Teimosia de Campos Neto? Veja o que vai pesar na decisão do Copom sobre a Selic
Semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para definir o futuro da Selic. Se depender do mercado, a taxa básica de juros entra em trajetória de queda já na próxima reunião, uma vez que a Selic vai completar um ano no patamar de 13,75%.
A avaliação geral é de que a inflação já tem sinais de melhora. Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou para -0,08%, registrando a primeira deflação mensal desde outubro do ano passado. Com isso, o indicador desacelerou a alta acumulada em 12 meses até junho para 3,16%.
Nesta terça-feira (25), saiu a prévia da inflação de julho e reforçou esse discurso. O IPCA-15 desacelerou para -0,07%, ficando no centro da meta no acumulado de 12 meses, com alta de alta de 3,19%.
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O que pesa na Selic
Segundo o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) do Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter inalterados os parâmetros do sistema de metas aumentou a probabilidade de um corte na Selic.
“A melhora da inflação corrente, a moderação do crescimento da atividade econômica e os sinais de desaceleração no mercado de trabalho indicam haver espaço para que a taxa básica de juros da economia entre em um ciclo de flexibilização em agosto”, aponta o RAF.
O documento destaca que os passos futuros do Copom, incluindo o timing e a magnitude do primeiro corte, estão condicionados à dinâmica inflacionária. O resultado do IPCA de junho foi influenciado pelos preços de alimentos e industrializados, além do efeito da redução dos preços de commodities e do programa de descontos para compra de veículos novos. Por outro lado, a inflação de serviços voltou a apresentar alta em junho (0,62%).
No que se refere à atividade econômica, o IFI aponta que o setor de serviços voltou ao campo positivo, assim como a produção industrial. No entanto, apesar do ligeiro avanço no último mês, as atividades da indústria e dos serviços têm recuperação lenta.
“Os dados do mercado de trabalho também exibem sinais de moderação: estabilidade do nível de emprego, diminuição da força de trabalho e desaceleração da massa de rendimentos”, diz o relatório.
Tamanho do corte
A redução da Selic em agosto já está precificada. O que gera dúvidas é o tamanho do corte: a maior parte do mercado fala em 0,25 ponto percentual. No entanto, um grupo não descarta a possibilidade de uma revisão de 0,50 pp para baixo.
“Reitero meu cenário de corte de 0,50 pp e taxa terminal da Selic ao final deste ano em 11,75%”, afirma o economista André Perfeito.
Já Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays, manteve a projeção de que a melhora da inflação subjacente ainda não é “profunda” o suficiente, mas que abre espaço para um corte maior.
“Nossa expectativa de cortes de 0,50 pp a partir de setembro (a 9,5% no 3TRI de 2024) depende da continuada melhora na dinâmica inflacionária, considerando que o ano de 2025 vai entrar no horizonte relevante do Copom na próxima reunião”, diz.
Campos Neto, o teimoso?
Na visão do governo (e de parte do mercado), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está sendo muito rigoroso na conduta da política monetária.
Há 15 dias, durante a sua live semanal “Conversa com o presidente”, Luiz Inácio Lula da Silva disse que Campos Neto era “tinhoso”, mas que a inflação está caindo e logo a Selic também irá cair.
“Precisamos garantir que o Brasil não jogue fora mais uma oportunidade. Você percebe que as pessoas, que estavam pessimistas, estão vendo que o dólar caiu, estão vendo a economia crescer, estão vendo sinais de que o salário vai crescer, o emprego vai crescer, ou seja, as pessoas estão ficando mais otimistas. A inflação tá caindo e logo, logo vai começar a baixar a taxa de juros, porque o presidente do Banco Central é teimoso, é tinhoso, mas não tem mais explicação”, afirmou Lula.
Além disso, o Senado convidou o presidente do BC para prestar contas sobre a política monetária adotada. A princípio, a sabatina será no dia 10 de agosto.
No entanto, a ata do último Copom destacou que não é Campos Neto quem está travando a redução da Selic. No parágrafo 19 foi apontada uma divergência entre os membros do comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos.
“Enquanto uma parte da diretoria avalia haver elementos para o início gradual de redução da taxa Selic na
reunião de agosto, outro grupo, mais cauteloso, acha necessário acumular mais evidências de desinflação nos
componentes mais sensíveis à política monetária, como os preços de serviços e os núcleos de inflação, e de maior
reancoragem das expectativas longas”, destaca o RAF.
Vale lembrar que essa será a primeira reunião do Copom na qual Gabriel Galípolo participa como Diretoria de Política Monetária. Galípolo fez parte da equipe de Fernando Haddad, no Ministério da Fazenda, e indicado direto de Lula para o Banco Central.