Opinião

Tatiana Pimenta: 6 estratégias para manter a sanidade mental durante a pandemia

07 abr 2020, 20:26 - atualizado em 07 abr 2020, 21:18
Computadores, Apple, Tecnologia
Devo confessar que os primeiros dias foram bem interessantes. Notei que consegui produzir mais estando em casa. Não precisei me deslocar para o trabalho (Imagem: Pixabay)

Por Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude

Hoje começo minha quarta semana de home office. Para atuarmos de forma cidadã e contribuirmos para a redução da propagação do covid-19, optamos pelo trabalho remoto e pelo isolamento social.

Devo confessar que os primeiros dias foram bem interessantes. Notei que consegui produzir mais estando em casa. Não precisei me deslocar para o trabalho, logo ganhei tempo para dormir alguns minutos a mais.

E vamos combinar que tempo é recurso mais escasso que temos, não é mesmo? Eu sempre digo que nosso tempo é a única coisa que o dinheiro não consegue comprar.

Também observei que consegui manter-me mais concentrada e executar minhas atividades em menor tempo. Me dei conta que, no escritório, sempre interrompia meu trabalho quando percebia alguém da equipe em dúvida ou com dificuldades de executar uma tarefa.

Como trabalho com psicologia, meu volume de trabalho cresceu vertiginosamente desde a decretação de pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Nossa demanda por ​serviços de saúde mental corporativa cresceu mais de 300% em março.

Não só isso, os convites para participar de lives, entrevistas, podcasts e tudo mais que vocês possam imaginar explodiram.

No começo da quarentena tentei participar de tudo que podia. Talvez, esse engajamento excessivo tenha ocorrido em partes pela cabeça confusa no período de isolamento, partes pelo processo de adaptação à nova realidade.

Depois de vinte dias me dei conta que precisava deixar alguns pratinhos cair, ou não iria dar conta de manter meu equilíbrio emocional e cumprir com êxito as prioridades da empresa e clientes.

Nessas três semanas aprendi que manter a sanidade mental seria crucial para a sobrevivência. A ficha só caiu quando cheguei na segunda sexta-feira presa dentro de casa.

Percebi que não teríamos uma quarentena de apenas 14 dias e que a situação era mais grave do que eu estava prevendo. Ao ter a clareza de que poderíamos ficar 6, 8 ou até mais semanas em isolamento físico, comecei a adotar algumas estratégias para garantir a manutenção da minha sanidade mental e qualidade de vida.

Neste artigo compartilho com vocês as estratégias que tenho adotado para manter minha saúde emocional em dia! Vem comigo.

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1. Aprenda a dizer não

Um psicólogo recentemente me disse: Tati, não espere os pratinhos cair, derrube logo aqueles que não forem prioritários. Nos primeiros dias de quarentena virou febre fazer lives no Instagram.

Eu mesma conduzi algumas no IG da ​Vittude​, mas decidimos interromper ao perceber que haviam inúmeras transmissões ocorrendo ao mesmo tempo. Comecei a refletir sobre o quanto esse excesso de informação poderia prejudicar as pessoas ao invés de ajudá-las.

Também recebi algumas dezenas de convites para participar de lives de outras empresas, conceder entrevistas para alguns veículos, participar de podcasts e muito mais.

Inicialmente entendi ser importante compartilhar conhecimento, divulgar a empresa e o trabalho que fazemos, mas depois de um tempo percebi que precisaria restringir meus “sins”. Seria humanamente impossível dar conta de participar de tudo.

Afinal, tenho uma empresa para tocar que vem crescendo com muita força desde que a contaminação pelo coronavírus começou a avançar pelo mundo.

Foi preciso aprender a dizer não, agradecer o convite, deixar de ler alguns e-mails, deixar mensagens sem respostas no LinkedIn, não atender alguns telefonemas e manter o foco na operação.

Dizer não é difícil, sempre bate um sentimento de culpa ou remorso por deixar alguém na mão. Mas, ouvi de uma outra psicóloga que o não para o outro é um sim para nós! Segundo ela, dizer não é um ato de amor próprio, de autocuidado e não de egoísmo.

