Trump aguarda resposta da China antes de aplicar tarifas de 104%

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, disse nesta terça-feira (8) que está esperando uma resposta da China antes que as tarifas de mais de 100% entrem em vigor, em um sinal de que pode estar aberto a negociações de última hora com a segunda maior potência econômica do mundo.
Os mercados globais se estabilizaram depois de dias de liquidação provocada pelas taxas de Trump, que aumentaram os temores de recessão e derrubaram uma ordem de comércio global que está em vigor há décadas. Os índices acionários dos EUA abriram em alta acentuada após uma venda contundente que eliminou trilhões de dólares desde a semana passada.
Trump já implementou uma tarifa de 10% sobre quase todas as importações para o maior mercado consumidor do mundo, e tarifas específicas de até 50% sobre muitos parceiros comerciais devem entrar em vigor na quarta-feira.
A China se recusou a ceder ao que chamou de “chantagem” e prometeu “lutar até o fim” depois que Trump ameaçou aumentar as tarifas para 104% em resposta à decisão da China de igualar as tarifas “recíprocas” anunciadas por Trump na semana passada.
Trump indicou que uma solução pode ser possível.
“A China também quer muito fazer um acordo, mas não sabe como começar. Estamos aguardando a ligação deles. Isso vai acontecer!”, disse ele nas mídias sociais.
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Dezenas de países estão oferecendo concessões para evitar as tarifas. O governo de Trump diz que já iniciou conversações com vários deles até o momento, incluindo Japão e Coreia do Sul.
A China está se preparando para uma guerra de atrito, e produtores estão fazendo alertar sobre lucros e procurando planejar novas fábricas no exterior. Citando o aumento dos riscos externos, o Citi reduziu sua previsão de crescimento do PIB da China em 2025 de 4,7% para 4,2%.
Algumas empresas estão alertando que aumentarão os preços.
A fabricante de chips Micron disse a clientes que adotará uma sobretaxa relacionada às tarifas a partir de quarta-feira, enquanto os varejistas de roupas dos EUA disseram que estão atrasando os pedidos e adiando as contratações.
Os tênis de corrida fabricados no Vietnã, que hoje são vendidos no varejo por US$155, custarão US$220 quando a tarifa de 46% imposta por Trump a esse país entrar em vigor, de acordo com um grupo do setor.
Os consumidores estão estocando enquanto podem. “Estou comprando o dobro de qualquer coisa – feijão, enlatados, farinha, o que for”, disse Thomas Jennings, 53 anos, enquanto empurrava um carrinho de compras pelos corredores de um Walmart de Nova Jersey.
Enquanto as duas maiores economias do mundo trocam golpes, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou de “ignorantes e rudes” os comentários feitos pelo vice-presidente JD Vance em uma recente entrevista à Fox News.
Ao defender as tarifas de Trump, Vance criticou o modelo econômico dos EUA por prejudicar seus próprios trabalhadores: “Pedimos dinheiro emprestado aos camponeses chineses para comprar as coisas que esses camponeses chineses fabricam.”
O Vietnã solicitou um adiamento de 45 dias, enquanto a Indonésia anunciou concessões para as importações dos EUA, incluindo a redução de impostos sobre produtos eletrônicos e aço.
Os mercados de ações encontraram uma base mais firme na terça-feira, depois de alguns dias angustiantes para os investidores, o que levou alguns líderes empresariais, incluindo aqueles próximos a Trump, a pedir ao presidente que reverta o curso.
As ações europeias saíram de mínimas de 14 meses após quatro sessões consecutivas de fortes vendas, enquanto os preços globais do petróleo se estabilizavam depois de caírem para os menores níveis em quatro anos.
Europa busca contramedidas
A Comissão Europeia, por sua vez, está pensando em contratarifas de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja, nozes e salsichas, embora outros itens em potencial, como o uísque bourbon, tenham sido deixados de fora da lista, segundo um documento visto pela Reuters. As autoridades disseram que estão prontas para negociar.
O bloco de 27 membros está lutando com tarifas sobre automóveis e metais já em vigor, e enfrenta uma tarifa de 20% sobre outros produtos na quarta-feira. Trump também ameaçou impor tarifas sobre as bebidas alcoólicas da UE.