Taxa africana do cacau, a partir desta 5ª, dá mais caloria ao prêmio sobre Nova York
Os cacauieros brasileiros podem estar se aproximando de um momento de virada significativa para os preços da amêndoa. Aos poucos foram retomados os prêmios sobre Nova York e com fôlego para muito mais, podendo equalizar ou superar os valores pagos pelas indústrias pré-pandemia.
O consumo de chocolates, na Europa e Estados Unidos, ainda não atingiu o estado visto antes do caos trazido pela doença, mas da África vêm o reforço sobre os fundamentos deficitários da cultura brasileira, que estão anulando a retomada gradual do consumo de chocolates.
O diferencial hoje, em média, está em US$ 150 acima da tonelada do cacau em amêndoa precificada na ICE Futures, contra o contrato de dezembro, nesta quinta (1), girando nos US$ 2,5 mil.
No estouro da covid-19, o diferencial despencou para negativo, em torno de US$ 480, com o cancelamento dos contratos pelos compradores. E, em fevereiro, estava praticado em US$ 450 de ágio.
E é essa última marca que é a meta alcançável, segundo Adilson Reis, analista e consultor do mercado, tendo em vista, principalmente, a pressão que os dois principais países produtores mundiais começam a exercer a partir desta quinta sobre os negociantes das fábricas mundiais.
Independente do fator safra, ou seja, volume de oferta, Gana e Costa do Marfim vão cobrar US$ 400 sobre a tela da bolsa de futuro, uma espécie de taxa social. “Eles dominam 72% da oferta global”, diz Reis, associando a concentração produtiva à imposição do sobrepreço.
A nova variável, conhecida do mercado há semanas, já vem ajudando a manter a demanda aquecida no Brasil. O mercado espera um maior desvio de compradores da África para as amêndoas da Bahia, do Pará, e, em menor proporção produtiva, do Espírito Santo e de Rondônia.
E com o déficit histórico do cacau no Brasil, e mais um ciclo produtivo não dos melhores, o também diretor do site especializado Mercado do Cacau vê potencial para novos saltos dos preços na porteira.
O Brasil praticamente não exporta amêndoa – salvo nichos de mercado – e 97% da produção é comprada pelas indústrias processadoras Cargill, Barry Calebaut e Olam.
Drawback
E em momentos de oferta menor, o peso da concentração dos compradores acaba virando para maior disputa pelo cacau. Adilson Reis viu a primeira safra brasileira, de maio até ontem, ruim na Bahia, mas equilibrada pelo Pará. Este estado do Norte é uma grande fronteira, depois do desenvolvimento apoiado pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac/Mapa), em vários anos.
E agora em outubro a Bahia abre uma nova safra, que ele acredita que não vai ser das melhores, e ainda sem o Pará na produção.
No final, a temporada 20/21, deve manter as 190 mil toneladas, para uma necessidade interna de 230 mil/t, aproximadamente.
Em tempo: esses players globais do cacau também estão às voltas com outro problema após a sobretaxa imposta pelos africanos, uma vez que importam a matéria-prima e exportam o produto processado para as chocolateiras, entre outros, em regime de drawback, que confere isenção nas importações desde que o produto final seja embarcado.