TIM (TIMS3): Após recusa da Telecom Italia, faz sentido KKR desistir da oferta?
A Telecom Italia acabou jogando um balde de água fria em cima da perspectiva de que um acordo com a KKR fosse acertado agora.
O conselho de administração da estatal italiana decidiu que não vai permitir à KKR fazer uma due dilligence (processo de estudo e avaliação detalhada de informações da empresa) da companhia.
Em comunicado, a Telecom Italia disse que a KKR não validou os termos de sua oferta inicial de € 0,505 por ação. A companhia afirmou que está aberta a reconsiderar sua decisão se a empresa norte-americana apresentar “uma oferta viável, completa e atraente”.
Esse não foi o primeiro impasse das negociações. A Vivendi, principal acionista da Telecom Italia, já tinha considerado a oferta feita pela KKR muito baixa.
KKR deve recuar?
Na avaliação da Genial Investimentos, faz sentido a KKR desistir da oferta inicial.
A corretora destaca que, com tudo o que aconteceu após o anúncio da oferta (saída de Luigi Gubitosi, entrada de Pietro Labriola, projeto de divisão da empresa em ServCo e NetCo), a KKR pode desistir de seguir com a proposta para evitar um potencial veto governamental, visto que o governo italiano tem poder de veto em qualquer transação que aflija o interesse nacional em ativos estratégicos.
E a Telecom Italia é considerada um ativo estratégico para o governo da Itália, que tem a intenção de criar uma rede única no país para evitar gastos entre empresas competidoras.
“A primeira coisa a se observar é no interesse da KKR. O que interessa de fato para o fundo são os ativos italianos, tendo em vista que ela possui participação na FiberCop (rede de telefonia fixa da Telecom Italia, envolvida com redes de fibra neutras), o que possibilitaria para ela uma maior penetração dentro da rede fixa”, afirma o analista Gabriel Tinem, em relatório divulgado nesta sexta-feira (8).
Entendendo a criação de uma rede única
Para destravar valor, a Telecom Italia assinou um acordo com o banco estatal CDP para iniciar negociações formais para combinar sua rede fixa com a rival Open Fiber.
A Open Fiber é controlada 60% pela CDP e 40% pelo grupo Macquarie. A CDP, por sua vez, representa em grande parte o governo Italiano.
A separação da Telecom Italia criaria duas vertentes:
- a ServCo, com ativos de redes móveis (inclui TIM Brasil), plataformas de serviços e data centers; e
- a NetCo, com ativos de renda fixa, o negócio de atacado na Itália e as operações da Sparkle.
Segundo a Genial, a controladora Vivendi parece mais interessada nos serviços de varejo da italiana. Portanto, não surpreenderia se ela removesse sua participação na NetCo.
“Com isso, a NetCo (10% do controle pela CDP) poderia potencialmente se fundir com a OpenFiber (60% de controle pela CDP)”, afirma Tinem.
“Vale lembrar que a NetCo leva em consideração a participação da Telecom Italia de 58% dentro da FiberCop, no qual a KKR também possui um stake de 37,5%. É aí que notamos um papel essencial da KKR: apesar da participação minoritária na FiberCop, o fundo americano pode ser bastante relevante nos desenlaces da transação, e o seu parecer positivo para o negócio é crucial”, acrescenta.
Se a criação de uma rede única de fato acontecer, o que sobraria da Telecom Italia seria a parte da ServCo, que ainda poderia passar por mais divisões por interesse de terceiros em adquirir determinados ativos.
Risco para TIM Brasil?
No momento, enquanto não há propostas na mesa, a Genial não vê a operação de venda da Telecom Italia impactando a TIM Brasil (TIMS3).
De acordo com Tinem, a TIM Brasil só seria influenciada caso houvesse uma troca de controle acionário da companhia e o ativamento do Tag Along.
No entanto, o analista destaca que esse é um caso delicado, com potencial para gerar ruídos.
“O caso em si é fortemente dependente de quem potencialmente exerceria a compra do controle da companhia e supostamente estaria sujeita às regras do país de listagem da empresa compradora, mas mesmo assim abre-se espaço para discussões e controvérsias”, diz.
A Genial tem recomendação de compra para as ações da TIM Brasil, com preço-alvo de R$ 18.
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