Internacional

Trump aproveita divisão na AL para indicar aliado no BID

18 jun 2020, 14:25 - atualizado em 18 jun 2020, 14:25
donald Trump
Na terça-feira, os EUA apresentaram Mauricio Claver-Carone, assessor sênior do presidente Donald Trump (Imagem: REUTERS/Christian Hartmann)

A decisão sem precedentes do governo Trump de concorrer à presidência do banco de desenvolvimento mais importante da América Latina surpreendeu até aliados próximos, em meio à crescente divisão política na região que tenta conter o avanço do coronavírus.

Na terça-feira, os EUA apresentaram Mauricio Claver-Carone, assessor sênior do presidente Donald Trump, como candidato para o comando do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com sede em Washington.

Embora Claver-Carone se apresente como sangue novo em uma instituição que teve apenas quatro presidentes em seis décadas, sua eventual presidência também significaria quebrar uma tradição não escrita de que esse banco-chave é liderado por um latino-americano.

A instituição, que projeta emprestar US$ 15 bilhões neste ano para projetos em áreas como infraestrutura, saúde e educação em 26 países da América Latina e do Caribe, tem grande peso no combate à pandemia e à recessão devastadora esperada na região, que possui 8% da população mundial, mas cerca da metade das novas mortes por coronavírus.

A escolha do cubano-americano colocaria um aliado de Trump no BID pelos próximos cinco anos, mesmo que o presidente perca a reeleição em novembro.

Os EUA aproveitaram a oportunidade depois que as três maiores economias da América Latina não conseguiram escolher um candidato de consenso.

Enquanto a Argentina conseguiu o apoio do México para Gustavo Beliz, assessor do presidente Alberto Fernández, o Brasil planejava apresentar seu próprio candidato, Rodrigo Xavier, ex-executivo do UBS e do Bank of America.

Apesar de ter uma participação combinada de 23% no banco e de serem aliados históricos, as relações entre Brasil e Argentina se deterioraram nos últimos meses em meio a um choque ideológico entre a coalizão de esquerda de Fernández e o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto a Argentina conseguiu o apoio do México para Gustavo Beliz, assessor do presidente Alberto Fernández, o Brasil planejava apresentar seu próprio candidato, Rodrigo Xavier, ex-executivo do UBS e do Bank of America (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

Fernández, que assumiu o poder em dezembro, ainda não teve nenhuma conversa telefônica divulgada com Bolsonaro.

“Existe falta de união na América Latina”, disse Veronica Ortiz, presidente do Conselho Mexicano de Relações Exteriores, na Cidade do México.

“Isso dificulta o consenso e criou uma janela de oportunidade para Trump. Temos visto Trump, que é um grande cético em relação às organizações multilaterais, tentando colocar pessoas ideologicamente próximas a ele em alguns desses espaços.”

Os governos do Brasil, México e Argentina não sabiam antecipadamente sobre o plano dos EUA de indicar Claver-Carone, segundo pessoas com conhecimento do processo.

“Ninguém esperava que os Estados Unidos ‘jogassem o chapéu no ringue’”, disse Benjamin Gedan, vice-diretor do programa da América Latina no Wilson Center, um think tank de Washington.

“O fracasso dos latino-americanos em se unir em torno de um candidato abriu as portas para uma abordagem alternativa.”

Em comunicado conjunto e conciso, os ministérios da Economia e Relações Exteriores do Brasil disseram na quarta-feira que o país recebeu positivamente o anúncio da candidatura americana, destacando “o firme comprometimento do governo dos EUA”com o futuro do BID.

Mas o país esperava obter apoio dos EUA para Xavier, segundo duas pessoas a par do assunto. O comunicado do governo brasileiro não declarou explicitamente se o país apoiará Claver-Carone.

Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas, escreveu em tuíte que a decisão de Trump foi um “tapa na cara” de Bolsonaro, mostrando que a candidatura do Brasil não foi levada a sério.

Uma latino-americano tradicionalmente ocupa o cargo de presidente do BID, com um americano no cargo de vice-presidente executivo. A questão de quem ocupará esse cargo também precisa ser respondida.

“Essas são coreografias diplomáticas realmente delicadas”, disse Gedan, que atuou como diretor da América do Sul no Conselho de Segurança Nacional do governo Obama, sobre a sucessão no BID. “O governo Trump caracteristicamente alterou essa dinâmica.”

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