Taxas dos contratos futuros do mercado de juros caem com exterior se sobrepondo a fatores internos
As taxas dos contratos futuros de juros fecharam em baixa nesta quinta-feira, com investidores colocando em segundo plano a decisão de política monetária do Banco Central, na véspera, e reagindo ao noticiário externo, onde os receios sobre uma possível desaceleração econômica global conduziram a aversão ao risco.
Na noite de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a taxa básica Selic em 13,75% ao ano e divulgou um comunicado que deixou pouca ou nenhuma margem para que o início do ciclo de corte de juros ocorra já no próximo encontro do colegiado, marcado para junho.
Neste cenário, a expectativa para a abertura nesta quinta-feira era de alta nas taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais curtos. No entanto, o exterior se sobrepôs aos fatores internos.
No noticiário internacional, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu elevar em 0,25 ponto percentual sua taxa básica, para 3,25% ao ano, reduzindo o ritmo de alta de 0,50 ponto das reuniões anteriores.
Na quarta-feira, o Federal Reserve já havia anunciado elevação de 0,25 ponto percentual em sua taxa de juros, para a faixa de 5,00% a 5,25%, mas passando indicações de que pode interromper o atual ciclo de alta.
Na visão do mercado, essas ações foram mais um sinal de preocupação com a atividade econômica global.
Nos EUA, a quinta-feira também foi marcada pela volta das preocupações com os bancos regionais, após o PacWest Bancorp confirmar que está explorando opções estratégicas, incluindo uma venda. Já o canadense Toronto-Dominion Bank Group cancelou a aquisição do First Horizon Corp por 13,4 bilhões de dólares.
“O racional aqui é que o mercado de juros está antevendo uma desaceleração mais pronunciada nas economias desenvolvidas por conta dos problemas nos bancos. E isso está fazendo os mercados de renda fixa anteciparem cortes de juros por parte de bancos centrais”, comentou durante a tarde Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Nos EUA, os rendimentos dos Treasuries se mantinham em baixa, assim como as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) recuavam no Brasil, em especial na ponta longa, onde os estrangeiros atuam preferencialmente.
No fim da tarde, as taxas chegaram a acelerar as perdas no Brasil, em sintonia com a perda de força do dólar ante o real e de certa reação do Ibovespa.
“O mercado se mostrou um pouco mais otimista no fim da tarde. Na verdade, o mercado está oscilando em dúvida entre uma possível crise bancária nos EUA e um eventual soft landing (pouso suave) da economia”, comentou o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.
No caso os DIs, conforme Gala, ainda que o comunicado do Copom tenha sido duro, foi possível enxergar elementos que indicam a possibilidade de corte de juros.
“O BC colocou entre vírgulas que a probabilidade de novos aumentos da Selic é baixa. E ele passou a focar em 2024. Dá para dizer que a instituição foi marginalmente mais suave”, defendeu.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 13,21%, ante 13,241% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,76%, ante 11,888%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,41%, ante 11,58% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,48%, ante 11,649%.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 27% de chances de o Banco Central reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual no encontro de política monetária de junho e 73% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
Às 16:42 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 3,60 pontos-base, a 3,3674%.