Tom Jobim compôs, há 60 anos, “Aula de Matemática”
Ainda existiam tatuís e pitangueiras na praia de Ipanema quando Tom Jobim era estudante. Entre os professores que ficaram na lembrança do Maestro – conta a irmã, Helena, na biografia “Um homem iluminado” – estavam os irmãos Mello e Souza: Júlio César, de Matemática, mais conhecido como Malba Tahan, grande divulgador da disciplina; e João Batista, que lecionava Geografia e História.
Em casa, a matemática fazia parte da rotina do tio João Lyra Madeira (1909-1979), casado com a irmã de Nilza, mãe de Tom. Ele morava no andar de cima da casa cinza da rua Sadock de Sá, 276, em Ipanema, com a mulher e os dois filhos. No andar de baixo, viviam Tom, a mãe, o segundo marido dela, a irmã e o avô materno. A Lagoa Rodrigo de Freitas ficava praticamente o quintal.
João Lyra integrava o Conselho Nacional de Estatísticas do IBGE e dirigiu o Centro Brasileiro de Estudos Demográficos. Foi um importante nome na área. Também tocava violão e apreciava música clássica.
Já homem feito, Tom Jobim compôs, em 1958, “Aula de Matemática”, com letra de Marino Pinto (1916-1965). Os registros da parceria podem ser vistos no acervo do Instituto Antonio Carlos Jobim, repleto de preciosidades sobre a vida e a obra de um de nossos maiores compositores, morto em 1994, aos 67 anos.
Em um dos cadernos de espiral de Tom, a letra da música, inicialmente intitulada “Matemática do Amor”, ocupa três páginas, com caligrafia grafia de Marino e emendas de Tom. Veja a partitura e ouça um trecho da música em vídeo no Instagram e no Facebook do IMPA, criado com material do acervo.
Dez anos após a gravação, a matemática foi novamente destaque nas palavras do compositor, numa entrevista feita por Clarice Lispector, em setembro de 1968, para a extinta revista Manchete. “Muitas vezes, nas criações em qualquer domínio, pode-se notar tese, antítese e síntese. Você sente isso nas suas canções? Pense”, disse a escritora.
Tom respondeu: “Sinto demais isso. Sou um matemático amoroso, carente de amor e de matemática. Sem forma não há nada. Mesmo no caótico há forma.”