Três recados que o Banco Central deixa para o governo e o mercado na ata do Copom
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (9) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizado na semana passada. Na ocasião, a autoridade monetária optou pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, apesar das pressões do governo para redução dos juros.
No documento de hoje, a autoridade monetária manteve o tom apresentado no comunicado e voltou a dizer que “apesar de ser um cenário menos provável”, não hesitará em retomar a alta na taxa básica de juros caso a inflação acelere.
Além disso, o Banco Central aproveitou para reforçar alguns recados tanto para o mercados, quanto para o governo, que vem pressionando a autarquia a reduzir a Selic mais rápido.
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Recados para o governo e o mercado
- Arcabouço fiscal não é garantia de Selic baixa
No mês passado, o ministro Fernando Haddad apresentou a proposta de arcabouço fiscal para o Congresso. Desde então, tem se apostado que a nova regra fiscal que substitui o teto de gastos irá ajudar o Banco Central a reduzir a Selic.
No entanto, a ata traz uma frase que o presidente Roberto Campos Neto já repetiu mais de uma vez: “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal”. O texto reforça que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras.
Ainda assim, o Banco Central aproveitou para dar um aceno positivo ao governo e avaliou que a apresentação do arcabouço fiscal reduziu a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública. “A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas”, diz na ata. - A roda da inflação vai girar no segundo semestre
Hoje, a inflação acumulada em 12 meses está dentro do teto da meta. Os dados do Índice de Preços as Consumidor Amplo (IPCA) de março mostram um acumulado de 4,65%, diante de uma meta de 4,75% para 2023.
Os números animaram o mercado, mas o Banco Central pede serenidade. Para o segundo trimestre, é, sim, esperada uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses em função do efeito base do ano anterior. Por outro lado, o segundo semestre deve ser marcado por uma volta na alta dos preços.
“No segundo semestre, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, aponta o texto.
Além disso, as expectativas de inflação do Banco Central seguem desancoradas das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). - Ninguém prometeu queda nos juros
“Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75%”. Essa frase persegue o mercado desde setembro do ano passado e deve continuar por mais um tempo.
Apesar de manter a indicação de que um cenário de alta dos juros é menos provável, o Copom bate na tecla de que seguirá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da Selic por período prolongado conseguirá controlar a inflação.
A sinalização é de que o período de manutenção pode estar com os dias contados, mas que não vai ser na próxima reunião da a Selic passa para um patamar mais baixo.