Trigo argentino seguirá competitivo com “retenciones”; ao Brasil, distância ajuda
A competitividade internacional do trigo argentino não será afetada com o aumento das “retenciones” estabelecido pelo presidente Alberto Fernández, estendidas para os demais grãos exportados. Muito menos para o Brasil, destino mais próximo da origem e, portanto, com menor custo agregado de frete para os produtores do país.
O governo elevou de aproximadamente 7% para 9% o imposto a ser gerado no embarque, margem muito pequena para influir negativamente, avalia Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
A “montanha de trigo” produzida na Argentina, explica Barbosa, algo como 19 milhões de toneladas, com vendas mundiais, é volume suficiente para absorver o aumento de 2% na taxa que ficará como governo do país para ajudar atenuar o déficit e gerar divisas para, inclusive, facilitar a negociação da dívida, em default.
“Não há a menor possibilidade de eles (os triticultores) repassarem para os preços”, diz o presidente da indústria de moinhos, lembrando também que os produtores do país não querem sair do limite da competitividade que possuem no Brasil frente a outros fornecedores.
O governo Bolsonaro abriu importações de 750 mil toneladas de trigo de outras procedências.
Cerca de 85% do cereal usado no processamento de pães, massas, biscoitos brasileiros e farinha vem do parceiro do Mercosul, aproximadamente 7 milhões de toneladas importadas em 2019. O Brasil consome de 11,5 a 12 milhões/t e produziu na última safra entre 5,1 e 5,4 milhões/t.
Uma vez que o grão argentino não perderá competividade, Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, também descarta uma migração de área plantada para outras culturas de inverno.
Cenário menos complicado do que para a soja, com a retenção de taxa sobre o volume exportado que deve ser ao redor de 27%.