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Thiago Cesar: por que a Suíça foi importante para a fundação da Transfero

30 jan 2020, 15:32 - atualizado em 22 maio 2020, 20:23
“Cantão de Zug” são regiões dentro do país que funcionam como municípios e oferecem diferentes vantagens para empreendedores começarem seus negócios por lá (Imagem: Thiago Cesar)

Hoje, a Suíça é considerada um importante benchmark de país que abriu suas portas para o mercado de ativos digitais.

São muitos os motivos que corroboram essa afirmação. Dentre eles, a história do país como centro financeiro, localização central na Europa, estabilidade regulatória e a proximidade dos governos cantonais (localidades suíças que são favoráveis a empreendedores) com as empresas.

Não à toa que é lá que está localizada a região conhecida como o Crypto Valley — em referência ao Silicon Valley — que hoje conta com centenas de empresas de blockchain e criptoativos instaladas.

Em 2017, quando resolvemos expandir a Transfero para a Suíça, mandei pessoalmente um e-mail para um deputado suíço da região de Lucerna, buscando por mais informações sobre como começar. Obtive uma resposta três horas depois e marquei uma reunião presencial em seu escritório.

Ali estava plantada a semente que permitiu que uma empresa fundada por brasileiros se instalasse, virasse uma empresa lucrativa — com 25 funcionários — e cumprisse a missão de mostrar ao mundo que os criptoativos já são uma classe de investimentos do presente.

Obviamente, não fomos só nós que tivemos essa visão. Apesar de termos sido a primeira empresa de criptoativos brasileira na Suíça, foi lá que, por exemplo, a Ethereum Foundation se estabeleceu, além de outros players, como a blockchain Tezos, a mineradora Bitmain e a famosa custodiante de ativos digitais Xapo.

Muitas empresas entenderam que o fim do famoso sigilo bancário suíço traria uma pressão por inovação, especialmente quando falamos de um país extremamente dependente do setor de serviços financeiros.

É importante destacar que a Suíça mergulhou no mundo de ativos digitais ainda cedo, com a fundação da empresa Bitcoin Suisse em 2013 e, posteriormente, a Crypto Valley Association em 2017.

Nos anos anteriores ao hype das ICOs (initial coin offerings) de 2017, a jurisdição oferecia bastante liberdade para novos projetos, mantendo uma lógica bastante liberal de autorregulação, capitaneado pelas famosas SROs (self regulatory organisations).

Entretanto, no ano de 2018, com a subsequente quebra da esmagadora maioria dos ICOs, observou-se uma mudança sensível na postura do regulador, que iniciou um processo de classificação de tokens e análise de projetos caso a caso, principalmente na questão de serem ou não ativos mobiliários.

Na linha de maior ceticismo e maior supervisão sobre o setor, o país emitiu, no ano passado, as primeiras “crypto-licenses”, e até mesmo licenças bancárias para a atuação regulada com ativos digitais.

Desde então, o SEBA Bank e o Sygnum estão totalmente operacionais, servindo como uma ponte mais amigável para bancarizar empresas do setor e lidar com os mais diferentes tipos de ativos digitais.

Apesar da familiaridade do governo suíço, os grandes bancos privados ainda se mantém afastados do setor, levando boa parte da corretoras e gestoras de criptoativos a estabelecer parcerias com instituições muito menos conhecidas, como o Banco Frick em Liechtenstein e os novos bancos “crypto-friendly”.

Outras fintechs brasileiras também já reconheceram a atratividade da Suíça para seus negócios. Ano passado, o Consulado Geral da Suíça no Brasil organizou uma delegação com 15 empresas do ramo para apresentar o ambiente regulatório e institucional suíço.

É lá também que está localizado o CV Labs, a principal aceleradora de empresas de blockchain que ajuda empreendedores de todo o mundo a estabelecerem seus negócios no “cantão de Zug”.

Essas são, portanto, algumas amostras de como a Suíça escolheu se estabelecer no mercado de ativos digitais e como esse mercado não é mais o futuro, e sim a presente realidade.

Thiago Cesar é cofundador e CEO da Transfero Swiss, empresa-mãe da Bit.One no Brasil. Desenvolveram a primeira stablecoin brasileira pareada ao real: BRZ Token. Com um mestrado na Universidade de Londres, Thiago produziu uma das primeiras teses acadêmicas sobre bitcoin, além de ser pesquisador do Instituto de Assuntos Econômicos (IEA) no campo das moedas digitais.

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