2. Mantenha uma rotina

Tenho ouvido isso repetidamente de diversos profissionais de saúde. Parece bobo, mas estabelecer uma rotina ou ritual diário faz toda diferença. Tenho tentado manter meus horários da mesma forma que fazia antes dessa confusão toda.

Acordo no mesmo horário, faço uma atividade física (vou explorar esse ponto em tópico separado), tomo um banho com calma e tomo meu café antes de começar o trabalho.

Nada de ficar de pijama, descabelada e relaxada. Tenho adotado roupas mais confortáveis para trabalhar em casa, mas lembrando sempre de estar vestida para trabalhar e não como se estivesse de folga.

Estabelecer paradas estratégicas ao longo do dia, fazer pequenos lanches a cada 3 horas, dividir o tempo para manter o foco tem ajudado bastante.

Técnicas como a pomodoro podem ser de grande valia no ​trabalho remoto​. Outro fator importante é fazer um ​check list logo no início do dia, com as atividades que precisam ser concluídas naquele dia. Isso me dá senso de prioridade.

3. Mexa-se

Já diz o dito popular: ​corpo são, mente sã!!Como estamos limitados a um espaço menor do que o usual, além de confinados, é comum que façamos menos movimentos.

Normalmente nos deslocamos até o trabalho, andamos para ir a um restaurante almoçar e alguns fazem pequenas caminhadas para chegar ao transporte público. Sempre há um mínimo de passos dados ao longo do dia.

No isolamento, é da cama para o banheiro, para a cozinha, para a sala e assim vai. O espaço de deslocamento ficou reduzido.

Eu tinha como hábito saudável correr no parque pelo menos 3 vezes por semana. Exercício esse que ficou de lado nas últimas semanas.

Preocupada em não sair de casa, tentei ser criativa e manter o corpo em movimento. Adquiri uma bola de pilates, um rolinho para impor maior dificuldade aos abdominais e corda! Sim, resolvi resgatar aquele velho exercício e brincadeira de criança: pular corda.

Tenho feito pelo menos 30 minutos de atividade física nessas semanas, o que tem me deixado disposta e de bom humor. Baixei dois aplicativos de yoga, com movimentos guiados e explicações para iniciantes.

Sempre achei que não gostaria da Yoga. Apenas como observadora, tinha a impressão de ser chato e monótono. Porém, tenho sentido partes e músculos do meu corpo que nem sabia que existiam.

Outra coisa que tenho feito para aumentar os movimentos é utilizar a escada do prédio, ao invés dos elevadores, toda vez que vou ao mercado ou desço para dar uma volta com meu cachorro. Pequenas mudanças, que fazem grande diferença.

Exercício físico é fundamental para a produção de neurotransmissores e manutenção de uma vida saudável. Portanto, trate de se mexer na quarentena.

4. Tenha cuidado com a alimentação

Uma das coisas que mais tenho curtido no home office é ter a possibilidade de preparar minhas refeições. Além de ajudar a criar uma rotina, interromper um pouco o fluxo de atividades e permitir um descanso para a cabeça, cozinhar tem sido uma grande atividade de lazer.

Mais do que isso, tenho prestado mais atenção nos alimentos que escolho. Aprendi a fazer ​naan (aquele pãozinho indiano, sabe?), tenho escolhido frutas, ovos, carnes magras, hortaliças e pouca gordura. E, no momento das refeições, tenho tentado aplicar o conceito de mindfulness, que nada mais é do que ficar atenta ao momento
presente.

Uma das coisas que mais tenho curtido no home office é ter a possibilidade de preparar minhas refeições (Imagem: Pixabay)

Olhar o prato, observar as cores, sentir o sabor dos temperos, o aroma e as texturas ajuda a se conectar com algo real: o alimento ingerido.

