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Temos que romper com o antigo anormal

04 jul 2022, 15:22 - atualizado em 05 jul 2022, 9:37
Colunista Gustavo Mançanares Leme fala sobre as mudanças nas relações com o trabalho (Imagem: Victoria Heath/Unsplash)

Em um passado não tão distante, era muito comum ver as pessoas buscar mais emprego do que trabalho. A diferença entre trabalho e emprego é que o trabalho está conectado ao seu propósito.

Antigamente, os empregos eram lineares, o profissional podia começar como apertador de parafusos júnior e terminar como vice-presidente apertador de parafusos.

O crescimento acontecia por tempo de serviço e as pessoas trabalhavam 20, 30, 40 ou até 50 anos na mesma empresa. O objetivo maior era guardar dinheiro para uma boa aposentadoria. Para isso, “engoliam sapos” impostos por chefes, muitas vezes tiranos e incompetentes, e suportavam atuar em uma cultura organizacional desalinhada as suas crenças.

Tempos depois surgiu uma nova geração e o sucesso profissional passou a representar sucesso econômico.

Foi nessa época que apareceram os workaholics – gente viciada ou doente por trabalho. Eles deixavam de lado a família e hobbies, abafando sua personalidade e esquecendo-se dos seus valores. Trabalhavam até altas horas, não curtiam os feriados, fins de semana e nem tiravam férias de maneira adequada. A maioria adoecia, portando o falso orgulho dos seus sobrenomes organizacionais e os status que conseguiram com tanto esforço – era pura máscara organizacional.

Foi essa geração que criou o costume do happy hour ao final do expediente, pois durante o horário do trabalho não se podia ter horas felizes.

Os filhos da geração seguinte presenciaram suas mães entrarem no mercado de trabalho e, com elas muito tempo fora de casa, acabaram sendo criados por terceiros: parentes, babás e televisão.

Seus pais, para compensarem o tempo despendido no trabalho e não com eles, sentiam-se culpados e atendiam quase todos os seus desejos.

Assim, formou-se uma geração que não sabe lidar com a frustração, com o “não pode” e o “não deve” – fazem apenas o que gostam de fazer. Ao entrarem no mercado de trabalho, fizeram o turnover das empresas explodir.

O fazer o que gosta trouxe para esses jovens o encontro com as suas essências e, em consequência, o senso de propósito liberou os seus verdadeiros talentos e veias artísticas. Esta geração sabe procurar por empresas que tenham a mesma conexão com suas crenças e isso acabou mudando o jogo de forma muito positiva.

Cuidar do alinhamento entre propósito, alegria e talento muda a nossa vida, principalmente à medida que o conceito de lifelong learning ganha força.

Essa mudança de perspectiva ultrapassa a visão de que a educação se limita aos sistemas escolares formais. A aquisição de conhecimentos e habilidades ocorre ao longo da vida, cuja expectativa aumenta a cada ano.

E nesta linha histórica surge a pandemia da Covid-19, que também ajuda a mudar ainda mais esse game. Ela fez grande parte dos profissionais se “desplugar” da matrix, dando clareza e sanidade que não se trata de um novo normal, mas sim de rompermos com o antigo anormal.

Neste rompimento, as organizações devem dar mais valor e estimular:

  • Construção das relações de confiança;
  • Trabalho coletivo;
  • Escuta ativa (e atenta);
  • Consolidação de ambientes que permitam com que as pessoas sejam elas mesmas;
  • Prática da liberdade com responsabilidade (dor do dono);
  • Sustentação de uma cultura que faça com que os talentos escolham ficar, porque eles se conectam com os princípios organizacionais e se divertem trabalhando.

Gustavo Mançanares Leme é sócio diretor da Tailor | Headhunter & Estrategista de RH. É Conselheiro de Administração, Advisory de Startups e Mentor de Carreiras. Tem grande experiência em processos de Identificação de Talentos, Transformação Cultural e Turnaround de Modelo de Negócios.

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