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“Tecnologia tem que ser voltada para sociedade”, diz criadora do movimento Black Money

18 nov 2019, 7:10 - atualizado em 18 nov 2019, 7:11
Movimento Black Money Mulheres Negras
O Movimento Black Money é um Hub de inovação tecnológica para a emancipação e a autonomia da comunidade negra no Brasil e no mundo, define fundadora (Imagem: Divulgação/TV Brasil)

Ela está na lista das 20 mulheres mais poderosas do Brasil, segundo a Revista Forbes, e em 2018 foi eleita uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo com menos de 40 anos.

Com carreira consolidada na área de Tecnologia da Informação (TI), Nina Silva é uma das criadoras do Movimento Black Money, que tem sido a porta de entrada para a transformação de muita gente no mundo do trabalho, especialmente da população negra.

“O movimento Black Money é um Hub de inovação tecnológica para a emancipação e a autonomia da comunidade negra no Brasil e no mundo”, define Nina.

Em entrevista ao programa Impressões, que vai ao ar hoje (18), às 23h na TV Brasil, Nina Silva falou de educação financeira, empreendedorismo e tecnologia e lembrou como tudo isso está ajudando a mudar a realidade de muitos brasileiros.

Formada em administração, Nina nasceu numa das maiores favelas da América Latina. Virou consultora em TI, chefiou equipes, trabalhou em diversas multinacionais, inclusive fora do país. Depois de sofrer com a Síndrome de Burnout (provocada pelo excesso de trabalho), foi morar nos Estados Unidos.

“Lá, comecei a observar que o meu problema não era sair do Brasil, o meu problema não era sair da tecnologia e sim entender que a tecnologia deveria ser mais inclusiva e mais realista. Porque a tecnologia tem que ser voltada para a sociedade. E o que é a sociedade senão todas as pessoas? E que essas pessoas são diferentes… Se a tecnologia não é feita por todas essas pessoas, ela nunca vai causar impacto em quem precisa alcançar”, afirma.

Nina ressalta a importância da população negra na economia do país.  “A gente está falando de R$ 1,7 trilhão movimentados na economia”, 56% da população brasileira, cerca de 115 milhões de pardos e pretos autodeclarados”, acrescenta, citando dados do IBGE. Ela lembra que o acesso ao crédito a essas pessoas ainda é um desafio.

“A gente está falando de uma maioria populacional que hoje representa dois terços dos desempregados do país e 53% dos microempreendedores, que não têm acesso a crédito nem a serviço financeiro”.

Nina ressalta a importância da população negra na economia do país (Imagem: Facebook do Movimento Black Money)

Foi a partir dessa constatação que surgiu a ideia de criar o Black Money, plataforma online que permite a conexão entre empreendedores e consumidores negros, um negócio de impacto social que gera lucro, emprego e renda.

A iniciativa, que é uma espécie de centro de inovação, oferece treinamentos em gestão e tecnologia e tem produzido bons resultados.

“Somos impactados diretamente por mês por 80 mil pessoas em relação às nossas redes, em mailing e eventos”, observa a criadora do Black Money.

“A gente vem trabalhando educação e pautando empresas que, muitas vezes, querem divulgar as vagas e aumentar a diversidade dentro do seu corpo de trabalhadores. A gente se conecta tanto a essas pessoas que passam pelos nossos cursos quanto a essas empresas que querem absorver uma mão de obra que está em desenvolvimento e é qualificada”.

Atenta às mudanças, Nina sabe da importância de criar espaços institucionais para acompanhar os novos tempos tecnológicos e se reinventar num mercado competitivo.

Hoje, a tecnologia não consegue ‘sobra’ em algumas áreas. São áreas que, muitas vezes, têm uma especificidade ou então são muito novas, e a gente ainda não tem pessoas completamente formadas nessas áreas”.

Por isso, ela defende o diálogo entre empresas e sociedade civil na construção de espaços de desenvolvimento conjunto. “O processo de desenvolvimento tem que ser contínuo.

E não acharmos que as pessoas já têm que vir preparadas porque não vai ter preparação possível nesse mundo tecnológico, em que a cada hora você está obsoleto. A cada hora, uma coisa nova vem.

Então, o que se faz com esse profissional? Você o coloca na rua ou trabalha a transformação e o desenvolvimento dele ao longo do período?”, indaga.