Política

Teich diz que percebeu que não teria autonomia e cita cloroquina como motivo de saída

05 maio 2021, 11:54 - atualizado em 05 maio 2021, 12:42

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse nesta quarta-feira à CPI da Covid no Senado que percebeu que não teria autonomia para comandar a pasta da maneira que achava adequada e citou discussões dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina como um dos motivos para seu pedido de demissão.

Indagado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre seu sucessor no ministério, o general Eduardo Pazuello, Teich disse acreditar que o perfil mais adequado para comandar a pasta seria o de alguém com experiência em gestão em saúde.

“As razões da minha saída do ministério são públicas. Elas se devem, basicamente, à constatação de que eu não teria a autonomia e a liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19”, disse o ex-ministro à CPI.

“Enquanto a minha convicção pessoal, baseada em estudos, era de que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberar…. Existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina (CFM), que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. Isso aí foi o que motivou a minha saída”, completou.

O depoimento de Teich chegou a ser interrompido e a reunião da CPI suspensa, quando os ânimos se acirraram entre a bancada feminina e os senadores governistas Ciro Nogueira (PP-PI)e Marcos Rogério (DEM-RO).

A composição da CPI, formada a partir de indicações de lideranças partidárias segundo a regra da proporcionalidade, não incluiu mulheres entre os titulares. Ainda assim, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), decidiu conceder o direito às parlamentares de fazerem perguntas aos depoentes, mesmo que não tenham a prerrogativa de voto ou de apresentar requerimentos pelo fato de não integrarem formalmente a comissão.

Presidente do PP e uma das principais lideranças do centrão. Ciro questionou a concessão de fala a uma das parlamentares, uma vez que não há previsão regimental, mas o clima ficou tenso e Aziz resolveu suspender a reunião por alguns minutos.

“Podem brigar aí à vontade”, disse o presidente, completando ter feito a concessão à bancada feminina após consultar o plenário.

Teich é o segundo ex-titular da pasta a depor à CPI. Na terça, parlamentares da comissão ouviram o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

Inicialmente, esta quarta estava reservada para a oitiva do ex-ministro Eduardo Pazuello, que informou à CPI que teve contato com duas pessoas que testaram positivo para Covid e, portanto, iria cumprir quarentena. Os depoimentos na CPI devem ocorrer de maneira presencial.

Teich é o segundo ex-titular da pasta a depor à CPI. Na terça, parlamentares da comissão ouviram o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O presidente da comissão aproveitou para informar para os colegas que procurou o comandante do Exército o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

“Liguei para o general Paulo Sérgio, primeiro, para comunicá-lo, dizendo que, com a convocação do ex-ministro da Saúde, senhor Pazuello, não era o Exército que estava vindo aqui, deixar muito claro e separar o Pazuello do Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro não está sendo ouvido na CPI”, explicou Aziz.