Economia

The Money Office: Pensar em inflação gera inflação?

02 nov 2021, 16:25 - atualizado em 03 nov 2021, 12:25
Valdir Pereira (Didi): “Treino é treino. Jogo é jogo”. Não é sobre inflação, mas bem que poderia ser (Imagem: Montagem/ Money Times)

Uma coisa todo mundo sabe: gentileza gera gentileza. (nota pessoal: quem quiser pode ouvir a música gentileza do Gonzaguinha aqui – apesar de a história do poeta gentileza não ter sido confirmada, a música é uma maravilha).

Mas será que pensar em inflação gera inflação? Esta é uma pergunta que incomoda os economistas há muito tempo. Sabe por quê? Quem é que vai peitar o Banco Central e jogar uma projeção muito longe da meta oficial? Quem será o primeiro? Os outros vão o seguir a ponto de a estimativa média mudar?

Quem falou sobre isso, nesta semana, foi o economista sênior global da Capital Economics, Simon MacAdam.

“Há muito tempo somos céticos em relação à visão convencional de que as expectativas de inflação têm sido um importante determinante da inflação nas economias avançadas. Ao mesmo tempo, porém, duvidamos que as expectativas sejam tão “ancoradas” em níveis baixos ou nas metas do Banco Central, como muitas vezes é assumido”, explica ele em um relatório enviado a clientes ontem.

“Portanto, embora as expectativas não tenham contribuído para o aumento da inflação por décadas, elas poderiam fazê-lo no futuro se as condições forem adequadas”, pontua MacAdam.

Balão
“Quanto mais tempo a inflação permanecer alta em um cenário de mercados de trabalho restritos, maior será a ameaça de que as expectativas ganhem vida”(Imagem: Unsplash/carlos aranda)

Apenas para ilustrar com um exemplo aqui do Brasil. Vamos ver o que o relatório Focus, que mede as projeções de mais de 100 economistas do mercado, pensava sobre a inflação 12 meses adiante em 2019. Fujamos do período do coronavírus, já que os dados foram quase que “literalmente contaminados”.

No início daquele ano, o mercado estimava a inflação a 4,01%, a 3,89% em junho, para então terminar, oficialmente, a 4,31%. O resultado ultrapassou o centro da meta de 4,25%, apesar de ela ter ficado dentro do intervalo proposto de 2,75% e 5,75%. Mas tudo parece “ancorado” e perfeito demais, não?

“Quanto mais tempo a inflação permanecer alta em um cenário de mercados de trabalho restritos, maior será a ameaça de que as expectativas ganhem vida e aumentem a inflação. O risco de isso acontecer em breve é maior nos Estados Unidos”, conclui MacAdam, justamente um crítico desta teoria.

Maldiziam o poeta gentileza como um louco, mas Gonzaguinha o via como um profeta. Serão os economistas loucos, ou profetas?

Outras expressões usadas na guerra entre expectativa versus realidade:

Valdir Pereira (Didi): “Treino é treino. Jogo é jogo”.

Myke Tyson antes da luta contra Evander Holyfield: “Everyone has a plan until they get punched in the mouth.” 

Gustavo Kahil é fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.

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