The Money Office: A Selic de hoje não tem mais o poder de fogo de antigamente
Com a prévia da inflação brasileira atingindo em novembro a máxima para o mês em quase duas décadas, alguns economistas avaliam que a chance de controlar a alta dos preços em 2022 é “muito baixa”.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, subiu 1,17% em novembro, sobre alta de 1,20% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Pressões significativas de custo e pressão de preços de insumos, aumento da inflação de serviços, aumento do risco político/político (fiscal) e efeitos de segunda ordem generalizados e forças inerciais também estão contaminando as perspectivas para a inflação em 2022”, aponta o economista-chefe do Goldman Sachs para Améria Latina, Alberto Ramos.
Segundo ele, a probabilidade de o Banco Central conseguir conduzir a inflação para a meta de 3,5% em 2022 é, nesta fase, “muito baixa”.
Selic “mais fraca”
Vale ressaltar aqui, ainda, que a principal ferramenta de controle da inflação do BC, a Selic, pode estar perdendo o seu poder de fogo.
Os economistas do banco ModalMais rodaram um modelo econômico inspirado pela proposta de Tim Mahedy e Adam Shapiro do Federal Reserve de São Francisco para investigar a ciclicidade dos itens livres do IPCA e chegou a conclusão que, dado as peculiaridades da inflação global dos últimos meses, o juro mais alto terá um efeito diverso.
Eles citam cinco fatores que diminuem a força da Selic:
1 – Os preços industriais vêm sendo fortemente afetados pelos problemas de logística global e pelo aumento da demanda com a pandemia.
2 – Os serviços estão em recuperação com a vacinação e a reabertura da economia.
3 – Os preços de energia estão pressionados no mercado internacional.
4 – A política fiscal de transferência de renda sinaliza uma expansão.
5 – O cenário fiscal e eleitoral podem levar a rodadas de desvalorizações cambial. Como fator de risco, adiciona-se ainda a possibilidade de aceleração na retirada de estímulos monetários nos EUA.
“Isto é, apesar de constatarmos a relação entre componentes do IPCA e a atividade econômica, os pontos listados acima podem mitigar os efeitos do aumento da taxa de juros sobre o índice de preços. Assim, pelo estudo, uma sinalização de desaceleração inflacionária futura viria na perda de ímpeto do avanço dos preços de serviços”, apontam os economistas Felipe Lacs Sichel, Adriano Valladão, Guilherme Pessoa e Luiz Fernando Lopes.
Que viver, verá, e pagará mais caro por isso.
Gustavo Kahil é fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.