Trabalho híbrido e home office devem mudar a cara das cidades brasileiras
O mundo que emergir depois do ápice da pandemia de Covid-19 vai testemunhar mudanças no trabalho e na habitação das cidades brasileiras, segundo apontam especialistas do setor de infraestrutura.
A adoção do home office e modelos laborais híbridos durante os anos de 2020 e 2021 fez com que esses novos modelos de trabalho impactassem diretamente as cidades, principalmente os grandes polos empresariais, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Quanto à infraestrutura, à mobilidade e aos sistemas de energia e saneamento, os especialistas apontam a energia elétrica como o principal ponto de preocupação por conta da alta no consumo concentrado, cenário piorado pela crise hídrica e pela alta da inflação no país.
Segundo Luciano Machado, engenheiro civil e sócio da MMF Projetos, “a concentração do consumo elétrico vem do aumento nos gastos individuais dos trabalhadores em suas residências e os problemas resultantes são significativos diante da infraestrutura que o país tem”.
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME), em maio de 2020, apenas dois meses após o início da adoção do distanciamento social, o setor residencial já apresentava um aumento 6,5% na comparação com o mesmo período de 2019.
Já Bruno Sindona, CEO da Sindona Incorporadora, destaca que, num período de inflação elevada, as altas tarifas da residência crescem significativamente com os gastos de luz. ”
As casas não são eficientes, não usufruem dos melhores materiais e dos meios de construção mais modernos e, por isso, consomem muita energia elétrica e geram grande desperdício de água”, explica.
“O trabalho híbrido funciona muito bem para quem tem um bom nível de empregabilidade, de renda e de moradia”, complementa.
Segundo Gustavo Favaron, manager partner do GRI Club, maior empresa de network imobiliário do mundo, toda a estrutura de infraestrutura fora do país também sofreu mudanças consideráveis.
O conceito de smart cities, ligado à adoção de novas tecnologias para a gestão do consumo de água e energia, ganhou terreno por conta do home office, principalmente pela necessidade crescente de se evitar desperdícios.
“Até mesmo espaços corporativos precisarão incentivar a criatividade, construção de cultura, visão de empresa e de futuro, tudo dentro da necessidade de se desenvolverem cidades inteligentes por todas as partes”, defende o empresário.
A impressão de Favaron é compartilhada por Henrique Costa, CEO da Accell Solutions, empresa líder na distribuição de medidores de água, energia e gás na América Latina.
“Existem projetos de monitoramento remoto que permitem a verificação do consumo de casas e apartamentos e notificam o morador em caso de vazamentos ou problemas na distribuição desses recursos e, esse tipo de medida, caso fosse difundida, poderia trazer bons resultados na economia tanto dos recursos hídricos como energéticos”, afirma.
Consumo mais consciente
A mudança para o formato de trabalho híbrido levou as pessoas a adquirirem uma consciência maior sobre qualidade de vida e gestão dos recursos naturais.
Para Antonio Trentini, diretor de novos negócios da Culligan Latam, o que antes era um debate de pouca amplitude na sociedade agora se tornou prioritário.
“É necessário que essa mentalidade seja levada para dentro de casa, ou seja, as pessoas precisam de fato evitar horas a fio no banho, não utilizar esguichos para limpar a calçada, economizar energia e buscar soluções seguras para a água, principalmente no preparo de alimentos e na hidratação em si”, diz.
À medida que as empresas vão adotando o trabalho híbrido, os pontos comerciais e residenciais das cidades vão precisar se adaptar por conta da mudança de demanda nos dias úteis.
Segundo Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, sempre que uma nova região se desenvolve, a infraestrutura urbana pode ter que passar por mudanças, seja de energia elétrica, saneamento ou mobilidade.
Além das questões energéticas e de saneamento, os empreendimentos comerciais também terão grande papel na gestão inteligente de cidades.
Ir para o trabalho será considerado uma experiência e, por isso, imóveis comerciais precisarão se adaptar a novos padrões para que funcionários sintam necessidade de ir aos escritórios.
“Para que se tenha uma ideia, apenas em 2021, São Paulo saltou de 5% para 10% em lançamentos imobiliários com ênfase em experiência de usuário”, explica Fábio.
“Haverá uma mudança nos projetos arquitetônicos dos empreendimentos comerciais, com a ênfase se voltando para design de interiores, tudo para que se gere maior agrado, interação e experiência”, conclui.
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