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The Money Office: A Evergrande é mesmo um problema? Entenda o “Minha Casa, Minha China”

23 set 2021, 17:29 - atualizado em 23 set 2021, 17:30

Você já ouviu falar da Evergrande (EGRNF)? O mercado financeiro está em polvorosa por causa desta incorporadora gigante da China que, após um aperto regulatório do Partido Comunista, se mostrou menos líquida do que o esperado. Isto levou a um “flashback” da crise do “subprime” de 2007 e 2008 nos EUA.

O grande pavor dos investidores está na semelhança. Foi uma crise iniciada no setor imobiliário e que rapidamente passou para o sistema bancário. A quebra do banco Lehman Brothers, altamente alavancado em dívidas de incorporadoras (infladas por fraudes), gerou um empoçamento de liquidez nos bancos e o sistema travou.

Mas o que está rolando com a Evergrande é bem diferente. Há dois ou três anos os reguladores da China têm focado em “desalavancar” as empresas do setor imobiliário para cumprir métricas operacionais, antes de continuarem a tomar crédito junto aos bancos. É uma política conhecida como “Three Red Lines”.

Veja:

1 – Percentual de passivo para o ativo (excluindo recebimentos de adiantamento) de menos de 70%

2 – Taxa de alavancagem líquida inferior a 100%

3 – Índice de dívida de caixa para curto prazo de mais de 1.

Por que a China está fazendo isso agora? O UBS, em um relatório publicado ainda em janeiro deste ano, explicou tim-tim por tim-tim em 5 destaques.

1 – A primeira razão é o controle dos preços dos imóveis. “O governo da China está ciente do aumento acentuado nos preços das casas que ocorreu durante os últimos 15-20 anos, o que tornou a propriedade inacessível para milhões”, explica o UBS.

2 – Para controlar os mercados de terrenos. “Os preços mais altos da terra contribuem para o crescimento dos preços das casas. Os incorporadores são parcialmente responsáveis – muitos sugam agressivamente parcelas de grandes terrenos para construir seus estoques e aumentar os preços”.

3 – Para racionar o crédito ao setor imobiliário. “As autoridades chinesas estão preocupadas com a quantidade de capital absorvido pelo setor imobiliário. Restringir os empréstimos ao setor imobiliário também faz parte da estratégia do governo para canalizar os empréstimos para áreas mais produtivas da economia”.

4 – Para diminuir a ciclicidade. “Os mercados imobiliários da China são altamente cíclicos, em grande parte devido a políticas intermitentes, como restrições à compra de casas e tetos de preços de propriedades. O governo quer estabilizar os mercados trazendo o que eles descrevem como um ‘mecanismo de longo prazo para o mercado imobiliário’.

5 – Os incorporadores imobiliários são sistemicamente importantes. “O mercado imobiliário é uma parte significativa da economia da China, com fortes vínculos com várias indústrias. O governo chinês está, portanto, implementando controles mais rígidos para garantir um futuro mais sustentável”.

Há risco sistêmico para os mercados financeiros internacionais? Separei duas declarações de especialistas muito bons para responder a esta pergunta:

Bo Zhuang, analista soberano sênior da gestora Loomis & Sayles, que administra US$ 357,7 bilhões em ativos.

“Acho que não. Para entender a política da China, analiso o quadro geral. No nível mais alto, o governo chinês deseja alinhar o setor privado por trás dos objetivos políticos, sociais e econômicos do Partido Comunista, que ele acredita serem cruciais para apoiar o crescimento da China nos próximos 10 anos. Acredito que as recentes ações regulatórias do governo são consistentes com três grandes fatores que orientam a política da China: A agenda populista do presidente Xi Jinping, competição Estados Unidos-China, e esforços para reequilibrar o crescimento de longo prazo”

Time de analistas de mercados emergentes da gestora Franklin Templeton, que administra US$ 1,5 trilhão em ativos.

“Do ponto de vista do setor bancário, um calote da Evergrande por si só não representaria estresse significativo, dada sua participação muito pequena na carteira de empréstimos total do sistema bancário da China. Embora o sentimento do mercado tenha sido muito negativo em relação aos setores imobiliário e financeiro da China e as preocupações dos investidores tenham sido altas, não acreditamos que o risco de contágio sistêmico seja significativo”.

Ou seja, este auê todo é apenas a China sendo a China em um tipo de “Minha Casa, Minha China”.

Gustavo Kahil é fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.

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