Opinião

Tragédia nos EUA desperta discussão sobre os perigos do day trade

11 jul 2020, 12:05 - atualizado em 12 jul 2020, 21:36
Mercados
A afirmação parece óbvia, praticamente intuitiva, mas por incrível que pareça muita gente ainda cai no erro de investir sem saber o que está fazendo (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

“O risco vem de não saber o que você está fazendo”. As palavras são do megainvestidor Warren Buffett, não à toa conhecido como “sábio de Omaha”.

A afirmação parece óbvia, praticamente intuitiva, mas por incrível que pareça muita gente ainda cai no erro de investir sem saber o que está fazendo.

Ninguém deveria se expor a riscos sem entender alguns princípios básicos ou, pelo menos, ter alguém para ajudar. Desmistificar o mercado financeiro e democratizar o acesso às plataformas de investimento para que cada vez mais pessoas percam o medo de investir é um objetivo nobre, mas não sem antes estabelecer a importância de obter conhecimento na área.

Cautionary tale

Esta reflexão não surge num vácuo. Recentemente um jovem trader americano cometeu suicídio por acreditar ter sofrido prejuízo em suas operações.

O ocorrido se torna então um “cautionary tale”, isto é, uma história que serve de alerta para algum perigo. Neste caso, o de investir no mercado financeiro sem antes investir em conhecimento. 

Alex Kearns era um jovem de 20 anos que começou a investir em ações durante a quarentena. No dia 12 de junho, o rapaz se suicidou por achar que tinha perdido quase US$ 750 mil no mercado de opções.

Para sua família, ele deixou um bilhete de quatro parágrafos na tela do computador que dizia que sua intenção nunca havia sido aceitar um risco daquele tamanho e que ele “não tinha ideia do que estava fazendo”. 

“Como pode um estudante sem renda ser capaz de usar até um milhão de dólares emprestados pela corretora?”, indagou o rapaz na sua carta. 

Como se a história não fosse trágica o suficiente, na realidade Kearns confundiu o prejuízo potencial em uma das pernas da operação com o resultado do investimento, acreditando ter sofrido perdas quando na realidade sua conta continuava com um saldo positivo de US$16 mil.

Os cofundadores da corretora online utilizada pelo rapaz se declararam “devastados” com a notícia e prometeram expandir os recursos educacionais e adotar novos critérios antes de permitir operações com opções sofisticadas pelos clientes.

Ainda que seja um caso extremo, Alex não está sozinho no pânico causado pela inexperiência.

A democratização dos investimentos e o aumento no número de pessoas físicas na bolsa tem sido um tema explorado desde a nossa primeira coluna. 

Na segunda, abordamos o como a revolução digital mudou para sempre o mercado financeiro, tornando o mundo dos investimentos mais acessível. 

Considerando o crescimento exponencial no número de pessoas físicas na bolsa – já são quase 2,5 milhões de CPFs – e que a cultura do investimento ainda é um fenômeno muito recente no Brasil, não parece exagero afirmar que temos um número cada vez maior de investidores iniciantes que não compreendem plenamente o mundo no qual estão adentrando. 

Todos têm que começar de algum lugar, é verdade, mas não basta oferecer uma plataforma para que você opere sozinho sem que tenha o suporte necessário para entender o que você está fazendo, seja através de uma boa educação financeira ou de uma boa assessoria. 

Em uma metáfora interessante, o diretor de alocação de ativos da Pacific Life Fund Advisors, Max Gokhman, comparou os investidores profissionais a pilotos de jumbos, e os pequenos investidores a figura mitológica de Ícaro que alçou voo com suas asas de cera.

“Sabemos que podemos mudar de altitude para cima e para baixo, e temos sistemas sofisticados para alterar nossa exposição, mas Ícaro só sobe, se aproximando mais e mais do sol, até que inevitavelmente venha a cair”, disse Gokhman. 

Saúde financeira & Saúde mental

Estresse, pressão, euforia… As emoções oscilam mais que a própria bolsa e podem ser suas piores inimigas na hora de operar.

De acordo com os estudos conduzidos por Andrew Lo, professor de finanças do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as consequências sobre a psicologia de investidores que estão dando seus primeiros passos incluem medo, ansiedade, frustração e decepção, e até mesmo sintomas de distúrbio de estresse pós-traumático para aqueles que sofreram grandes prejuízos.

Strees saúde mental
Estresse, pressão, euforia… As emoções oscilam mais que a própria bolsa e podem ser suas
piores inimigas na hora de operar (Imagem: Pixabay)

A sua saúde financeira é essencial para a sua saúde mental e vice-versa. Quando uma não anda bem, pode impactar diretamente na outra até se tornar um círculo vicioso.

Daniel Braga, sócio BRA, ressalta a importância da preparação psicológica para o trade. Chefe da mesa de renda variável, tem contato diário com traders e percebe que os melhores resultados vem das mentes mais preparadas. Ficar em frente ao computador e buscar os melhores trades através da alavancagem é um caminho perigoso.

Basta alguns tropeços para você literalmente quebrar. Daniel destaca também a importância de buscar conhecimento para não ser refém das armadilhas do mercado. “Todo investidor tem uma curva de aprendizado.

É inevitável cometer alguns erros, mas analisar e entender onde você errou é fundamental”, diz ele.

Investir não deve ser negativo para a sua saúde mental e piorar sua qualidade de vida, muito pelo contrário, investir deveria garantir tranquilidade ao saber que seu patrimônio está rendendo e sendo bem cuidado.

Por isso é tão importante saber, entre tantas ofertas disponíveis, quais são aquelas que realmente têm os seus interesses em mente.

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