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Tiplam vê folga para crescer 7% em 2023 puxado por exportações de grãos

30 maio 2023, 14:14 - atualizado em 30 maio 2023, 14:14
Tiplam
Questionado sobre o uso do silo “flex”, Fernandes disse que tipicamente o Tiplam usa esta estrutura durante quatro meses com soja, de dois a três meses com milho e o restante do ano para açúcar (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

A movimentação de cargas como soja, milho, açúcar e fertilizantes pelo Tiplam, maior terminal portuário privado do Brasil, deverá crescer 6,8% para um recorde de 12,5 milhões de toneladas em 2023, com impulso de uma safra recorde e maior demanda da China, projetou o gerente-geral de terminais e portos Sudeste da VLI, Denilson Fernandes.

Em entrevista à Reuters no terminal em Santos, o executivo da operadora logística VLI, proprietária do Tiplam, afirmou que a empresa está preparada para os próximos meses, quando a chegada da safra de milho e de produção da nova temporada de açúcar vão ainda encontrar a soja, cujo escoamento ainda está em seu pico.

Em momento em que muito se fala em gargalos logísticos que podem prejudicar embarques do Brasil, o Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam) vê desafios como a escolha do melhor momento de alterar as cargas dos armazéns, mas tem folga na capacidade, já que pode movimentar até 17 milhões de toneladas ao ano.

“O que for colocado à mesa de demanda para a VLI, a gente está atendendo, e obviamente ajuda a desengargalar”, disse Fernandes, minimizando preocupações com gargalos logísticos, diante de grandes volumes esperados para 2023.

“Mesmo com a super safra, tanto de açúcar quanto de milho, com movimento até potencializado pelas importações que a China deve fazer do Brasil, nós temos essa flexibilidades para que possamos priorizar as cargas conforme as filas dos navios”, acrescentou ele, lembrando que este ano chineses aparecerão como clientes também do milho, após um acordo com o Brasil no final de 2022.

Questionado sobre os desafios, o executivo comentou que ele está em “conseguir absorver de forma equilibrada os multiprodutos”, já que um dos cinco armazéns para produtos agrícolas é “flex” desde 2019, podendo receber açúcar ou grãos, dependendo da maior demanda no ano para um produto ou outro.

É a flexibilidade de armazéns que permite um aumento de 14,8 milhões para 17 milhões de toneladas na capacidade do Tiplam, dando esta folga maior nos volumes movimentados – os demais silos, além do “flex”, são cativos, ou seja, dois recebendo exclusivamente grãos e os outros dois, açúcar.

Com o mercado internacional demandando mais açúcar e milho do Brasil ao mesmo tempo, o desafio está colocado para os quatro berços de atracação de navios do Tiplam – dois deles trabalham com produtos agrícolas, enquanto os outros dois são dedicados a fertilizantes, cujas expectativas de importações também são crescentes em 2023.

“Na soja, estamos no pico de movimentação, no mês de junho e até meados de julho teremos movimentação bastante forte. No início de julho já começaremos a formar as cargas para milho, e precisaremos ter o ‘timing’ exato de fazer ‘set-up’ de um armazém para poder começar a receber outro produto, concatenar isso será fundamental”, disse.

Fernandes explicou que em determinado momento, quando a maior parte da soja já foi escoada, é hora de focar mais a estrutura de grãos para milho, eventualmente até o silo “flex”.

Ele projeta o pico de movimentação de milho em agosto e setembro, prolongando-se até outubro, e no caso do açúcar movimentação “bastante forte” entre junho e setembro.

“Todos os produtos devem impulsionar esse crescimento em 2023, mas há uma alavancagem maior pela parte de grãos, espera-se um crescimento maior em grãos do que em fertilizantes, mas todos crescendo”, disse ele.

Questionado sobre o uso do silo “flex”, Fernandes disse que tipicamente o Tiplam usa esta estrutura durante quatro meses com soja, de dois a três meses com milho e o restante do ano para açúcar. Ele avaliou que não deve haver grandes diferenças neste ano “em relação à operacionalização, mas tem o desafio de fazer um volume maior”, já que é um ano de movimentação esperada recorde.

O índice de crescimento esperado para 2023, por ora, é inferior aos 11% vistos na comparação entre 2022 e 2021.

