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Thiago Cesar: Armadilha de Tucídides — a moeda digital chinesa e a ameaça ao padrão dólar 

14 ago 2020, 10:58 - atualizado em 23 mar 2021, 7:56
China Yuan Dólar
Confira análise sobre o lançamento da moeda digital chinesa no contexto de uma possível disputa de poder com o dólar americano por Thiago Cesar, CEO da Transfero Swiss AG (Imagem: Unsplash/@eprouzet)

Recentemente, a China iniciou os testes de sua moeda nacional digitalizada, chamada de e-RMB.

A iniciativa deriva dos recentes avanços tecnológicos introduzidos pelo surgimento das criptomoedas e do blockchain e caminha para ser a primeira moeda digital oficialmente criada pelo governo de um grande país.

A moeda terá controle centralizado e já está sendo testada por diversas empresas e bancos chineses. As implicações dessa iniciativa, entretanto, vão muito além do campo da inovação tecnológica

Uma das principais inovações das criptomoedas foi permitir transações internacionais de valores digitalmente escassos de forma independente.

Sabe-se que o atual sistema SWIFT é fortemente monitorado pelos governos dos EUA e da Europa, visando fluxos irregulares para países como Irã e Venezuela.

O advento do e-RMB, portanto, não só viabiliza um novo canal de transferência para países controversos, como abre as portas do comércio bilateral chinês para o mundo, sem qualquer ingerência política externa. 

Os anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial posicionaram os EUA como a potência econômica dominante. O dólar foi instaurado como moeda de reserva, forçando os países a manterem estoques dessa moeda para participarem do comércio internacional.

O presidente francês Charles de Gaulle chamava isso de “privilégio exorbitante”, vantagem que constitui um dos principais alicerces para o status americano de potência global dominante. 

O recente posicionamento da China parece querer atacar esse alicerce. Estaríamos, então, diante de uma Armadilha de Tucídides?

Notas de dólar e iuan EUA China
Desafiar o padrão dólar talvez seja um dos maiores golpes da China em tempos da chamada guerra comercial contra os Estados Unidos (Imagem: REUTERS/Jason Lee)

O termo, cunhado pelo professor de Harvard Graham T. Alisson, descreve o cenário no qual “a expansão de um poder emergente é percebida com temor por uma potência dominante, levando-as ao conflito” e remete às origens e causas da Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta.

Foram diversas as situações na História onde a rápida mudança no equilíbrio de poderes entre países levaram ao mesmo caminho. Portanto, uma ameaça chinesa ao poder dominante dos EUA poderá gerar a reação descrita por Tucídides, famoso militar e historiador grego do século V a.C? 

O mundo atual, em teoria, não suportaria uma guerra total entre países com capacidades nucleares. Assim, o conflito deve se dar nas esferas política, social e econômica, dando lugar a uma corrida na economia digital, ao controle da informação e ao colonialismo cibernético.

Nessas condições, a escalada de tensões entre Estados Unidos e China, fora da esfera puramente militar, parece ser axiomática, inevitável. 

Desafiar o padrão dólar talvez seja um dos maiores golpes da China em tempos da chamada guerra comercial contra os Estados Unidos.

A disrupção desse sistema poderá ser desastrosa para a economia americana, uma vez que seu principal veículo de financiamento se dá justamente pela impressão da moeda demandada, obrigatoriamente, pelo mundo inteiro.

A China, por outro lado, parece ter encontrado, na tecnologia dos ativos digitais, uma nova arma para o grande duelo do século XXI. 

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