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Com destaque para tilápia, vendas de peixes devem crescer até 20% nesta Páscoa, vê Peixe BR

02 abr 2023, 12:34 - atualizado em 02 abr 2023, 12:34
peixe tilápia
Presidente executivo da Peixe BR destaca o potencial de mercado da tilápia, que na sua visão, já pode ser chamada de commodity (Foto: Peixe BR)

O começo deste mês marca o início dos preparativos para a Semana Santa e a Páscoa neste ano, e durante esse período, há sempre uma expectativa para um aumento na venda de peixes.

Em 2022, a produção total da piscicultura brasileira totalizou 860 mil toneladas, com destaque para a tilápia que representa 64% do volume. Com isso, o setor cresceu 2,3% sobre 2021, mesmo com a desaceleração da economia global em função da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Um dos desafios para a Peixe BR é o potencial para a atividade, já que o consumo interno ainda é baixo com cerca de 9,5kg/hab/ano e pela diversas oportunidades no mercado externo para venda dos nossos peixes de cultivo.

Vendas

De acordo com Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), é importante salientar os dois grupos de pescados no Brasil, os peixes da pesca, que representam cerca 40% do que é produzido no país, e os peixes de cultivo (fish farm), que representam 60% desse restante.

A tilápia representa 65% de tudo que é consumido de peixe de cultivo no país. No Brasil, há cerca de 230 mil estabelecimentos rurais que criam neste sistema.

Normalmente no mês da Páscoa, segundo Medeiros, há um aumento de 30% nas vendas médias mensais, o que não deve acontecer esse ano.

“Em anos anteriores, o consumo aumentava e ‘explodia na Semana Santa’, só que nós estamos vendo um consumo aquecido desde o fim do ano passado, com isso, vamos ter um incremento entre 10 a 15% nas vendas médias mensais, porque já vendemos tudo que havia disponível. No que se refere as vendas da Páscoa, devemos ter um incremento entre 15% a 20% em relação ao feriado do ano passado“, diz Medeiros.

Preços

Medeiros ressalta que os custos do bacalhau e do salmão estão mais “salgados” em 2023, já que os preços dos produtos variam com base no dólar, com isso, na sua visão, vamos comer muito mais tilápia do que bacalhau ou salmão.

No entanto, segundo o presidente da Peixe BR, houve um aumento nos preços de forma geral, em função da alta dos insumos. Ele explica que na produção de peixes cultivo há uma maior previsibilidade nos preços, com os valores no atacado no mesmo patamar antes e durante a Semana Santa.

“A pesca tem a sazonalidade de preços e o peixe de cultivo é regular, com as negociações ocorrendo conforme as condições do mercada, sem amplitude de variação. O que costuma ocorrer neste momento é que o pescador, que sabe que o varejo precisa do produto, sobe o preço. Quando passa a semana santa e o varejo não precisa mais, o preço da pesca despenca, então são duas realidades totalmente distintas”, explica.

Demanda interna aquecida

Uma das estratégias que resultaram no aumento do apetite do consumidor pela proteína foi a entradas das agroindústrias de frangos e suínos no setor, já que uma das dificuldades de vender o peixe está na hora de levar o produto ao ponto de venda.

Medeiros explica que as indústrias passaram a produzir e comercializar a tilápia, o que resultou em um incremento no varejo pela maior disponibilidade do produto em um maior número de postos de vendas. Na avaliação do presidente da Peixe BR, o consumidor brasileiro pode hoje encontrar o produto em qualquer supermercado de médio a grande porte do país.

“Esse é um papel da agroindústria. Além disso, há 3 anos, o consumidor encontrava apenas o filé de tilápia para compra, agora ele encontra, costela, posta, filé empanado e tiras. Você começa a oferecer uma variedade enorme de produtor e fortalece o setor, e isso acontece por estarmos procurando entender o que o consumidor quer e como ele
quer, e esse é um trabalho da cadeia de tilápia”, destaca.

Exportações

No primeiro semestre de 2022, havia uma expectativa pela Peixe BR, de que os embarques fossem maiores, o que não aconteceu em função do mercado interno aquecido pela tilápia. Segundo Medeiros, desde agosto de 2022 até a última semana, houve semanalmente, um aumento dos preços pago ao produtor no Indicador Cepea/Esalq.

“Em função do ‘boom’ do mercado interno, houve essa preferência por atender o consumidor do país e reduzir os embarques, e assim, nós crescemos 15% em relação a 2021, mas esse número poderia ter dobrado. Em 2023, vamos depender mais uma vez do mercado, ainda assim, vamos ter um primeiro semestre de exportações superiores ao mesmo período do ano passado, mas não com índices expressivos”, diz.

Para o segundo semestre, há expectativa de um crescimento das exportações, já que tradicionalmente, após o inverno, há uma redução do consumo interno e as empresas voltam seus estoques ao mercado internacional.

Novos mercados e desafios

Para o presidente-executivo da Peixe BR, uma das principais políticas implementadas para o setor da piscicultura foi o drawback da tilápia, que entrou em vigor em 2018, e permite que produtor, que vai exportar o produtor, compre insumos sem arcar com impostos federais, e venda o peixe sem ser taxado.

“Essa é uma das políticas que nos permite ter competitividade no mercado externo, por isso que em 2019 nós exportávamos para 17 países e em 2022 passamos a enviar para 48 países, sendo que 80% do que exportamos no ano passado teve os Estados Unidos como destino e 90% dos nossos embarques são no sistema de drawback”

A tilápia é produzida em 90 países e comercializada em 140, o que, segundo Medeiros, já configura o produto como uma commodity. Um dos desafios do setor está na liberação do mercado da União Europeia, já que por problemas de não conformidade de barcos de pesca, o bloco suspendeu as importações do Brasil.

“A aquicultura não tem nada a ver com isso, e estamos conversando com o Governo Federal, para ser feita uma liberação para peixes de cultivo, já que esse é um dos maiores mercado do mundo e muitos países utilizam o protocolo sanitário do bloco”

Ele explica que o Brasil não exporta, por exemplo, para Israel, que é o 4º maior importador de filé de tilápia do mundo, justamente pelo país utilizar protocolos da UE. Medeiros ressalta ainda que essa liberação não impacta no crescimento apenas em termos de volume

“O empreendedor realiza seus investimentos a partir de expectativas de mercado, se as exportações para União Europeia são liberadas, ele realiza investimentos para atender esse novo cliente. Com isso, não é um efeito imediato de exportação, é um efeito instantâneo nos investimentos de toda a cadeia produtiva toda”, finaliza