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Taurus deve criar 300 empregos em cidade dos EUA

19 dez 2019, 13:34 - atualizado em 19 dez 2019, 18:58
Taurus Armas Empresas
São tempos difíceis para fabricantes de armas, que não são bem-vindas em muitas comunidades (Imagem: Facebook da Taurus)

Foram duas décadas de cortejo, milhões de dólares em créditos tributários e uma fábrica de presente, mas o estado americano da Geórgia finalmente conseguiu o que queria. A brasileira Taurus (TASA3) concordou em mudar suas operações da região de Miami para uma pequena cidade ao norte da fronteira com a Flórida.

A fabricante de armas deverá trazer 300 empregos para Bainbridge, município com 12.000 habitantes. Em troca, receberá um pacote de incentivos avaliado acima dos US$ 30 milhões que a empresa se declarou disposta a gastar em 2017 para resolver processos judiciais em que era acusada de produzir armas defeituosas.

São tempos difíceis para fabricantes de armas, que não são bem-vindas em muitas comunidades. No entanto, autoridades da área de desenvolvimento econômico em locais amigáveis ao setor do ponto de vista político e regulatório competem sem trégua pelos empregos relativamente estáveis e de alta remuneração que o setor oferece.

Tennessee, Carolina do Norte e Wyoming estão entre os estados americanos que atraíram empresas de armas de fogo com incentivos fiscais, assistência nas obras e custos de realocação.

Autoridades de Bainbridge se empenharam em uma campanha que incluiu diversos encontros com executivos do setor de armas durante a feira anual da Fundação Nacional de Esportes de Tiro, feira anual de negócios.

Taurus
A Taurus também terá acesso a 30 hectares, com possibilidade de expansão, pagando US$ 1 por ano (Imagem: Facebook Taurus Armas)

Zona de tiro

Mas o namoro não se consumou apenas com jantares. No final de 2017, Rick McCaskill, responsável pela Agência de Desenvolvimento do Condado de Decatur e Bainbridge, começou a acompanhar executivos da Taurus ao local onde ficaria o eventual empreendimento.

Em uma das visitas, os executivos ouviram um som que era música para seus ouvidos: os estalos vindos de uma zona de tiro para policiais.

“Isso realmente os deixou animados”, lembra McCaskill.

Os incentivos ao acordo somaram pelo menos US$ 39 milhões, segundo a carta de oferta. Governos locais contribuíram com US$ 20 milhões para a construção, US$ 7,9 milhões em créditos tributários, US$ 4,5 milhões em obras de infraestrutura, US$ 4,3 milhões em abatimentos de imposto imobiliário e US$ 3 milhões para equipamentos.

A Taurus também terá acesso a 30 hectares, com possibilidade de expansão, pagando US$ 1 por ano. Depois de 20 anos, a empresa vira dona do terreno.

O pacote, incluindo o terreno, é típico para um acordo de geração de empregos na Geórgia, segundo Kasia Tarczynska, pesquisadora da Good Jobs First, que tem um banco de dados sobre subsídios. O custo por vaga ainda é elevado, na opinião dela. Um acordo em que cada emprego sai por US$ 50.000 é justo, disse Tarczynska. O acordo obtido pela Taurus é avaliado em mais de US$ 130.000 por vaga.

Ponta doadora

“No momento, estamos na ponta doadora do pêndulo”, disse McCaskill. “Para conseguir um projeto hoje em dia, é preciso colocar muito nele.”A Taurus vai investir US$ 22 milhões na comunidade, segundo o administrador municipal de Bainbridge, e é possível que a realocação da empresa atraia outras fábricas relacionadas.

McCaskill revela que a produtora de embalagens das armas Taurus já se comprometeu a abrir uma fábrica nos arredores que vai gerar 10 empregos.

Subsídios são comuns, mas continuam controversos.

Para os críticos, eles prejudicam os cofres públicos e tiram dinheiro de escolas e manutenção de infraestrutura. Comunidades gastam bilhões de dólares para as empresas transferirem empregos de um lugar para outro e não para abrir novas vagas.

O acordo de US$ 4,5 bilhões que Wisconsin celebrou em 2017 com a gigante de tecnologia Foxconn, de Taiwan, para trazer até 13.000 empregos para o estado foi considerado exagerado. Já a Amazon.com criou uma competição ao estilo reality show no ano passado para decidir qual cidade daria as concessões mais atraentes à empresa avaliada em US$ 870 bilhões.

Os subsídios para as instalações da Taurus na Flórida ؅— aproximadamente US$ 369.000 em restituições de impostos ao longo de sete anos — terminaram em 2017, segundo documentos oficiais (Imagem: Unsplash/@jdsimcoe)

Presença nos EUA

Desde que chegou ao país na década de 1980, as operações da Taurus nos EUA faturaram milhões vendendo armas que são alternativas de baixo custo a produtos da Smith & Wesson e da Glock. A Taurus exporta para mais de 100 países e os EUA representam 80% da receita. Outras fabricantes de armas também fizeram realocações.

A Beretta se mudou para o Tennessee, a Strum Ruger para a Carolina do Norte e cinco empresas migraram para Wyoming nos últimos anos. Todos esses estados concederam incentivos para atrair companhias de armas de fogo.

“Continuamos vendo estados recrutando empresas para que saiam de ambientes menos hospitaleiros, como Connecticut”, disse Larry Keane, vice-presidente sênior da Fundação Nacional de Esportes de Tiro.

Connecticut aprovou leis que regulam a posse de armas nos sete anos desde que um atirador matou 26 pessoas, incluindo 20 crianças, em Newtown. A Taurus foi “muito bem recebida pelos cidadãos de Bainbridge para criar empregos industriais de qualidade que pagam bem e estarão ali por muito tempo”, disse ele.

Os subsídios para as instalações da Taurus na Flórida ؅— aproximadamente US$ 369.000 em restituições de impostos ao longo de sete anos — terminaram em 2017, segundo documentos oficiais. Democratas a favor do controle da posse de armas perderam por pouco eleições estaduais em 2016 e havia risco político.

Após anos votando em linha com a Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla em inglês), legisladores da Flórida aumentaram a idade mínima para compra de armas de fogo no estado após chacinas em uma boate em Orlando em 2016 e em uma escola secundária em Parkland em 2018.

Em 2016, a Taurus fez acordo para encerrar uma ação judicial coletiva que alegava que nove modelos de armas da empresa disparavam involuntariamente quando caiam ou sofriam um esbarrão, mesmo com a trava de segurança acionada. A companhia aceitou recomprar ou reparar os modelos sem admitir erro.

Em outubro, a Taurus comunicou à Flórida que iria demitir 175 empregados da fábrica no estado.

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