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Tragédia no Rio Grande do Sul pesa sobre os Fiagros? Entenda o cenário

24 maio 2024, 19:12 - atualizado em 24 maio 2024, 19:12
fiagros rio grande do sul
Neste momento, as maiores preocupações para os Fiagros ficam por conta dos problemas logísticos do estado (Foto: Vitreo)

Os impactos das chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no final do mês de abril ainda estão sendo contabilizados, à medida que o nível d’água diminui.

A partir disso, especialistas estudam reflexos para o setor do agronegócio, produtores rurais e os Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).

E para entender como a tragédia no estado gaúcho mexe com os fundos, Tarik Thome, sócio e analista de Renda Fixa da Arton Advisors, explica ser é hora de preocupar (ou não).

Hora de fugir dos Fiagros?

Money Times: Como você enxerga o momento atual dos Fiagros? A catástrofe no RS deve impactar os fundos?

Tarik Thome: Conversamos com boa parte dos gestores dos Fiagros e muitos deles relataram que são impactos que ainda são difíceis de se mensurar na cota ou no risco de crédito dos fundos. O que foi relatado é que boa parte da safra já havia sido colhida.

Com isso, as cooperativas que os Fiagros possuem dívidas já estavam com boa parte da safra colhida, não tendo um impacto direto no produto.

A preocupação fica por conta da logística, sobre como os grãos serão escoados para as tradings e portos, já que grande parte das estradas foram atingidas. Muitos dos Fiagros do RS estão de certa forma pulverizados no estado, e as regiões que eles estão com exposição não foram muito afetadas. A grande questão fica por conta do escoamento.

O que temos ouvido é que algumas grandes empresas que acabam operando não só na parte de grãos, mas também de proteína animal, é que algumas empresas compradoras, que tem o estado como fornecedor dessa proteína, ajudariam nesse momento, para que os fornecedores não sejam tão impactados a nível de default.

Ainda assim, são projeções, não dá para mensurar todos esses impactos, mas é preciso ficar vigilante, já que há previsão de chuva neste final de semana, com essa situação perdurando por um tempo.

MT: Vamos ver um aumento na inadimplência do setor ou apenas um cenário de renegociação de dívidas?

TT: Não conseguimos estimar o real impacto financeiro nas empresas. Se pensarmos, por exemplo, um produtor grande do estado tem CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) emitido e os Fiagros vão lá e compram esse CRA, pensando que o produtor foi extremamente impactado e não conseguiu escoar os grãos, tendo que provavelmente renegociar essa dívida. Isso pode acontecer, mas não há como ter certeza, porque o ano-safra não foi encerrado.

Pensando nas safras, o impacto na soja gira em torno de 3%-6%. O RS é um estado relevante na produção da oleaginosa, mas esse número não é algo como 15-20%, e esse impacto só não foi maior porque boa parte já havia sido colhido, e acredito que isso pode ser remanejado.

É preciso olhar também o nível de solvência desses produtores, ou seja, como as empresas estão fazendo a gestão de caixa.

Muitas companhias, por vezes, têm condição de passar por uma ou duas safras onde ela usa o próprio caixa para cobrir possíveis prejuízos de quebra de ciclo. Tudo isso precisa ser analisado, não sendo possível cravar que por conta de um problema de safra a inadimplência obrigatoriamente vai aumentar, ainda que o setor esteja mais vigilante pela quebra.

A mesma coisa para o arroz, que foi um pouco mais impactado, onde as projeções de quebra giram em torno 10%, um estado bem representativo na produção do grão e tem que ser vista com mais cuidado. Porém, pelos relatórios de gestores que eu tenho visto, não há nenhum fundo concentrado na produção de arroz.

Felizmente, a quebra para as culturas do estado só não foram maiores porque boa parte das áreas já haviam sido colhidas.

É necessário avaliar o real impacto financeiro nas empresas. Por exemplo, se uma empresa/produtor que já está muito alavancado, com o caixa reduzido, e ele ainda sofre com uma quebra de safra ou uma necessidade de investimento no curto prazo, esse tipo de empresa ou produtor que precisa estar mais cauteloso.

Apesar de todos esses fatores, falar em uma crise generalizada no agronegócio me parece exagerado.

MT: Como o mercado reagiu a estes impactos climáticos?

TT: Pensando na indústria de Fiagros e o mundo de capitais junto ao agronegócio, é possível ver uma evolução, com a entrada do mercado de capitais visando não somente grandes empresas, algo que não era visto no médio-longo prazo para trás.

Os CRA’s eram vistos como ativos exóticos e com pouca liquidez, e isso foi mudando, muito por conta dos Fiagros, mas eu vejo um aprendizado muito rápido nessa classe sobre ofertar o crédito, com o entendimento em questões sobre o que são boas garantias, que deve ser avaliado na hora de conceder o crédito para uma companhia do setor, assim como os riscos inerentes ao agro, como os que estão sendo vistos no RS.

Isso pode fugir um pouco do modelo, mas a parte climática deve ser considerada como um risco para o crédito agrícola. Talvez seja necessário olhar mais para como esses produtores ou empresas com capital próprio conseguiram se manter em uma ou duas safras onde o resultado não foi o esperado.

Acho que esse amadurecimento da classe é muito interessante, principalmente do ano passado para cá, quando ocorreram muitos pedidos de recuperação judicial no setor por conta dos preços das commodities.

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