Tokenização: do hype desestruturado à revolução do mercado financeiro no século 21
Nos últimos anos, a palavra tokenização se tornou um termo em voga, muitas vezes mal-interpretado e aplicado de forma simplista por pessoas e empresas.
A maioria associava apenas à criação de tokens no blockchain, acreditando que isso bastava para realizar captações milagrosas, sem considerar uma estrutura sólida nos bastidores.
Infelizmente, essa mentalidade prejudicou a credibilidade do setor no início e resultou em projetos pouco fundamentados, distantes de qualquer conformidade regulatória em produtos financeiros. Os usuários ficaram arrependidos de terem investido em tokens “revolucionários”, que acabaram não entregando o que prometeram, como foi o caso de alguns clubes de futebol.
Muitos destes usaram tokens como peças de publicidade para engajar torcedores, porém sem operações estruturadas para embasar qualquer ação.
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Da mesma forma, construtoras tentaram trilhar o caminho da tokenização de uma forma “torta” e mal-assessorada, usando sistemas de cashback ou pontos que utilizavam blockchain apenas como marketing para aproveitar o hype do setor. Essas medidas acabaram limitando todos a seguirem políticas tradicionais já conhecidas, sem realmente inovar e explorar o potencial da tokenização.
Algumas empresas presumiram que a estruturação e a oferta após o boom das criptomoedas no ciclo de alta de 2020-2021 seriam simples; para isso, bastava falar que algo estava em blockchain. Assim, os diversos problemas de seus produtos seriam resolvidos, ou apenas dizendo: “tokenizei meu ativo”, uma revolução sem precedentes aconteceria.
O avanço da tokenização
Esses esforços sem bases sólidas geraram muitas frustrações e reorganizações. Mas levaram ao amadurecimento do mercado, separando projetos e empresas que buscam trazer novidades aos agentes por meio de infraestruturas concretas.
No Brasil, com a introdução do Drex, as propostas de tokenização começaram a conversar entre si e com o sistema legado (muitas vezes iniciando uma migração para o ambiente digital), preparando o mercado financeiro para uma revolução real.
A tokenização não é apenas dizer “vou tokenizar”. Afinal, nem tudo deve ser tokenizado e tampouco elimina problemas ou dificuldades prévias na estrutura do produto, ou serviço. O processo requer esforço jurídico intenso, ou seja, a tecnologia é apenas a ponte de acesso entre oferta e demanda.
Portanto, não podemos nunca esquecer desta premissa: a tokenização é um meio e não um fim. Assim, não se trata de uma solução para todos os problemas e nem todo mundo deve tokenizar ativos simplesmente porque “é o futuro”.
Uso no dia a dia
Hoje, é evidente que a tokenização está transformando e continuará a mudar o mercado diariamente, capacitando os menos favorecidos e redefinindo os papéis dos agentes de mercado. Vale destacar ainda a exploração de oportunidades antes inacessíveis. Abre-se um novo mundo tanto para investidores como para empresas e pessoas, eliminando intermediários desnecessários.
Por exemplo, DTVMs, que antes não distribuíam ativos, agora podem fazê-lo. Corretoras e não corretoras começam a estruturar ativos com empresas de infraestrutura de tokenização. Novas companhias emergiram e começaram a redefinir o setor financeiro nacional. Bancos estão cada vez mais cedendo espaço para fintechs, que inovam e agilizam o processo de transformação digital.
Muitos interessados agora acessam direitos creditórios, cotas de imóveis, precatórios, cartas de consórcios, recebíveis e inúmeras outras ofertas de investimento com boa rentabilidade e que estavam apenas disponíveis para grandes investidores e bancos.
Os FIDCs também se tornaram facilitadores para a descentralização de operações internacionais. A arbitragem de crédito permite que grandes organizações atuem como seus próprios bancos. As cotas de fundos são mais bem gerenciadas e estes conseguem reduzir custos e ampliar a distribuição, possibilitando que investidores de varejo acessem às novas oportunidades de investimento, entre outros avanços.
Se compararmos essa revolução à era inicial da internet, estamos vivenciando um momento de transição, no qual empresas inovadoras escrevem e-mails e estruturam suas mensagens aproveitando o potencial dessa tecnologia e entregando valor em ambas as pontas, enquanto outras apenas aproveitam o hype e escrevem uma carta à mão, fotografam e anexam no e-mail para transmitir a mensagem.
Importante ressaltar ainda as características do sandbox da CVM, que por um período de dois anos, permitiu aos participantes apenas “escreverem cartas e anexá-las ao e-mail”, gerando pouco valor e mantendo a estrutura de mercado dominante, centrada nos bancos e em grandes agentes.
No entanto, enquanto as velhas amarras eram mantidas no auge da nova tecnologia, os empreendedores inovadores demonstraram para o mercado que a tokenização é muito mais do que criar tokens: trata-se de uma revolução que não pode ocorrer sem uma base estruturada e interconectada entre sistemas digitais e legados.
Em breve, esse processo será ainda mais simplificado, reduzindo a burocracia e, de fato, capacitando aqueles que hoje estão à margem do sistema. Isso é descentralização em ação, abrindo portas para um novo horizonte no mercado financeiro do século 21.