Tempo seco deixa em alerta produtor de soja do RS, chuvas preocupam centro do Brasil
O tempo seco limita o desenvolvimento da soja em algumas regiões do Rio Grande do Sul, deixando em alerta produtores do Estado, enquanto o excesso de chuva deve desafiar os trabalhos de colheita em fase inicial na região central do Brasil, segundo avaliação de agrometeorologistas.
As expectativas para a safra do Brasil, líder global na produção e exportação de soja, superam 170 milhões de toneladas, segundo algumas consultorias privadas. Mas o Rio Grande do Sul, um dos três maiores Estados produtores e que planta tardiamente sua lavoura em relação a outras regiões, é fundamental para tal recorde ser alcançado, já que poderia colher sozinho mais de 20 milhões de toneladas na melhor das hipóteses.
“Algumas áreas estão com mais de 15 a 20 dias sem chuvas significativas, a soja começa a ter o desenvolvimento um pouco comprometido, o que pode resultar em estande mais baixo (das plantas)”, disse a agrometeorologista Loana Cardoso, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Estado.
Segundo ela, grande parte da soja gaúcha ainda está na fase de desenvolvimento vegetativo, estágio que requer menos umidade. “Ainda não estamos nos períodos críticos da cultura, de floração ou emissão das vagens, mas estamos em estado de alerta, de atenção”, explicou.
Para Cardoso, que é agrônoma, seria “alarmista” falar em perdas no momento, embora os prognósticos indiquem chuvas abaixo da média no Estado em janeiro. “Se tivermos chuvas em períodos de floração e formação das vagens, pode ter recuperação boa”, ponderou.
A especialista disse que as regiões oeste e noroeste, que respondem por fatia relevante da produção gaúcha, estão recebendo menos chuvas.
Essa é a mesma avaliação da agrometeorologista da Rural Clima Ludmila Camparotto.
A situação está “limitando o desenvolvimento de algumas lavouras” e “gerando preocupações para os produtores”, disse Camparotto, frisando que as plantações mais adiantadas já estão em estágio de floração e outras em enchimentos de grãos.
As lavouras mais secas podem ter a condição agravada, já que a região noroeste, uma das mais importantes do Estado, não deve ter chuvas nos próximos 12 a 15 dias, segundo a Rural Clima.
“A gente só vai ter um sistema que deve provocar chuvas na região, avançando pela Argentina, por volta do dia 18 a 19 de janeiro. Se vier (a chuva), ajuda a estancar perdas, mas muitas lavouras na região podem ter problemas, até porque teremos temperaturas muito altas”, afirmou Camparotto.
Em outras áreas do Estado, como o nordeste, plantações estão em melhores condições, uma vez que vêm recebendo umidade e há previsões de precipitações a partir do dia 11.
Apesar das preocupações, a especialista da Rural Clima avalia que ainda é “muito prematuro falar em quebra de produção” no Rio Grande do Sul.
Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus, concorda que é prematuro falar em quebra de produção.
“Apesar de estar seco nas últimas semanas, a lavoura no norte gaúcho possui um solo muito bom, e com as boas chuvas de dezembro e novembro somadas ao pouco que choveu por lá nos últimos dias, isso faz com que a situação esteja relativamente tranquila”, disse ele.
Nascimento disse ainda que as chuvas devem voltar ao Rio Grande do Sul durante a segunda quinzena de janeiro e “com bastante regularidade depois do dia 20”. Essa condição se repete também em fevereiro, acrescentou ele.
Se confirmadas as expectativas mais otimistas, o Estado poderia se recuperar de problemas como enchentes e seca dos últimos anos. Em 2021/22, por exemplo, a safra gaúcha caiu pela metade, por conta da estiagem.
Chuvas em Mato Grosso e Goiás
Nas demais regiões produtoras do país, as condições climáticas são em geral “muito boas”, acrescentou Nascimento, com a safra de soja podendo “compensar” alguns eventuais problemas no Rio Grande do Sul. Mas há preocupações com precipitações excessivas dificultando o início da colheita no Centro-Oeste.
Enquanto no Rio Grande do Sul as chuvas acumuladas nos próximos dez dias vão superar, na melhor das hipóteses, 20 milímetros, na região nordeste, segundo dados meteorológicos do terminal da LSEG, em Mato Grosso algumas áreas vão receber cerca de 170 milímetros (nordeste), trazendo preocupações para fazendeiros no principal Estado produtor do Brasil.
Em Goiás e diversas outras áreas de Mato Grosso, os volumes acumulados no período terão mais de 100 mm de chuvas no período, segundo as previsões, o que pode dificultar a colheita naquelas lavouras prontas para as colheitadeiras entrarem nos campos.
As chuvas, se forem em excesso, podem dificultar, além da colheita, os processos logísticos e de armazenagem.
“Pode sim trazer paralisações nos trabalhos de colheitas, acho que teremos algumas brechas, mas o produtor vai ter de estar preparado, com maquinário pronto para não perder oportunidades de colheita”, disse Camparotto, da Rural Clima, apontando um primeiro trimestre com “bastante chuva na região central”.
Nascimento frisou que as condições de chuva seguem fortes nesta primeira quinzena na região central do país. “As lavouras que já estariam sendo colhidas neste período provavelmente terão problemas por invernada.”
Ele disse que, na segunda quinzena, começam a aparecer algumas “janelas” para colheita que o produtor deverá aproveitar.