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Trigo: Área plantada no Brasil deve crescer 5,1% na safra 2023/2024, diz Safras

23 mar 2023, 12:48 - atualizado em 23 mar 2023, 12:48
M. Dias Branco
Segundo a consultoria, o atraso da colheita da soja, os custos menores e uma maior rentabilidade para o trigo têm influenciado o avanço (Imagem: Pixabay/WeAppU)

O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra 2023/2024 de trigo, publicado nesta quarta-feira (22) pela consultoria Safras & Mercado, sinaliza para um novo incremento de área. As terras cobertas com lavouras de trigo devem chegar a 3,465 milhões de hectares, um avanço de 5,1% em relação aos 3,297 milhões de hectares da temporada passada.

Entre os principais fatores que motivam esse crescimento na área do cereal estão: o atraso da colheita da soja, o custo de produção menor e a consequente expectativa de margens melhores devido à manutenção de preços firmes. Nas regiões em que o trigo compete com o milho safrinha, o atraso da soja deixou a janela do plantio de milho apertada. Por conta disso, muitos produtores vão optar pelo cereal de inverno.

Segundo estimativa da consultoria, o potencial de produção, considerando uma produtividade dentro da normalidade e sem percalços climáticos, deve chegar a 12,07 milhões de toneladas, superando em 525 mil toneladas a safra anterior.

O Rio Grande do Sul deve seguir como o maior estado produtor, com um potencial de 6,250 milhões de toneladas (4,0%), seguido por Paraná, com 4,080 milhões de toneladas (+4,6%); Santa Catarina, com 473 mil toneladas (+2,8%); São Paulo, 455 mil toneladas; Minais Gerais, 400 mil toneladas; Goiás e Distrito Federal, com 230 mil toneladas, Bahia; com 100 mil toneladas; e Mato Grosso do Sul, com 82 mil toneladas.

Na safra passada, o Rio Grande do Sul produziu sozinho 6 milhões de toneladas. Na comparação com anos anteriores, a produção total do Brasil não conseguia atingir este volume.

“O Brasil cresceu na produção, e o principal fator novo para esse crescimento é a exportação. Com excedente de produção, o produtor pode vender ao preço que o mercado internacional estiver pagando”, explica Elcio Bento, analista de trigo na Safras.

Ele ressalta que o primeiro impacto deste cenário é que o Brasil vai importar menos, tendo em vista a fraca safra da Argentina e o aumento na produção doméstica. Só haveria opções no Hemisfério Norte, mas com mais custos.

Preocupações

O maior temor em relação à possíveis perdas de produção é na fase de floração e enchimento de grãos, período crítico de sensibilidade a geadas.

Com o fenômeno La Niña dando lugar ao El Niño, a expectativa é de um inverno menos rigoroso. Por outro lado, o alerta fica para a possibilidade de maior ocorrência de chuva no período da colheita. As chuvas podem não trazer grandes impactos sobre a quantidade produzida, mas afetam a qualidade, a exemplo do que aconteceu no Paraná neste ano.

“Para este ano, há um excesso de oferta no trigo russo, uma safra brasileira bastante volumosa e uma Argentina extremamente prejudicada pela estiagem”, afirma Elcio. Considerando a temporada 2022/2023, foi um período de quebras significativas, especialmente na Ucrânia e Argentina. No leste europeu, as perdas foram causadas pelo conflito com os russos, que dificultou o manejo da cultura.

Ainda no final da temporada 2021/2022, houve dificuldade de exportar e, por conta disso, aquela safra de 33 milhões de toneladas acabou não sendo exportada em sua totalidade. Para a próxima safra, ele destaca que há expectativa de queda na produção da Ucrânia em praticamente metade do que foi produzido em 2021/2022.

Por outro lado, também ocorreram aumentos consideráveis nessa temporada em alguns países. Segundo Elcio, a Índia está começando a colheita de uma safra que deve vir sem grandes prejuízos. A Rússia tem uma safra volumosa e com preços muito baixos, logo após a reabertura nas exportações. O Canadá tinha um problema parecido com o da Argentina, com quebras devido ao clima, e agora recupera sua safra.

Somente na Rússia e Cazaquistão, há um aumento de 22 milhões de toneladas presentes no mercado. Se comparados com a Ucrânia, que teve perda de aproximadamente 16 milhões de toneladas, Elcio analisa que não há uma escassez global do cereal, mesmo com a expressiva quebra ucraniana. No total, a produção global de trigo aumentou 9,7%, até agora, na temporada 2022/23.

Desde 2014/2015 até 2019/2020, os estoques globais de trigo aumentaram, pois havia muito mais cereal produzido do que consumido. Quanto aos preços, o grande catalisador do mercado foi a guerra entre Rússia e Ucrânia. Para o analista, resta saber se os patamares de preço anteriores a guerra retornarão em algum momento.

Estados Unidos

Os Estados Unidos têm perdido sua participação no mercado internacional, mas ainda possuem suas bolsas, que são referência no mundo todo. Em relação ao abastecimento, o país tinha na temporada 2018/2019 quase 30 milhões de toneladas em estoques. Em 2022/23, a expectativa é de 15,467 milhões de toneladas em estoques, segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Neste mesmo período, as exportações também foram reduzidas de 25,502 milhões de toneladas para 21,092 milhões de toneladas. A produção, por sua vez, decaiu de 51,306 milhões de toneladas para 44,902 milhões de toneladas. Um dos principais motivos da queda é a disputa da área do cereal com a soja e o milho, que aumentam cada vez mais no país.

A Rússia e a Austrália têm preços muito baixos e isso afeta as cotações para a exportação norte-americana. Segundo Elcio, fatores que envolvem a guerra entre Rússia e Ucrânia ocasionam na queda das cotações.

De acordo com o analista, o corredor de grãos no Mar Negro, que permite a exportação de portos ucranianos, foi renovado por 60 dias justamente pela vontade da Rússia de ver como será o cenário para a entrada da próxima safra. Com o fim do ciclo em maio, já será possível ter uma projeção para a próxima safra.

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
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