Tchau, dólar? Entenda se comércio em outras moedas é mais vantajoso para o Brasil e o seu bolso
Durante sua viagem à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o uso de outras moedas além do dólar no comércio entre países, especialmente os emergentes.
“Porque que um banco como o Brics não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do Brics?”, questionou Lula em discurso de posse da ex-presidente Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
O presidente defendeu o uso de uma moeda alternativa ao dólar no comércio internacional entre os países do bloco e até a ampliação do comércio nas próprias moedas.
Essa não é a primeira vez que Lula quer tirar o dólar da jogada comercial. No início do ano, durante uma viagem à Argentina, foi anunciado que os países estão estudando a criação de uma moeda única. A nova moeda seria utilizada apenas em transações comerciais e financeiras entre países do Mercosul.
Além disso, no fim de março, o Brasil e a China anunciaram que vão criar uma instituição bancária que permitirá que as transações bilaterais entre os países não precisem passar pelo dólar.
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As vantagens de excluir o dólar
Por uma questão de aceitação e confiabilidade, o dólar é a moeda mais utilizada em termos de transações globais no mundo. No entanto, Marcelo Cursino, gerente de estratégia comercial do Braza Bank, destaca que quando um país não é detentor de dólar, como é o caso dos emergentes, existem consequências.
Uma delas é a falta de controle na política monetária, que acaba sendo guiada pelo emissor. Além disso, o país precisa enfrentar com inflação indireta. Quando o dólar sobe, produtos importados e matérias-primas ficam mais caras e essa alta acaba impactando o bolso do consumidor.
Outro problema são as sanções econômicas, conforme a política externa do emissor e a rastreabilidade do fluxo financeiro entre bancos e países por meio dos sistemas financeiros.
Por exemplo, quando os Estados Unidos promovem sanções contra países com os quais possuem algum atrito, os demais países são pressionados e tendem a reduzir suas negociações com os países sob sanção, visto o receio de também sofrerem com restrições.
“Para o Brasil, vejo como positiva a criação desse canal de pagamentos alternativo, visto que favorece o estreitamento de relações econômicas com um parceiro muito importante para a balança comercial brasileira; reduz a dependência do dólar e, consequentemente, dos movimentos correlacionados com a moeda, como inflação, crises e outros, além de diminuir custos e tempo no processamento de operações. Isso torna os brasileiros mais competitivos e representativos como integrantes do sistema financeiro global”, afirma.
O lado B das moedas alternativas
No entanto, nem sempre a troca da moeda vale a pena. Lá em janeiro, quando entrou no radar o tema de moeda única para comércio no Mercosul, os economistas alertaram que era preciso avaliar não apenas questões fiscais, mas também levar em conta o tamanho das economias e o papel dos bancos centrais locais.
“A Argentina possui uma economia dolarizada, além de diversos outros problemas monetários. A criação de uma moeda comum nos moldes discutidos, muito provavelmente não refletiria o câmbio oficial argentino e seria muito mais vantajoso para exportação para o Brasil, mas pioraria muito a possibilidade de compra de produtos brasileiros pelos argentinos”, destacou Etóre Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos na época.