Transmissão Paulista poderia usar melhor o dinheiro por vir (em dividendos, por exemplo)
A Transmissão Paulista (TRPL4) tem tudo para agradar os investidores, mas corre o risco de decepcioná-los. A avaliação é do BTG Pactual (BPAC11), em relatório assinado por João Pimentel e Fillipe Andrade. O motivo é o que a concessionária fará com uma dinheirama que receberá nos próximos anos.
Uma parte dos recursos, R$ 892 milhões, refere-se à recomposição de tarifas das transmissoras de energia, que deveria ocorrer em 2018, mas foi adiada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Apenas em março, o órgão divulgou os dados preliminares para recompor as tarifas.
Assim, a Transmissão Paulista terá direito a um reajuste de quase R$ 900 milhões, diluídos até 2023.
Outra parte decorre de uma decisão judicial da 5ª Corte Federal de Brasília, e envolve uma briga do setor elétrico em torno dos critérios para indenização da RBSE (Rede Básica Sistema Existente) e remonta a 2014, quando a então presidente Dilma Rousseff editou a polêmica Medida Provisória 579.
Transformada, depois, na Lei 12.783/13, seu objetivo era, a um só tempo, reduzir as tarifas de energia para os consumidores finais, enquanto antecipava a renovação de concessões que venceriam nos próximos anos.
Tudo pago
Uma das formas encontradas para baixar o preço da tarifa foi retirar, de seu cálculo, o valor destinado à amortização e depreciação dos ativos das companhias anteriores a 2000.
Assim, na prática, a MP 579 decretava que, para todos os efeitos de reajuste de tarifas, toda a infraestrutura do setor elétrico anterior a 2000 já estava paga – mesmo que ainda não estivesse.
Para as empresas que, de fato, ainda não havia amortizado os investimentos, foi prevista uma indenização – a RBSE, alvo de diversas contestações.
A decisão da corte de Brasília anulou uma restrição que impedia que as transmissoras obtivessem toda a indenização da RBSE que pleiteavam. Mais especificamente, a Aneel foi obrigada a incluir, no cálculo, o custo de capital para os acionistas (ke).
Segundo o BTG Pactual, os dois episódios adicionam um valor presente líquido à Transmissão Paulista de R$ 1,18 bilhão. O montante corresponde a R$ 1,8 por ação, sendo R$ 0,60 da recomposição de tarifas referentes a 2018, e R$ 1,20 da inclusão do Ke no cálculo da RBSE.
Hora de repartir
Seria uma boa notícia para os investidores, se, na opinião do BTG Pactual, eles fossem efetivamente beneficiados.
Segundo os analistas, a situação permitiria que as ações da concessionária fossem negociadas por 7% de Taxa Interna de Retorno, ao mesmo tempo em que gerassem um dividend yield de dois dígitos nos próximos anos.
“Apesar de ser um bom desdobramento, sua recente participação em leilões greenfield não entregou, em nossa opinião, retornos tão excitantes”, afirmam os analistas.
“Com o excesso de fluxo de caixa oriundo da RBSE, estaríamos mais otimistas, se víssemos uma melhor alocação de capital ou dividendos mais robustos”, concluem.
Por isso, o BTG Pactual reforçou sua recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 22 para os próximos 12 meses. A cifra representa um potencial de valorização de 5,2% sobre a cotação usada como referência pelo banco.
Veja o fato relevante da Transmissão Paulista sobre a revisão de tarifas.