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Tecnologia há, biomassa também. “Lixo” do eucalipto ainda vai virar etanol e eletricidade

29 jun 2021, 12:46 - atualizado em 29 jun 2021, 15:22
Potencial de energia que pode ser aproveitado dos eucaliptos já é dominado (Imagem: Wikimedia Commons)

Tome-se o estudo reproduzido na Unicamp que demonstra que com 165 mil toneladas de resíduos de eucaliptos, pode-se produzir 34 milhões de litros anuais de etanol e cogerar 100 GW (gigawatt) de eletricidade pelo mesmo período.

Extrapola-se para o Estado de São Paulo, que gera 8,6 milhões de toneladas de resíduos anuais.

Imagina-se, na sequência, as empresas de papel e celulose aproveitando a energia gerada por esses rejeitos (raízes, galhos etc) que não servem para a produção industrial. Ou quaisquer outras companhias que adquirissem essa biomassa para o mesmo fim.

Nenhuma o faz ou mesmo pensam em fazer – até onde se tem notícia – e basicamente o que sobra dos cortes das árvores acabam vendidos ou doados para a produção de carvão vegetal. Fazendo o favor, às papeleiras, de que o “lixo” seja tirado dos talhões.

Viabilidade não falta, no entanto. No trabalho do doutorando Guilherme Pessoa, e apresentado ao mercado e à comunidade pelo cientista Gonçalo Pereira no Canal Bioenergia da Unicamp -, fica claro que se não há gargalos técnicos, muito menos há problemas com oferta de biomassa.

Há eucalipto no Brasil inteiro praticamente, cujos resíduos, à razão de 7 toneladas por hectare, responderiam por 0,85% da oferta de energia se aproveitados. Depois de Minas, maior produtor, vem São Paulo, e o Mato Grosso do Sul em terceiro.

A Eldorado Brasil, ainda enrolada com disputas societárias entre a J&F Investimentos (dos irmão Batista, da JBS) e a Paper Excellence, já tem a sua termoelétrica a partir dessa biomassa no Mato Grosso do Sul. Mas não produz etanol.

“No nosso trabalho, prevemos a produção de etanol e a cogeração de energia elétrica a partir dos resíduos da lignina (estrutura celulósica) e do biogás gerados pelos efluentes”, diz o jovem pesquisador. Nas usinas de açúcar, a cogeração sai do bagaço da cana e eventualmente da palha também.

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2G

Antes de mais nada, estamos falando de etanol de segunda geração, o 2G.

Dispensemos a complexidade técnica da explicação e fiquemos com o que interessa: não, não há nenhum segredo para usinas operarem com esse resíduo, explica Guilherme Pessoa.

Mesmo que não haja plantas operando com biocombustível da biomassa que sobra dos eucaliptos, as rotas químicas para “quebrar” a celulose já são dominadas.

A primeira planta da Raízen, de etanol 2G, produz 40 milhões de litros anuais, a partir da celulose encontrada no bagaço da cana. Uma segunda planta foi anunciada. A GranBio já tem a dela faz tempo também.

Daí, que no universo produtivo pesquisado no estudo do engenheiro químico, em 165 mil toneladas de resíduos, a potencialidade fica mais digerível.

Mais uma vez: quando se fala em produção de etanol e de energia elétrica, a escala da oferta da matéria-prima é fundamental para comportar margens estreitas de comercialização (como na crise de consumo atual), como é o caso da transformação que o Brasil conhece da cana-de-açúcar.

Dos 9 milhões de hectares de florestas plantadas, 70% são de eucaliptos.

Uma pequena parte disso pode gerar negócio, com a oferta de energia elétrica pressionada cada vez mais com o regime de chuvas impactando a geração tradicional, ou com a demanda por etanol (e monetizado pelo RenovaBio) com o futuro do carro elétrico a essa célula, além de várias gerações mais com os flex rodando.