Trigo: Clima faz preços dispararem 16% em maio, maior avanço desde a Guerra na Ucrânia; quais ações perdem?
O clima adverso fez com que a média dos contratos preços futuros do trigo disparassem expressivos 16% na Bolsa de Chicago (CBOT) em maio, maior alta desde o início da guerra entre Ucrânia e Rússia.
A Rússia, principal exportador global, teve sua estimativa para a produção na safra 2024/2025 cair de 85,7 milhões para 82,1 milhões de toneladas, pela consultoria agrícola Sovecon.
Por lá, uma importante região do país, que responde por 30% – 40% da produção nacional, enfrenta uma seca que algumas consultorias climáticas apontam como a pior seca em 45 anos.
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O analista da Safras & Mercado, Elcio Bento, explica que de abril para maio, houve uma inversão da tendência de baixa dos preços no mercado que vinha desde julho de 2023, onde os excedentes russos eram os maiores da história e o escoamento dos grãos da Ucrânia pelo Mar Báltico, que disponibilizava o cereal a preços menores para os moinhos europeus.
“A quebra da safra russa é o principal vetor para essa alta dos preços, que gira em torno de 10% para os grandes países exportadores. O que confirma essa nova tendência fica por conta dos fundos especuladores estarem vendendo contratos vendidos. Quando o agente entra vendido no mercado, ele, por exemplo, vende a 100 para recomprar a 80 e ganhar 20, e se eles estão comprando neste momento, quer dizer que eles não acham que o mercado continuará caindo “, aponta.
Para Bento, novas altas vão depender da confirmação das perdas projetadas.
“Além disso, a entrada da safra do hemisfério Norte, onde está 90% da produção global começa a ingressar em junho, o que amenizaria essa tendência de alta”, conclui.
O cenário do trigo no mundo
Quanto ao cereal na Europa, Jonathan Pinheiro, analista da StoneX, traça um paralelo com o cenário vivido pelo Rio Grande do Sul em 2023, que conviveu com chuvas em excesso ao longo de vários meses, sem nenhum período mais seco até a colheita para que exista uma recuperação. O cenário é visto em países como França, Alemanha e Polônia.
“Isso pode afetar principalmente a qualidade do cereal produzido, mesmo que não necessariamente ocorra uma redução tão grande das produtividades”, coloca.
Neste contexto, ele afirma que grandes exportadores estão tendo problemas sérios em sua safra, o que pode reduzir a produção global que o USDA trouxe 10 milhões de toneladas maiores para 2024/25, no seu último relatório de maio, e agravar ainda mais a situação de estoques apertados que há 5 temporadas consecutivas.
Austrália e Canadá, que enfrentaram este cenário de clima mais seco, apresentaram uma recuperação no decorrer do plantio. “Nos EUA, a área de trigo inverno está para ser colhida, com o estado de Kansas, principal região produtora, apresentando condições piores. Mas no geral, o país conta com uma umidade dentro da média”, resume.
E o trigo no Brasil?
No Rio Grande do Sul, maior estado produtor de trigo, as chuvas não afetaram a produção, já que o grão não havia sido plantado. No entanto, os produtores convivem com um atraso na janela de plantio, justamente pelos solos encharcados, que impossibilita a entrada de máquinas no campo.
“Se a produção atrasar, haverá um encurtamento na safra de soja, o que pode fazer com que produtores desistam de plantar o trigo, então existe um alerta. Por outro lado, os preços para o trigo ainda são atrativos para o produtor que viu sua safra quebrar no ano passado, assim como uma safra de soja que não contou com os preços esperados. Com isso, o produtor pode ver no trigo a possibilidade de recuperar um pouco dessas perdas”, discorre Bento.
Bento ressalta que as enchentes no estado gaúcho impactaram muito a cadeia produtiva, atingindo diversos moinhos de forma direta e indireta. “Em termos nacionais, temos uma safra que terá uma queda de área significativa. Em resumo, o Norte/Nordeste convive com seca e o Sudeste/Sul enfrenta muitas chuvas”, vê o analista da Safras.
Quais ações perdem com a alta do trigo?
Na avaliação da Genial Investimentos, a entrada safra do Hemisfério Norte no mercado deve resultar em uma estabilização de preços.
No entanto, caso às incertezas quanto ao clima persistam, novas altas podem ser vistas, sendo negativo para empresas como Ambev (ABEV3) e M. Dias Branco (MDIA3).