Tecnologia te ajuda ou atrapalha a hora de ganhar dinheiro?
Ganhar dinheiro é mais sobre autocontrole e foco do que sobre matemática, ainda mais em tempos em que, com uma simples aproximação, seu celular já conclui a compra. Gastar ficou mais fácil com os anos, o que é uma mão na roda para a vida atribulada da cidade, mas um perigo para a sua liberdade financeira.
Voltemos no tempo. O ano era 1994. Eu, no auge dos meus sete anos, comecei a ter um ritual anual com a minha mãe. Às vésperas do Natal era a época de comprar presentes para meus primos e renovar o guarda-roupa, pois estava na fase de crescer igual capim.
Me lembro de ir a lojas como Pakalolo e Side Play (aquelas com produtos da Looney Tunes). Era um verdadeiro evento, uma tarde toda dedicada a compras, com data e hora para começar e terminar. Depois, só iríamos voltar no ano seguinte.
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Meus pais eram lojistas, donos de papelaria no centro de São Paulo. Portanto, me considero classe média. Não passei por grandes dificuldades, mas, ao mesmo tempo só fui viajar de avião aos 21 anos, no meu primeiro mochilão.
Mesmo sendo classe média, a compra de roupa era datada. O mesmo ocorria com a ida aos restaurantes, geralmente mensais. Havia data para acontecer. No restante do mês, por falta de aplicativos de entrega de comida, a rotina era meus pais se virarem nos 30 na cozinha para alimentar eu e meu irmão.
Tecnologia trouxe velocidade
Avançamos agora no tempo. A tecnologia trouxe velocidade em vários aspectos, mas inclusive na maneira como consumimos. Minha filha de um ano e quatro meses literalmente já sabe comprar. Toda vez que vou ao mercado ela agarra meu cartão na hora de pagar e faz questão dela mesma o aproximar da maquininha até ouvir o barulho da confirmação.
Quer uma roupa? É possível comprar em segundos algo Brasil afora ou até da China. Talvez um novo jogo? Você não precisa mais caçar uma fita de videogame. É só entrar nas lojas online e selecionar um do catálogo. Faltou um ingrediente na receita? Há aplicativos que fazem o mercado na hora.
Antigamente até existia uma certa resistência a alguns produtos nas compras online. O brasileiro comprava celular, mas não roupas ou tênis, afinal precisava experimentar. Hoje em dia a barreira caiu: podemos comprar qualquer produto ou serviço em segundos.
É uma comodidade, mas também um perigo se você quer juntar dinheiro, pois gastar se tornou tão fácil que não percebemos mais a dor de o dinheiro sair da carteira.
Uma pesquisa da consultoria McKinsey de 2023 mostrou que os meios de pagamento mais utilizados pelos brasileiros eram o cartão de débito (38%), de crédito (22%), Pix e transferências (14%) e, por fim, o dinheiro (10%).
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Não estou propondo a volta ao escambo ou aos primórdios da era do Real em que gastar com dinheiro era mais comum. No entanto, cabe o alerta com os meios de pagamento virtuais: ao comprar algo e viver o dia a dia, você acompanha o seu saldo bancário? Checa a fatura do cartão?
Há ainda um segundo cuidado. Como gastar virou algo do cotidiano, sempre devemos nos policiar sobre o que é o suficiente. Vale o questionamento constante sobre o que estamos dispostos a abrir mão no presente (ou não) para encontrar um equilíbrio entre ter satisfação no hoje e certa segurança no amanhã.
“O que o bolso não vê, a mente não sente”, poderia dizer o ditado. Gastar dinheiro hoje em dia dói menos, mas a ferida pode ser gigante a longo prazo.
O lado bom da tecnologia
Não quero que me entendam mal. A tecnologia também é responsável por encurtar distâncias na comunicação, por acelerar negócios, por disponibilizar acesso a milhões de livros em um só dispositivo, por promover conteúdos gratuitos de diversos temas e até por nos fazer investir de maneira mais fácil.
Na primeira vez que quis investir tive de reunir cópias de alguns documentos como RG e comprovante de residência e enviar pelo Correio. Hoje em dia você se cadastra em uma corretora pela manhã e à tarde já é investidor do Tesouro Direto.
A verdade é que temos muito conforto com tudo o que ganhamos com a tecnologia, mas cabe usar moderadamente quando o assunto é juntar dinheiro.