Taxa neutra almejada por Fed se torna meta imprecisa e móvel
O Federal Reserve estuda uma mudança em como descrever o termo “neutra” – o nível dos juros que não estimula nem limita o crescimento – enquanto debate a dose de aumento da taxa básica.
Para um conceito abstrato – a neutralidade não pode ser medida diretamente –, as apostas são altas: se a avaliação for muito baixa, a política do Fed pode estar injetando mais estímulo à economia do que se pensava no combate à inflação. Se for muito alta, a política é mais restritiva do que o planejado. Ambas podem resultar em um erro de política prejudicial.
O tema começa a ter prioridade na agenda de políticas porque, em julho, o Fed elevou o teto do intervalo da meta da taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 2,5%. Nível que, para Jerome Powell, atendeu à estimativa das autoridades para a taxa neutra de longo prazo.
Essa medida completou o primeiro estágio do ciclo de aperto monetário iniciado em março, quando autoridades disseram que queriam chegar à taxa neutra “rapidamente” para esfriar a inflação.
Com o início da segunda etapa da campanha – como apresentado por Powell em 26 de agosto em Jackson Hole, Wyoming -, a discussão se volta para quanto mais os juros precisam subir e quanto tempo devem permanecer no nível atingido.
Isso também alimenta o debate de que a taxa neutra está atualmente mais alta do que a estimativa média de longo prazo do Fed (que em junho era de 2,5%), um sinal de que os juros precisam subir mais e não menos.
Powell disse que outra dose elevada de aperto pode estar na mesa quando as autoridades se reunirem entre 20 e 21 de setembro, dependendo dos dados, e alguns membros do Fed querem ver os juros acima de 4%.
Mas as estimativas sobre a taxa neutra podem variar muito. Apenas 39% dos economistas consultados pela Bloomberg em agosto concordaram com a visão de taxa neutra em 2,5% do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), com projeções na faixa entre 2% e 3,75%.
E é um tema difícil de se comentar.
Powell foi criticado por anunciar, após o aumento dos juros em 27 de julho, que a decisão havia elevado a taxa básica para a faixa neutra. Críticos argumentaram que o comentário provocou um rali das bolsas, já que investidores interpretaram o dado como uma pista de que os juros não precisavam subir muito mais.
O ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers, colaborador da Bloomberg TV, disse que a observação é “indefensável”, porque 2,5% não está nem perto do nível neutro, levando em conta a inflação atual. Mohamed El-Erian, principal consultor econômico da Allianz e colunista da Bloomberg Opinion, disse que “o CEP para neutro está acima de onde estamos agora” e pelo menos 50 pontos-base acima.
As estimativas para a taxa de juros neutra são muito inferiores à inflação de 6,3%, segundo o indicador preferido do Fed.
A expectativa de consumidores aponta inflação de 4,8% no próximo ano e de 2,9% em cinco a 10 anos, de acordo com pesquisa da Universidade de Michigan.
Para uma empresa, isso pode fazer com que um empréstimo pareça uma pechincha em relação à inflação, o que estimula o crescimento.
“O nível atual das taxas não está neutro, dado o quadro das expectativas de inflação”, disse Roberto Perli, chefe de pesquisa de política global do Piper Sandler & Co. “É por isso que o Fed acha que precisa continuar apertando” a política monetária.
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