Setor Elétrico

Térmica de Uruguaiana pode operar neste mês após 5 anos parada, diz Mercurio

03 nov 2020, 16:17 - atualizado em 03 nov 2020, 16:17
Usina termelétrica a gás de Uruguaiana
É uma usina que vai estar disponível e é competitiva perto das outras que estão gerando (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A usina termelétrica a gás de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, pode voltar a ser acionada ainda neste mês, depois de ter ficado totalmente paralisada desde 2015, disse à Reuters o diretor de uma empresa envolvida em negociações para retomada da unidade.

A térmica deve ser chamada a operar assim que estiver disponível, uma vez que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que reúne técnicos da área de energia do governo, decidiu acionar termelétricas adicionais para atender à demanda em meio a chuvas fracas nas hidrelétricas, principal fonte de energia do Brasil.

O movimento para que a usina volte a gerar segue-se ao anúncio em setembro da aquisição do ativo pela argentina Saesa, que fechou a compra junto à norte-americana AES, que busca focar investimentos no Brasil em renováveis

Depois da aquisição, a Saesa contratou as brasileiras Mercurio Comercializadora e Urca Energia como responsáveis pela comercialização no país da energia da térmica, que tem 640 megawatts em potência instalada, segundo a primeira empresa.

“Hoje, minha melhor previsão é que a usina estaria apta a gerar a partir da metade de novembro”, disse o sócio-diretor da Mercurio, Eduardo Faria, que mantém contatos diários com a parceira Saesa sobre a retomada.

“É uma usina que vai estar disponível e é competitiva perto das outras que estão gerando, e em uma região que precisa mais do que nunca, que é o Sul”, acrescentou Faria.

Ele não comentou qual deve ser o custo de operação da térmica, que foi ligada pela última vez em 2015.

O custo final depende da conclusão de negociações em andamento para obtenção de um contrato de fornecimento de gás para Uruguaiana, que têm sido conduzidas pela Saesa, disse Faria, que sinalizou que o acordo está próximo.

Ele afirmou ainda que Uruguaiana deve aproveitar uma sobra de gás esperada na Argentina com o início do verão, quando cai a demanda local pelo uso do insumo para aquecimento.

A paralisação da térmica por anos devia-se justamente à dificuldade da AES para fechar um fornecimento firme de gás. A usina foi acionada apenas de forma emergencial em 2015, 2014 e 2013, depois de ter ficado parada desde 2009.

“Ela vai estar disponível para gerar com certeza durante o verão lá… até meados de março, abril, ela com certeza vai ter disponibilidade de gás, conforme fomos informados pela Saesa. E depois tem que ver como vai ser o inverno na Argentina, como vai ser a demanda por lá”, explicou Faria.

A usina de Uruguaiana foi inaugurada em 2000. A AES não informou os termos da negociação do ativo junto à Saesa.

O valor e o prazo do contrato com Mercurio e Urca não foram informados pelas empresas, nem os volumes de energia envolvidos. Não foi possível contato imediato com a Saesa.

Térmicas Ligadas

A tentativa de retomada de Uruguaiana vem em momento em que o Brasil tem mantido grande volume de térmicas ligadas para permitir uma recuperação das hidrelétricas, segundo especialistas e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O acionamento de termelétricas adicionais foi autorizado a partir de 16 de outubro pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que também deu aval a importações de energia junto a Uruguai e Argentina.

“O despacho de usinas térmicas adicionais fora da ordem de mérito, autorizado pelo CMSE… ocorrerá até que a situação hidrológica do país melhore”, disse o ONS em nota à Reuters.

“Pelas previsões meteorológicas atuais, a expectativa é de que, a partir de segunda quinzena de novembro, os efeitos da estação chuvosa já devem começar a ser vistos”, acrescentou o ONS, que nega qualquer risco para o suprimento.

A oferta de energia também foi impactada por mudanças na operação das hidrelétricas Furnas e Mascarenhas de Moraes, autorizadas pelo Ministério de Minas e Energia para manter mais água no lago das usinas e preservar o turismo local. O ONS disse, no entanto, que esse fator não foi decisivo e atribuiu a situação mais sensível de oferta à falta de chuvas.

As chuvas em outubro foram as piores do histórico nas hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que concentram os maiores reservatórios, e tiveram o segundo pior desempenho já visto no Sul, disse o presidente da comercializadora de energia Bolt, Gustavo Ayala.

“Tirando as usinas a óleo diesel e óleo combustível, todas as outras estão acionadas, todo o parque a gás natural. A expectativa é que pelo menos em novembro elas mantenham esse mesmo nível de despacho”, afirmou. “Por mais que chova, o solo está muito seco”.

O mês de novembro geralmente marca o início do “período úmido” na região das hidrelétricas do Brasil, que vai até abril, mas por vezes a chegada efetiva das chuvas sofre atrasos.

O acionamento das termelétricas gera custos maiores para os consumidores de energia, dado que o custo de produção dessas usinas é maior que o de outras fontes, como das hidrelétricas, que não consomem combustíveis fósseis.

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