Taxas dos prefixados acima dos 13%: ‘Prêmios são condizentes com este cenário’, avalia estrategista do Itaú BBA; veja quais títulos comprar agora
Na última semana, os títulos públicos prefixados apresentaram taxas acima dos 13%, enquanto os investimentos atrelados à inflação atingiram os 7% à espera do pacote do governo sobre o corte de gastos.
Enquanto uma parte do mercado acredita que a remuneração é “surreal”, o estrategista de renda fixa do Itaú BBA, Lucas Queiroz, avalia que “os prêmios são condizentes”.
O mercado tem mostrado um receio com o compromisso do governo com a disciplina fiscal e precifica esse temor na curva de juros futura.
Enquanto é esperado medidas mais concretas e estruturais, o mercado ainda lida com a inflação já acima da meta estipulada pelo Banco Central, uma perspectiva de Selic mais alta por mais tempo e um dólar ainda mais forte pós-eleições nos Estados Unidos. A soma destes fatores resultam em uma maior percepção de risco.
“É um momento de cautela, um momento onde os investidores em geral ficam receosos. Tem realmente desafios grandes que a gente vai precisar ver do lado do governo e a gente precisa entender direito, mas os prêmios são condizentes com este cenário”, diz Queiroz em entrevista ao Money Times.
Apesar de haver uma soma de fatores para que a equação resulte em taxas altas durante o ano, em especial nesses últimos meses, o “X” da questão está na confiança do mercado de que as medidas de contenção orçamentária serão confiáveis. O adiamento do anúncio diversas vezes durante as últimas semanas, não contribuiu para esta percepção.
A expectativa agora é de que a equipe econômica junto com o governo pudesse anunciar o novo pacote após o evento do G20, que acontece até o dia 19 de novembro no Rio de Janeiro.
No entanto, a votação no Congresso pode ficar só para dezembro: primeiro porque o Senado está com a pauta da regulamentação da Reforma Tributária e segundo que parte das atividades em Brasília estão suspensas após as explosões do último dia 13.
Em relatório recentemente divulgado, a equipe macroeconômica do Itaú BBA estima que o cumprimento do arcabouço em 2025 depende de ao menos R$ 25 bilhões de redução de despesas.
Já para 2026, seria necessário um ajuste adicional de ao menos R$ 35 bilhões, sendo este o valor mínimo necessário na visão do banco para o pacote de revisão de gastos ter sucesso em obter alguma redução da percepção de risco fiscal.
Além disso, outro evento fiscal relevante no mês será o relatório bimestral de 22 de novembro, em que os analistas consideram importante um bloqueio adicional da ordem de R$ 10 bilhões.
“Reforçamos que sem o controle de gastos obrigatórios e discricionários, uma estratégia de ajuste fiscal com foco maior no aumento de receitas pode não ser capaz de produzir a confiança de que haverá uma consolidação fiscal saudável, que gere uma perspectiva de estabilidade da dívida pública, sobretudo em uma economia emergente de crescimento baixo e juros e carga tributária já elevados”, explicam.
Queiroz adiciona a essa discussão sobre o controle de gastos a recente alta na inflação e na desancoragem das expectativas. Em outubro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, subiu 0,56% — acima das expectativas.
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“A gente está passando para um momento delicado, isso é verdade. Grande parte do que a gente viu de desvio das expectativas do início do ano para agora no final em relação à inflação se deu aí em função do aumento no preço de alimentos. Quando a gente pega o que os investidores projetavam de IPCA e desdobra isso, o que mais alterou foi o preço de alimentos. Então, teve uma surpresa muito grande, nem sempre isso vai acontecer”, avalia.
O estrategista de renda fixa ainda diz que é possível olhar o copo “meio cheio” já que o mercado precifica a Selic em 14% no final de 2025. Quem escolheu apostar nesse cenário de maior risco comprando prefixados e título indexado à inflação se deu bem até o momento.
Com este cenário, onde investir na renda fixa?
Desta forma, a recomendação do BBA é de que os investidores mantenham uma parcela de seus investimentos em títulos pós-fixados já que, na avaliação de Queiroz, ainda terão bons rendimentos nominais quanto reais, além de diminuir a volatilidade da carteira.
Em relação aos prefixados, a orientação são títulos com vencimento em dois ou três anos por conta da precificação do mercado na curva de juros.
“Acho bastante interessante justamente porque a gente tem uma precificação na curva hoje de uma Selic que chega a 14% e depois quando ela vai cedendo lá na frente ela não para abaixo de 13%. Como a gente não tem esse cenário tão agressivo de taxa de juros a frente, um prefixado faria sentido”, diz.
Já para o longo prazo, Queiroz pondera que a melhor alternativa, principalmente para aquele investidor que pensa em aposentadoria, seria, os títulos atrelados à inflação, uma vez que este protege contra o principal risco na economia brasileira historicamente.
Fora esta motivação estrutural, há também a atratividade da taxa próxima aos 7%.
Segundo, o estrategista, após uma normalização nas taxas do tesouro nos Estados Unidos e o endereçamento da questão fiscal por aqui, será possível ver algum abrandamento da inflação.
Ainda sobre as medidas fiscais, Queiroz reforça que o que mercado não precisa de “grandes notícias”, e sim uma acomodação no cenário atual com algum direcionamento, já que falta clareza da trajetória fiscal.