Saúde

Teich nega intenção de afrouxar isolamento e decide não divulgar publicamente diretrizes

30 abr 2020, 20:54 - atualizado em 30 abr 2020, 20:54
Nelson Teich
Há coisas que são básicas, não tem como ter liberação de isolamento quando há uma curva em franca ascendência” (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O ministro da Saúde, Nelson Teich, negou nesta quinta-feira que tenha a intenção de afrouxar as medidas de isolamento social decretadas por Estados e prefeituras para conter o avanço do coronavírus, e decidiu não divulgar publicamente as diretrizes formuladas pela pasta sobre o tema para evitar que sejam entendidas como uma recomendação de relaxamento.

“Ninguém está pensando em relaxar isolamento, estamos criando diretrizes, é completamente diferente”, disse o ministro em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. “Se liberar uma diretriz dessa puder soar como uma recomendação de relaxamento, isso seria muito ruim, não é o caso.”

O ministro havia prometido para esta semana a apresentação das diretrizes do Ministério da Saúde para governos estaduais e prefeituras decidirem sobre um possível afrouxamento, ressaltando que diferentes fatores seriam levados em consideração.

No entanto, diante da explosão do número de casos e mortes por coronavírus nos últimos dias no Brasil –superando inclusive a China, o primeiro país afetado pela pandemia de Covid-19– o ministro passou a se mostrar favorável ao isolamento.

“Há coisas que são básicas, não tem como ter liberação de isolamento quando há uma curva em franca ascendência”, disse Teich, no dia em que o país bateu um novo recorde diário de casos, com 7.218 notificações, totalizando agora mais de 85 mil registros.

Desde que assumiu o ministério em 17 de abril Teich vinha evitando uma declaração direta sobre a necessidade de se manter o isolamento, afirmando ao ser anunciado que estava em “alinhamento completo” com o presidente Jair Bolsonaro, que defende um afrouxamento das medidas para reativar a economia.

Em audiência virtual no Senado na véspera, o ministro reconheceu a eficácia do distanciamento para reduzir o ritmo de contaminação.

Segundo Teich, as orientações do governo foram feitas com base em dados dos Estados e municípios, além de levar em conta situações vividas em outros países que estão em estágios mais avançados da doença.

“Ninguém vai chegar aqui com uma coisa milagrosa”, disse ele, ao ponderar que o mundo inteiro está lidando com essa questão.

O Brasil, no entanto, antecipou as discussões sobre o afrouxamento em relação a países que já passaram pelo pico de casos, aumentando as preocupações sobre uma aceleração da doença diante de sistemas de saúde próximos do esgotamento em diversos Estados.

Teich assumiu o ministério neste mês após os atritos entre Bolsonaro e o então ministro Luiz Henrique Mandetta, que era firme defensor do isolamento, em linha com especialistas e com a Organização Mundial da Saúde. Ele foi chamado para assumir o cargo ao mostrar ao presidente a possibilidade de um “isolamento inteligente”.

O ministro ressalvou que apesar das diretrizes, a decisão sobre isolamento é de Estados e municípios, e disse ver essa discussão “muito mais” como política do que social. Segundo Teich, mesmo os locais que querem flexibilizar o isolamento não estão tomando essa decisão “de forma irresponsável”.

Questionado sobre estudo que apontou a possibilidade de o país superar em breve a marca de 1.000 mortes por dia em consequência do coronavírus, o ministro disse que é uma possibilidade diante do avanço da pandemia, mas ponderou que também pode não acontecer.

Teich disse que o aumento de mortes não irá mudar a política do ministério no enfrentamento à pandemia, que no momento está focada em estruturar da melhor forma a rede de saúde para atendimento aos pacientes.