Nos dias que escolho não cozinhar, tenho priorizado o delivery de pratos saudáveis, de preferência saladas. Amo o ​damata salada​, que é um negócio de impacto social e sustentável, cujo propósito é melhorar os hábitos alimentares das pessoas.

O damata é um restaurante que prepara saladas com ingredientes orgânicos, dando preferência a pequenos produtores. Eles entregam uma combinação perfeita entre tubérculos, folhas, grãos, raízes e proteínas.

Não só o cuidado com a alimentação é importante, mas também com a hidratação. Lembre-se de beber pelo menos 2 litros de água por dia. Não só o corpo precisa de água, mas nosso cabeça também. Um cérebro bem hidratado preserva suas funções executivas e cognitivas.

5. Preste atenção no consumo de bebidas alcoólicas

Tenho visto muita gente comentando que tem bebido absolutamente todos os dias. Eu me peguei aumentando os volumes de vinho, quando me dava conta já tinha consumido algumas taças.

Ao tomar consciência do que estava acontecendo, estabeleci uma regra pessoal: consumir álcool somente aos finais de semana.
Recentemente li ​uma matéria no G1 falando sobre o aumento consumo de bebidas no período de isolamento. A matéria apontava que a venda de bebidas na quarentena já tinha superado as marcas da época do carnaval. Muitas pessoas relataram que a bebida de fim de semana, aos poucos, se estendeu para os dias úteis.

Segundo o ​Psicólogo Douglas Lima​, especialista no tratamento de dependência química, o isolamento tem trazido para alguns a falsa sensação de férias, feriado ou “todo dia é domingo”. Como nossa rotina está restrita a atividades dentro de casa, algumas pessoas podem ficar mais sensíveis ao consumo não só de álcool, como de drogas e tabaco.

Segundo Douglas, há um ponto mais grave: o álcool é um tipo de droga depressora do sistema nervoso central, logo, pode estar sendo utilizado como um tipo de ansiolítico. O ideal é que a vida em casa siga uma rotina, como era antes do isolamento, e não façamos do momento um estado de exceção.

6. Faça terapia

Sempre serei suspeita para falar da importância da psicoterapia para uma vida plena e saudável. Além de fazer terapia há mais de 8 anos, também sou fundadora de uma plataforma de saúde mental. Mas, quando falo de terapia, também incluo aqui qualquer alternativa de apoio psicológico.

Nesse momento, conversar com um profissional de saúde mental pode ser uma atitude bastante recomendada. Ao agendar uma consulta, não significa que você vai engatar em um processo profundo de análise, mas terá um especialista pronto para te ouvir de forma técnica e ajudar nas reflexões, angústias e gerenciamento da ansiedade.

Sempre serei suspeita para falar da importância da psicoterapia para uma vida plena e saudável (Imagem: Pixabay)

O avanço da tecnologia permitiu que a terapia pudesse ser feita online, através de streaming de vídeo. A possibilidade de falar com um psicólogo sem sair de casa já tinha caído nas graças de alguns que evitam desperdiçar horas no trânsito das grandes cidades.

No entanto, agora nesse período de isolamento, tornou-se fundamental, inclusive para os próprios psicólogos.

Lições do Covid-19

Se a vida está nos dando um limão, que saibamos fazer dele uma limonada. O que eu quero dizer com tudo isso? Que muita coisa vai mudar daqui para frente. A vida não será a mesma depois do coronavírus.

Novas tecnologias surgirão. Sempre há muita inovação em períodos de crises e guerras. Um historiador de Stanford, chamado Walter Scheidel, afirma que um país só realiza mudanças significativas após viver “grandes choques trazidos por guerras, revoluções e epidemias”.

O corona vai nos deixar a possibilidade de reinvenção. Vamos evoluir! Como diria Darwin, não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. Que a gente siga se adaptando e evoluindo!

Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Única brasileira finalista da premiação internacional ​Cartier Women’s Initiative Awards em 2019.

Engenheira que se apaixonou pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade.

Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco.

Faz terapia há mais de 8 anos, é maratonista amadora e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade.