Taxas futuras de juros disparam com receios de Brasília; entenda
As taxas dos contratos futuros de juros fecharam com alta firme nesta quinta-feira, superior a 20 pontos-base em alguns vértices da curva, com investidores reagindo a dados fiscais piores, divulgados na véspera, e ao Orçamento do governo para 2024, que traz mais gastos e sugere dificuldades para o cumprimento da meta de primário zero.
Na tarde de quarta-feira, o Tesouro informou que o governo central teve déficit primário de 35,933 bilhões de reais em julho, ante um saldo positivo de 18,949 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado.
Foi o segundo pior resultado para o mês da série. A projeção dos analistas ouvidos pela Reuters era de rombo de 32 bilhões de reais.
No fim da tarde de quarta, os dados fiscais piores que o esperado já haviam impulsionado as taxas futuras de juros no Brasil. Este movimento continuou nesta quinta-feira, com investidores atentos também aos detalhes da apresentação da peça orçamentária para 2024.
Em entrevista coletiva no início da tarde, os ministros do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e da Fazenda, Fernando Haddad, confirmaram a meta fiscal de resultado primário zero para o próximo ano — um objetivo visto por economistas do mercado financeiro como difícil de ser alcançado.
Além disso, o Orçamento para 2024 traz uma ampliação de gastos de 129 bilhões de reais em relação a este ano. Para cumprir a meta de primário zero, o projeto estabelece um aumento de 168 bilhões de reais em arrecadação, incluindo receitas ainda não aprovadas.
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Os receios em torno da proposta orçamentária deram impulso às taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), em movimento favorecido ainda pela forte alta do dólar ante o real — neste caso, refletindo a disputa pela Ptax de fim de mês e também o mal-estar com a área fiscal.
“O fato é que até ontem (quarta-feira), quando foi divulgado o dado do déficit fiscal do governo central, o mercado estava calmo. E o janeiro 2029 teve alta de 30 pontos desde então”, destacou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
Para ele, no entanto, o avanço forte das taxas dos DIs não significa que o mercado não acredita mais no plano fiscal do governo.
“O que o mercado está fazendo é dando um recado: o governo aprovou o (projeto do) Carf, aprovou o arcabouço, mas qual será a execução disso? Não é que o arcabouço é horrível, mas há certa descrença”, acrescentou.
Com a área fiscal no foco, no fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,39%, ante 12,376% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,52%, ante 10,441% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,14%, ante 9,984%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,34%, ante 10,139%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,63%, ante 10,423%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava 7% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 93%.
Pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a taxa de desemprego do Brasil caiu a 7,9% no trimestre encerrado em julho, resultado mais baixo para o período em nove anos,
O avanço das taxas futuras no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries estarem em baixa durante a tarde, após a divulgação de novos dados de inflação e de emprego nos EUA.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 3,10 pontos-base, a 4,0867%.