Traders esperam cortes de juros na maioria de BCs em um ano
De olho em ganhos, os mercados precificam cada vez mais uma reversão do ciclo de aperto monetário global no segundo semestre, o que dificulta a tarefa dos bancos centrais para derrotar a inflação de uma vez por todas.
A recuperação dos mercados de renda fixa este ano, puxada pela aposta de investidores em guinadas rápidas da política monetária, fez com que o rendimento médio dos títulos de dois anos caísse 30 pontos-base nas economias do G7, a queda mais forte em cinco semanas desde o início de 2012.
A divisão entre bancos centrais que buscam se manter firmes na batalha contra a inflação e mercados que apostam em uma reversão da política monetária aumentou novamente nesta semana, mesmo após três grandes bancos centrais terem elevado os juros e prometido repetir a dose.
O Federal Reserve reduziu o tamanho do aperto e reconheceu que a inflação está mais baixa, ao mesmo tempo em que sinalizou que vai precisar de “mais alguns” aumentos para chegar a níveis suficientemente restritivos.
O Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra também alertaram que a luta contra a inflação está longe de terminar.
Otimistas, investidores viram as coisas de maneira diferente e comemoraram as observações do presidente do Fed, Jerome Powell, segundo o qual o processo desinflacionário já começou. O mercado gostou especialmente do sinal de que seus colegas podem ter que ajustar a política monetária se a inflação cair mais rápido do que o esperado, embora ele tenha dito que esse não é seu caso-base.
Shana Sissel, fundadora e presidente da Banrion Capital Management, em Chicago, diz que, de certa forma, os investidores estão jogando com o banco central americano, “esperando que possam influenciar o Federal Reserve a cortar (os juros) este ano”.
Ela não vê essa possibilidade, já que as autoridades do Fed “querem ver a inflação cair para a meta de 2% e permanecer lá, por alguns meses, antes mesmo de considerar algo nessa linha”, disse Sissel à Bloomberg Radio.
Traders também ignoraram as advertências do BoE e do BCE nesta semana e atuaram com base nos sinais de fraqueza econômica que, segundo eles, obrigarão uma pausa e, depois, devem levar a cortes nas taxas de juros.
A dissonância dos bancos centrais em relação aos mercados é mais do que apenas uma guerra de palavras. As apostas em uma reversão para cortes de juros podem, na verdade, obrigar autoridades a manter as taxas em níveis mais altos por mais tempo para alcançar o aperto que investidores tentam aliviar agora.
Três autoridades do Fundo Monetário Internacional alertaram em blog nesta semana que os bancos centrais precisam responder aos mercados e “permanecer resolutos”, sem afrouxar prematuramente a política monetária, ou correm o risco de um forte retorno da inflação à medida que a atividade se recupera.
Ainda assim, alguns players estão convencidos de sua tese. O discurso dos bancos centrais é contundente: “’(juros) mais altos por mais tempo, o trabalho não terminou’. Mas, quando as economias começarem a entrar em colapso por causa da velocidade e magnitude de seu aperto anterior, o mercado precificará as políticas de recessão, independentemente do nível de inflação”, disse Kellie Wood, gestora de renda fixa da Schroders, em Sydney.
“O mercado de títulos acertou nesse ciclo e acredito que vai acertar novamente na queda”, afirmou.
Outros apostam na tese dos bancos centrais para lucrar.
O fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, disse que os investidores devem acreditar em Powell e no Fed, o que classificou como “uma das apostas mais fáceis e seguras” de que o afrouxamento esperado pelos mercados não se concretizará.
O cenário para os 20 principais mercados emergentes estava dividido em novembro: a expectativa era de que sete bancos centrais elevassem os juros e sete cortassem. Agora, 12 devem reduzir as taxas e dois podem aumentar.
A ação dos investidores reforça as apostas em um confronto com bancos centrais globais, o que levanta questões sobre como e se as autoridades devem responder.