Temor de intervenção nas estatais contrasta com Congresso parado, vê gestora de Gustavo Franco
Brasília anda meio parada. Até aqui, as discussões no Congresso seguem morosas, com poucos avanços nos principais temas e quase nenhuma aprovação no ano, destaca trecho do consenso de março da gestora Rio Bravo, do ex-BC Gustavo Franco.
De acordo com o documento, obtido em primeira mão pelo Money Times, essa lentidão parlamentar acontece em um ano com pouco tempo para aprovações em virtude do calendário das eleições municipais. Por outro lado, a falta de atividade no Congresso contrasta com o temor de intervenções do governo nas empresas estatais.
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“Ao longo do último mês, a Petrobras divulgou a decisão de não pagar dividendos que eram esperados pelo mercado. A medida lembrou os investidores das intervenções feitas em governos anteriores e o aumento da percepção de risco afetou negativamente os indicadores financeiros”, escrevem Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo, e Luca Mercadante, economista da gestora.
Segundo eles, também está no radar a questão fiscal, sendo que o mês passado foi marcado pelas expectativas quanto ao tamanho do contingenciamento a ser visto no relatório bimestral, que é um balanço preliminar do resultado do governo.
“Nossa expectativa é de que o bom resultado da arrecadação permita atrasar os represamentos de gastos e a mudança da meta fiscal para o segundo relatório bimestral, que é divulgado em junho”, aponta o documento.
Banco Central, PIB e inflação na visão da gestora de Gustavo Franco
Assim como o esperado, o Banco Central fez dois cortes de juros neste início de ano, mesmo com o cenário político conturbado e o Federal Reserve mantendo o aperto monetário por mais tempo. No entanto, o BC passou a sinalizar apenas uma reunião à frente, aumentando suas opções no caso de eventuais ajustes de rotas.
A Rio Bravo destaca que a inflação está desacelerando aos poucos, mesmo com os preços de serviços ainda operando acima das expectativas.
O que mais pesa nas decisões monetárias agora é a dinâmica do mercado de trabalho. A taxa de desemprego segue abaixo da taxa neutra, a 7,6%, e os salários têm se recuperado, alcançando os patamares observados no pré-pandemia com alta anual de 3,8%, o que pode ser traduzido em mais inflação a frente.
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“Até aqui, o processo de desinflação coexistiu com um mercado de trabalho apertado tanto no Brasil quanto nos EUA, mas a persistência do aperto talvez represente um problema para que as autoridades monetárias consigam manter a inflação na meta”, diz o texto.
Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), o resultado do quarto trimestre de 2023 apontou para certa estabilidade da economia brasileira ao registrar crescimento acumulado no ano de 2,9%. Mas vale destacar que, apesar do crescimento positivo, houve desaceleração relevante no final do ano, com os primeiros trimestres representando parte expressiva do crescimento do período.
“Ainda esperamos uma atividade mais fraca do que a do ano passado, mas os resultados têm levado as projeções para cima, podendo ser uma preocupação também para o BC”, diz o consenso da Rio Bravo.