Economia

Taxas futuras de juros disparam com receios de Brasília; entenda

31 ago 2023, 16:59 - atualizado em 31 ago 2023, 17:02
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Foi o segundo pior resultado para o mês da série. A projeção dos analistas ouvidos pela Reuters era de rombo de 32 bilhões de reais (Imagem: Flickr/ Ministério da Fazenda/ Diogo Zacarias)

As taxas dos contratos futuros de juros fecharam com alta firme nesta quinta-feira, superior a 20 pontos-base em alguns vértices da curva, com investidores reagindo a dados fiscais piores, divulgados na véspera, e ao Orçamento do governo para 2024, que traz mais gastos e sugere dificuldades para o cumprimento da meta de primário zero.

Na tarde de quarta-feira, o Tesouro informou que o governo central teve déficit primário de 35,933 bilhões de reais em julho, ante um saldo positivo de 18,949 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado.

Foi o segundo pior resultado para o mês da série. A projeção dos analistas ouvidos pela Reuters era de rombo de 32 bilhões de reais.

No fim da tarde de quarta, os dados fiscais piores que o esperado já haviam impulsionado as taxas futuras de juros no Brasil. Este movimento continuou nesta quinta-feira, com investidores atentos também aos detalhes da apresentação da peça orçamentária para 2024.

Em entrevista coletiva no início da tarde, os ministros do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e da Fazenda, Fernando Haddad, confirmaram a meta fiscal de resultado primário zero para o próximo ano — um objetivo visto por economistas do mercado financeiro como difícil de ser alcançado.

Além disso, o Orçamento para 2024 traz uma ampliação de gastos de 129 bilhões de reais em relação a este ano. Para cumprir a meta de primário zero, o projeto estabelece um aumento de 168 bilhões de reais em arrecadação, incluindo receitas ainda não aprovadas.

Os receios em torno da proposta orçamentária deram impulso às taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), em movimento favorecido ainda pela forte alta do dólar ante o real — neste caso, refletindo a disputa pela Ptax de fim de mês e também o mal-estar com a área fiscal.

“O fato é que até ontem (quarta-feira), quando foi divulgado o dado do déficit fiscal do governo central, o mercado estava calmo. E o janeiro 2029 teve alta de 30 pontos desde então”, destacou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.

Para ele, no entanto, o avanço forte das taxas dos DIs não significa que o mercado não acredita mais no plano fiscal do governo.

“O que o mercado está fazendo é dando um recado: o governo aprovou o (projeto do) Carf, aprovou o arcabouço, mas qual será a execução disso? Não é que o arcabouço é horrível, mas há certa descrença”, acrescentou.

Com a área fiscal no foco, no fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,39%, ante 12,376% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,52%, ante 10,441% do ajuste anterior.

A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,14%, ante 9,984%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,34%, ante 10,139%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,63%, ante 10,423%.

Perto do fechamento a curva a termo precificava 7% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 93%.

Pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a taxa de desemprego do Brasil caiu a 7,9% no trimestre encerrado em julho, resultado mais baixo para o período em nove anos,

O avanço das taxas futuras no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries estarem em baixa durante a tarde, após a divulgação de novos dados de inflação e de emprego nos EUA.

Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 3,10 pontos-base, a 4,0867%.

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