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Terra à vista! As boas notícias que animam o ano de 2025 para o agronegócio

16 jan 2025, 18:30 - atualizado em 16 jan 2025, 18:42
Agronegócio soja
(iStock.com/imaginima)

Navegávamos, eu e minha família, pelo litoral do Sul da Bahia nos primeiros dias de janeiro desse novo ano de 2025. Um lugar lindo, praias e matas preservadas, vistas ao longe junto a falésias, foz de rios caudalosos desaguando no mar do berço de nosso descobrimento.

Refletimos que aquela fora a primeira paisagem de nosso amado Brasil, divisada pelos navegadores portugueses, conforme descrito na famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, datada de 1º de maio de 1500.

Inebriados com a paisagem estonteante e, depois, já aportados e acessando terra firme, como descrito na famosa carta, era inevitável o paralelismo com o que Pero Vaz de Caminha registrou na missiva sobre a terra. 

Suas belezas naturais e a água abundante, além do clima favorável e extensão territorial, contribuem decisivamente como alguns dos fatores estruturais que ajudam a explicar parte do sucesso do nosso agronegócio, levando o país ao destaque absoluto no mundo em relação à produção agropecuária.

Boas previsões para a nova safra

Mesmo descansando no Sul da Bahia, este colunista, que acompanhava ainda de longe o noticiário nacional, pôde constatar que apesar de alguns fatores conjunturais negativos que temos tratado desde o final do ano de 2024, como o desarranjo fiscal do Governo Federal, levando os juros e o câmbio a patamares exorbitantes, entre outros, as boas notícias derivadas dos ótimos fundamentos históricos – já expostos desde a carta do descobrimento – e estruturais do nosso agronegócio, continuam presentes e fazendo a nossa agropecuária cada vez mais pujante e relevante para o país e para o mundo.

A colheita de soja já se iniciou, as máquinas estão à todo vapor e há projeções do governo e de várias entidades privadas de crescimento de cerca de 15% em relação à safra 2023/2024, com uma produção recorde de cerca de 166 milhões de toneladas, segundo números da Conab e do IBGE, apesar de algumas previsões de queda de produção em regiões localizadas por conta de alguns fatores climáticos adversos persistentes.

Com a moeda estrangeira mantendo-se em patamares de câmbio apreciados, podemos dizer que mesmo com a redução de margens de alguns produtores, como as exportações vão crescer, teremos um alívio aos produtores e às taxas de câmbio, apesar dos níveis de preços que se depreciaram de 7 a 12%, segundo alguns levantamentos recentes publicados. 

Somando-se às previsões de aumento da safra de algodão de cerca de 7%, conforme comunicado ainda no final do ano passado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), e às expectativas em relação aos preços do boi gordo, do café e de outros produtos agropecuários, como o açúcar que ainda conta com preços razoáveis no mercado internacional 

Se considerarmos as taxas de câmbio atuais, temos um mix interessante de produtos de nossa pauta de exportações para prever aumentos de receitas pelos produtores e exportadores, além do acúmulo de divisas pelo Banco Central, já que somos campeões mundiais de produção e exportação de todos eles.

O financiamento privado do agronegócio continua em alta 

Como decorrência desses fundamentos estruturais – e expectativas em relação à boa safra que se avizinha – podemos constatar que mesmo partindo-se de uma conjuntura de apertos de margens e de alguns defaults no setor, principalmente, se considerarmos o meio do semestre passado até o final do ano para cá, o financiamento privado ao agronegócio brasileiro continua em alta e batendo recordes e mais recordes.

É que segundo o último Boletim de Finanças Privadas no Agro de janeiro de 2025, preparado e divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa), os estoques de títulos de financiamento privado e cotas de Fiagros registrados na B3, CERC, CRDC, CVM e Anbima, variaram positivamente em 109%.

Isso significa – pelos números do boletim – que o financiamento privado ao agronegócio brasileiro de dezembro de 2023 para dezembro de 2024, representado em títulos privados e fundos, registrou aumento de cerca de R$ 258 bilhões em operações, saltando de cerca de R$ 963 bilhões para cerca de R$ 1,22 trilhões em um ano.

Claro que há alguma superposição em títulos e garantias pois alguns servem de lastro para emissão de outros títulos, mas só em CPR (Cédulas de Produto Rural), títulos emitidos pelo produtor rural, a variação positiva foi de 58%, enquanto as cotas de Fiagros registradas no mercado saltaram 109%, de cerca de R$ 19,57 bilhões em dezembro de 2023 para R$ 40,90 bilhões em dezembro de 2.024, o que comprova a nossa assertiva.

Marcos regulatórios do agronegócio 

Além disso, os números acima significam expressamente que não somente a nova regulação dos Fiagros, via Resolução CVM/n. 214/24, de 30 de setembro do ano passado, está funcionando à plena com tão pouco tempo de vigência, como a consolidação das alterações feitas pela Lei do Agro, a Lei n. 13.986/20 e também pela chamada, a Nova Lei do Agro, a Lei 14.421/22 que modernizaram os títulos do agronegócio, suas garantias e registros, estão sendo bem compreendidas e utilizadas por todos os integrantes da cadeia ampla do agronegócio para a formalização das operações financeiras e comerciais cursadas no mercado privado em geral.

Ainda podemos dizer o mesmo em relação às regulações mais recentes como a nova legislação do mercado regulado de carbono, a lei dos bioinsumos e até mesmo as alterações da LRJ (Lei de Recuperação Judicial), ainda do final de 2020, a Lei n. 14.112, que excluiu as CPR-físicas do processo de recuperação judicial no agronegócio, mas que está sendo aplicada pelo Poder Judiciário nos casos recentes de recuperações judiciais de produtores rurais Brasil afora.

Tudo isso redunda em maior compreensão dos mecanismos de funcionamento da cadeia ampla do agronegócio e, por via de consequência, aumentando a segurança jurídica das transações para garantir que o financiamento privado do agronegócio brasileiro seja cada vez mais relevante, já que o setor carece de mais de R$ 1 trilhão de recursos ao ano para se financiar, como comprovam os números acima.

Terra à vista!

Desta forma é alentador saber que como já atestou Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal: “Esta terra, Senhor…águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo

Mesmo bem depois do descobrimento em 1500, um bravo e criativo povo, através de seus produtores rurais e empreendedores do campo, tem se valido com competência absoluta desses fatores estruturais em seu favor para produzir com qualidade e em abundância, mesmo enfrentando, por vezes, conjunturas econômicas e até políticas adversas, para alimentar cerca de 1 bilhão de seres humanos todo ano e se consolidar como os maiores produtores de alimentos, fibras, energia renovável e sustentabilidade para o globo terrestre. Que venham os desafios de 2025!

 

André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
andre.passos@moneytimes.com.br
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.