco comícios na Flórida e na Pensilvânia desde sua recuperação do coronavírus, mais do que em qualquer outro estado, além de repetidas visitas à Carolina do Norte, Wisconsin e Arizona.
O democrata Joe Biden manteve uma agenda de viagens limitada, tendo realizado dois eventos desde o debate da última quinta-feira. E, quando participa de um evento, o número de pessoas permitido é limitado, muitas vezes realizados como comícios drive-in, para evitar a propagação do coronavírus.
Biden está à frente de Trump em cerca de 8 pontos percentuais nas pesquisas nacionais, de acordo com a RealClearPolitics. Os dois estão essencialmente empatados na Flórida, um estado crítico para uma possível vitória, e Biden tem pequena vantagem na maior parte dos estados sem maioria democrata ou republicana, os chamados “swing states”.
‘Onda vermelha’
Trump zomba do pequeno número de pessoas nos eventos de Biden, se mostra maravilhado com as multidões que comparecem aos seus comícios e cita isso como um sinal de uma “onda vermelha” iminente, em referência à cor que simboliza o Partido Republicano.
Mas o impacto dos comícios está longe de ser claro. Republicanos dizem que coletam dados dos participantes e aumentam sua base, enquanto democratas dizem que registram aumento das doações e também de voluntários, e se perguntam se Trump está apenas pregando para o coro.
A realização de comícios em desafio às recomendações na pandemia aumenta a desaprovação dos eleitores quanto à forma como o presidente administra a crise de saúde – o que sustenta o argumento-chave de Biden de que Trump conduziu mal a primeira grande crise de sua presidência. E as pesquisas dizem que há poucas evidências de aumento do apoio com os comícios.
“Os rápidos comícios de Trump, embora claramente bem recebidos pela base, não contribuíram em nada para inclinar a balança na direção do presidente Trump”, disse Tim Malloy, pesquisador da Universidade de Quinnipiac.
Alan Abramowitz, professor da Universidade Emory que estudou o impacto dos comícios de Trump nos ciclos de 2016 e 2018, descobriu que esses eventos não tiveram influência nos números nos estados onde foram realizados. Ele espera o mesmo em 2020.
“Não parece que se consiga nenhum benefício adicional”, disse.
Biden disse na segunda-feira na Pensilvânia que o motivo de sua estratégia ser diferente é que “não estamos lançando superpropagadores”, referindo-se a eventos que transmitem o coronavírus em massa. “Todo mundo está usando máscara e tentando o melhor para estar socialmente distante”, disse.
Trump parece se deleitar com as milhares de pessoas que se aglomeram em cada comício, muitas de fora do estado, e com a atmosfera de um show de rock.
“O comício sempre foi e é uma parte importante da campanha. Coletamos uma quantidade enorme de dados de eleitores desses comícios”, disse Tim Murtaugh, diretor de comunicações da campanha de Trump.