Tesouro Direto tem rendimento de até 19% no ano; cupom influencia preços em dezembro
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
A queda dos juros ao longo deste ano trouxe ganhos para as aplicações em títulos públicos via Tesouro Direto de até 19%, conforme dados até dia 28 de dezembro. Os ganhos foram maiores nos papéis prefixados, as LTN sem juros semestrais, cujos juros caíram de 11,47% ao ano em janeiro para 9,93% agora. O juro do papel indexado à inflação, a NTN-B, caiu menos, o que explica seu rendimento menor no ano. O juro real da NTN-B Principal, sem juros semestrais, caiu de 5,61% ao ano mais IPCA em janeiro para 5,44% em dezembro.
Base de comparação e cupom
Na tabela do Tesouro, vários papéis aparecem com perdas em dezembro. O motivo é a base de comparação de 30 dias, com o dia 28 de novembro como referência, e ajustes para pagamento de remuneração semestral aos investidores, o chamado cupom semestral. As maiores quedas foram nos papéis prefixados, aqueles em que a taxa total de rendimento é definida na aplicação, e que pagam juros semestrais, que são as NTN-F ou Tesouro Prefixado com Juros Semestrais.
Mas não se trata de perda. O motivo é que esses papéis descontam de seus valores o juro a ser pago no primeiro dia útil do semestre, equivalente a 10%, o chamado cupom semestral definido no título. Esse pagamento será feito no dia 2 de janeiro, mas já sai do valor do título no último dia útil anterior. Por isso, as NTN-F aparecem com perdas de até 5%, enquanto as LTNs, que também são prefixadas, mas pagam juros só no vencimento, seguem com rendimentos de até 0,85% em 30 dias. Não se trata, portanto, de uma “perda”, pois o valor que saiu do preço do título vai para o bolso do investidor no dia 2 de janeiro para ser reinvestido ou gasto.
Já os papéis corrigidos pela inflação, as NTN-B, sofreram com a alta dos juros do mercado. O papel sem juros semestrais (Tesouro IPCA+) caiu 1,29% em 30 dias encerrados dia 28 depois que sua taxa de juros saiu de 5,39% mais IPCA em 28 de novembro para 5,44%% no último dia de negócios do Tesouro no ano. No fechamento final do mês, essa perda pode diminuir pois a taxa no dia 30 de novembro era também de 5,44%.
Juros mudam valor dos papéis, mas perde só quem vende
Com a alta dos juros, os papéis antigos, com taxas mais baixas, perdem valor para se ajustar. Não se trata de uma perda efetiva, já que ela só vale se o investidor vendem o papel no mercado por aquele preço. Se continuar com o título até o vencimento, receberá exatamente a taxa combinada na aplicação. Ou seja, ninguém precisa resgatar sua aplicação no Tesouro porque hoje o mercado está achando que ela vale menos, assim como não se vende o carro ou a casa porque o preço dos imóveis ou dos carros caíram este mês.
Papel sem juro semestral acumula ganho maior
Mas, mesmo com essa queda de dezembro, os títulos públicos apresentam ótima rentabilidade no ano, especialmente os prefixados LTN 2023, com 19,13% acumulados. A diferença com as NTN-F, ou prefixados com juro semestral, é que esses papéis já pagaram juros para os investidores nos últimos anos, enquanto os juros das LTN estão “dentro” do papel, engordando seu valor, e só sairão no vencimento. Por isso, muitos analistas aconselham o investidor que não vai precisar do dinheiro a cada seis meses ou não tem como reaplicar os recursos que opte pelos papéis com pagamento de juros no final.
O mesmo vale para as NTN-B ou Tesouro IPCA, que acumulam até 13,75% no ano até dia 28. As NTN-B com juros semestrais pagam o cupom a cada seis meses a contar do início do papel, o que não coincide com o início do ano como os prefixados. As NTN-Bs que vencem em 2035 e 2045, por exemplo, são de 15 de maio, e vão pagar o juro do cupom todos os dias 15 de maio e 15 de novembro de cada ano. Por isso o papel 2035 com juros no vencimento acumula no ano 13,70% e o com juros semestrais de mesmo prazo, 13,43%.
Confira as rentabilidades do Tesouro no ano, com base no dia 28 de dezembro.
Tesouro Direto | (%) | |||||
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Títulos | Vencimento | Em 30 dias | Mês anterior | No ano | 12 meses | Juros |
Prefixado | 01/01/2019 | 0,67 | 0,64 | 15,08 | 15,25 | – |
Prefixado | 01/01/2020 | 0,85 | 0,45 | – | – | 8,03 |
Prefixado | 01/01/2021 | 0,7 | -0,01 | 17,99 | 18,23 | – |
Prefixado | 01/01/2023 | 0,29 | -1,27 | 19,13 | 19,6 | 9,93 |
Pré juro semestral | 01/01/2021 | -3,81 | 0,08 | 11,88 | 12,08 | – |
Pré juro semestral | 01/01/2023 | -4,18 | -0,96 | 12,3 | 12,53 | – |
Pré juro semestral | 01/01/2025 | -4,97 | -1,72 | 11,81 | 12,03 | – |
Pré juro semestral | 01/01/2027 | -5,6 | -2,26 | 11,68 | 11,86 | – |
Tesouro Selic | 01/03/2021 | 0,44 | 0,44 | 9,97 | 10,14 | – |
Tesouro Selic | 01/03/2023 | 0,36 | 0,36 | – | – | 0 |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2019 | 0,43 | 0,39 | 13,15 | 13,38 | – |
Tesouro IPCA+ | 15/08/2024 | -1,29 | -1,68 | 13,27 | 14,06 | 5,09 |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2035 | -2,41 | -3,94 | 12,2 | 13,7 | 5,44 |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2045 | -4,14 | -6,54 | – | – | 5,44 |
IPCA+ juro semestral | 15/08/2020 | 0,45 | -0,16 | 13,37 | 13,64 | – |
IPCA+ juro semestral | 15/08/2024 | -0,87 | -1,23 | 12,9 | 13,56 | – |
IPCA+ juro semestral | 15/08/2026 | -0,9 | -0,83 | 13,75 | 14,44 | 5,04 |
IPCA+ juro semestral | 15/05/2035 | -1,45 | -2,15 | 12,44 | 13,43 | 5,31 |
IPCA+ juro semestral | 15/05/2045 | -2,27 | -2,52 | 12,51 | 13,55 | – |
IPCA+ juro semestral | 15/08/2050 | -2,74 | -2,82 | 12,26 | 13,5 | 5,41 |