Segundo Fernandes, a movimentação não cresce ainda mais do que as projeções, apesar de o Tiplam ser aquele com acesso mais rápido por ferrovia em Santos – proporcionando redução de até 60% no tempo de ciclos de trens em relação a outros terminais da região. Isso ocorre porque a VLI também tem contratos para atender com sua ferrovia os demais terminais de Santos, nas margens direita e esquerda.

“Enquanto não atinge o limite de capacidade dos outros terminais, não me parece fazer sentido eles negociarem uma capacidade em um porto que não é deles”, explicou.

No ano passado, as margens direita e esquerda somadas movimentaram cerca de 4,5 milhões de toneladas pela ferrovia da VLI, que tem a mineradora Vale como principal acionista.

O Tiplam, embora tenha contratos de longo prazo com empresas como a Tereos, que movimentou por ali quase 1 milhão de toneladas em 2021, é um terminal “bandeira branca”, recebendo cargas de terceiros, e não apenas contratadas pela VLI.

Fertilizantes

Se na exportação os grãos e açúcar são os destaques, na importação são os fertilizantes que monopolizam estruturas e berços de atracação, uma vez que o Brasil importa mais de 80% do adubo que consome.

A capacidade do Tiplam é para 6,5 milhões de toneladas ao ano de matérias-primas de adubos, ou 38% do total do terminal.

Em uma visita ao Tiplam, chamam a atenção as montanhas de enxofre, único produto armazenado a céu aberto, uma vez que é inflamável.

O amarelo brilhante do enxofre, com um cheiro mais forte, dependendo das condições climáticas, contrata com as montanhas de produtos agrícolas da cor ocre dos outros silos, estes cobertos.

O gerente-geral de terminais e portos Sudeste da VLI não fez projeções numéricas sobre a movimentação de fertilizantes esperada para 2023, mas disse que a expectativa também é de aumento, uma vez que produtores precisam recuperar a fertilidade do solo após reduzirem o uso em 2022, quando os preços do adubo dispararam.

Com investimentos recentes em uma tulha de fertilizantes, o Tiplam reforçou o escoamento do produto por ferrovia nos últimos anos, o que também impulsionou o movimento. “Com isso, passamos a operar carga de retorno, o trem vem com grãos, descarrega, passa por processo de limpeza e retorna com fertilizantes”, destacou.

Pelo terminal, entra toda a amônia importada pelo Brasil, e a matéria-prima de fertilizantes é escoada por dutos até a fábrica Yara, próxima ao Tiplam, antes de chegar também à unidade da Mosaic na região.

Cobertura contra chuvas

A busca da otimização do tempo para melhorar a eficiência dos embarques é uma constante, disse o executivo da VLI, lembrando que o Tiplam aumentou em 20% a produtividade dos terminais em 2022 ante 2021 com o uso de um radar meteorológico que trouxe mais precisão sobre o momento da chuva, que normalmente obriga o fechamento dos porões dos navios e interrompe as operações.

“Ele (o radar) combina inteligência artificial com multi processamento de dados, ele consegue precisar se a chuva é para a região até 15 minutos antes de ela cair. Em outros terminais, o comandante do navio olha as nuvens e diz ‘vamos fechar o porão”, destacou Fernandes, ressaltando que o conhecimento se a chuva virá e o horário que ela chegará reduz o tempo de paradas em períodos chuvosos.

Outra iniciativa para ganhar produtividade em períodos está em teste: é um sistema pioneiro de cobertura com lona de porões dos navios, o que, segundo a empresa, permite manter os embarques mesmo com chuva, e que está sendo desenvolvido há cerca de dois anos.

O projeto, que pode entrar em operação comercial no segundo semestre, “visa não parar o embarque de grãos, primeiramente, e depois açúcar, pois a grande safra de grãos é quando está mais chuvoso”. “Já fizemos testes usando esguichos de água, o que se mostrou bastante promissor”, revelou Fernandes, ressaltando que a entrada em operação depende dos testes que estão sendo validados com os clientes.

“Precisamos que o dono do produto tope a iniciativa, estamos falando das grandes tradings… Temos dois desses grandes que aceitaram fazer os testes, porque é de interesse geral.”

Fernandes estima que em uma temporada de chuvas a cobertura dos porões poderia “acrescentar o equivalente um mês de produção no ano”.

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