Títulos corporativos argentinos são ponto positivo após default
Muitos podem pensar que empresas argentinas terão dificuldade em permanecer em dia com os US$ 2 bilhões em pagamentos de títulos que vencem neste ano em meio ao nono default do governo, uma longa recessão e controles de capital cada vez mais rigorosos.
No entanto, empresas como a estatal YPF e a operadora de aeroportos Aeropuertos Argentina 2000 estão recorrendo à criatividade, usando trocas de dívida estrangeira e vendas locais de títulos em pesos para ajudar a administrar grandes pagamentos.
Investidores estão atentos: os títulos corporativos argentinos são precificados cerca de 30 centavos acima dos títulos soberanos do país.
Por meio de trocas e emissão local, a maioria das empresas conseguiu adiar suas obrigações de dívida até o momento.
É um raro ponto positivo para empresas no crítico cenário econômico da Argentina, já que as paralisações causadas pela pandemia contribuem para que o país entre no terceiro ano de retração.
“As empresas foram muito cuidadosas em se organizar antes de um possível default do governo ou do fechamento do mercado”, disse Federico Perez, que ajuda a administrar 26 bilhões de pesos (US$ 374 milhões) na Mariva Asset Management, em Buenos Aires. “Tiveram o cuidado de não ter grandes pagamentos em dólar no curto prazo.”
Os títulos da YPF e da produtora de petróleo e gás Pampa Energia estavam entre os com melhor desempenho em mercados emergentes no mês passado.
Os ganhos foram impulsionados pelo aumento da confiança no sucesso da reestruturação da dívida do governo e otimismo sobre o ressurgimento da demanda regional de energia e combustível com a flexibilização das quarentenas, de acordo com Jaimin Patel, analista da Bloomberg Intelligence.
A situação está longe de ser totalmente favorável. O governo impôs a última rodada de controles de capital no fim do mês passado, visando novamente proteger as reservas cambiais.
Empresas argentinas devem US$ 618 milhões – cerca de 30% do total de pagamentos restantes neste ano – apenas em novembro, segundo estimativas da consultoria 1816 Economia & Estrategia, de Buenos Aires.
“A economia em colapso é um grande problema”, disse Roger Horn, estrategista sênior de mercados emergentes da SMBC Nikko Securities America, em Nova York. “Mesmo as restrições cambiais mais severas permitem que as empresas comprem dólares para pagar títulos estrangeiros.”