Mercados

The Money Office: Não é o Lula que faz o dólar cair, mas o espírito animal do mercado

17 fev 2022, 17:35 - atualizado em 17 fev 2022, 17:37
Lula 2003
Luiz Inácio Lula da Silva, sua esposa Marisa e o vice-presidente eleito, José Alencar, em 1º de janeiro de 2003 (Foto: Rose Brasil – ABr – hor.38)

Apesar de o clima no mercado dar a entender que a Faria Lima está “ok” com a possível eleição de Lula, tendo em vista a alta do Ibovespa (IBOV) – com alta de quase 9% no ano – e a queda do dólar (USDBRL) de 7% -, alguns “termômetros” financeiros mais escondidos contam uma outra história.

Ou seja, os investidores estrangeiros e brasileiros podem estar sob a influência de um espírito animal – termo criado por John Maynard Keynes -, em busca dos ativos muito baratos, enquanto não conseguem calcular muito bem o que pode acontecer no longo prazo.

“O investidor estrangeiro não está entusiasmado com Brasil, mas vislumbra oportunidades aqui e acolá”, disse Gustavo Loyola, que é sócio-diretor da Tendências Consultoria. “Esses investidores não podem ficar fora do país”, comentou em entrevista à Bloomberg.

A vitória do ex-presidente parece tão na cara que o Credit Suisse já admitiu esta possibilidade em um relatório enviado a clientes nesta quinta-feira (17). O banco vê o petista mais pragmático e próximo do seu mandato de 2003, mas que uma vitória com “larga vantagem” pode o afastar dos agentes econômicos, levando-o a um perfil mais semelhante ao que foi o seu segundo governo.

Lula, com Alckmin vice, mostraria um perfil mais “centrista” politicamente, ao menos (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Outro ponto a favor do seu pragmatismo é a esperada confirmação da entrada de Geraldo Alckmin na chapa, como candidato a vice-presidente, o que representará um importante passo do candidato do PT rumo ao centro, ao menos em termos políticos.

A MCM Consultores avalia, por outro lado, que esta movimentação não implicará em abandono de suas históricas convicções a respeito da importância do papel do Estado e das empresas estatais “estratégicas” para o crescimento da economia, o que deverá implicar em um provável aumento, não redução, dos gastos públicos.

“Adicionalmente, o vencedor da eleição em outubro precisará também lidar com os estragos feitos no arcabouço fiscal nos últimos anos e com um Congresso usualmente refratário a reformas impopulares e provavelmente resistente à redução do seu papel na administração do orçamento federal”, aponta a consultoria.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Alguns “termômetros” de risco do Brasil tem andado na contramão da entrada de recursos estrangeiros (Imagem: Pixabay/ geralt)

Sinais

O relatório lembra que, apesar do “oba-oba” atual, alguns indicadores de risco têm apontado para uma direção contrária àquela da Bolsa e do dólar.

O risco Brasil, medido pelo CDS de 5 anos, ficou um pouco abaixo de 210 pontos base na última semana de dezembro e está agora próximo a 230 pontos-base. Analogamente, a taxa real de juros de 10 anos – referência para as taxas de longo prazo – estava ao redor de 5,2% ao ano entre o Natal e o Ano Novo, e flutua agora ao redor de 5,6% ao ano, em um nível próximo ao médio registrado antes da aprovação da reforma da previdência e da criação do teto de gastos.

“Assim, em nossa visão, o nível de incerteza e risco permanece elevado e o movimento de apreciação do Real neste momento tende a ser relativamente limitado, em linha com o comportamento de outros ‘termômetros'”, destaca a MCM.

A valorização do real também terá uma prova de fogo no início de março, quando terá início o ciclo de elevação da taxa básica de juros nos EUA. Há o risco de que o aperto monetário acabe sendo mais intenso do que o previsto pelo e tenha, consequentemente, impacto mais forte do que o antecipado sobre a aversão a risco global, ressalta a consultoria.

Gustavo Kahil é fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.