Tarpon assume postura defensiva na bolsa após passado ativista
A nova atuação da Tarpon no mercado de ações guarda uma distância do passado. A era ativista, inclusive com participação relevante em empresas de peso, deu lugar a nova estrutura, com um braço voltado à gestão de uma carteira mais diversificada e defensiva.
“Hoje a estratégia é ser investidor mais passivo de bolsa no sentido de nos envolver inúmeras vezes menos do que no passado”, diz Caio Lewkowicz, sócio e gestor da Tarpon Capital, em entrevista.
A carteira já contava com “zagueiros” como as empresas de energia elétrica Alupar e CPFL, além da Sanepar — setores com fluxo de caixa previsível e risco considerado baixo, e da operadora de saúde Hapvida.
A pandemia do coronavírus provocou realocações, na busca por setores que pudessem se blindar dos defeitos adversos da retração econômica.
A gestora decidiu desinvestir do setor de turismo, duramente afetado pela interrupção das viagens mundo afora, e aumentou posição em Arcos Dorados, maior franquia do McDonald´s do mundo, em razão da perspectiva de bom desempenho do delivery de fast food, e também em Hapvida.
Outra estratégia adotada com a pandemia foi um investimento inicial na Locaweb, empresa de hospedagem de sites, após a abertura de capital.
“Independente se o PIB vai ser um pouco mais ou um pouco menos, estamos em negócios bem resilientes, empresas líderes nos setores onde atuam e que provavelmente vão sair mais fortes da crise.”
IPOs
Lewkowicz tem olhar seletivo para as novas estreantes na bolsa. A única escolha foi a Track & Field.
“A barra está alta no mercado para empresas que estão conseguindo abrir capital. Ativos que estão conseguindo sair com nível de prêmio maior de valuation são mais únicos.”
A Tarpon Capital, braço que administra os fundos de bolsa, possui hoje uma equipe de cerca de dez pessoas e tem sob gestão R$ 1 bilhão. A estratégia de investimentos se divide atualmente em dois fundos, o Tarpon GT FIC FIA, focado em small e mid caps, e o Wahoo FIA, com exposição a mid e large caps.
Passado
A Tarpon chacoalhou o mercado brasileiro de ações desde sua fundação, em 2002, por José Carlos Magalhães, o Zeca, passando pelo IPO em 2007 até o fechamento de capital e a reestruturação em 2019.
Com uma postura considerada arrojada, a gestora concentrava os investimentos em poucos ativos e chegou a assumir o controle da Somos Educação, Cremer e Ômega Energia, além de participação relevante na BRF.
Do escândalo da Carne Fraca – operação realizada pela Polícia Federal a partir de 2017 para apurar fraudes no setor – à dívida crescente, a BRF viveu uma dramática disputa entre os principais acionistas pela administração da empresa.
Em abril de 2018, os fundos de pensão Previ e Petros reduziram a influência de Abilio Diniz e da Tarpon no negócio, levando Pedro Parente à presidência. No ano seguinte, com o fechamento de capital veio a separação dos negócios de investimento em bolsa e private equity.
Ao fazer um balanço do aprendizado dos últimos anos, Lewkowicz diz que a proximidade com a tomada de decisões era algo positivo. “Por outro lado, perde um pouco de flexibilidade de movimento e essa flexibilidade tem muito valor.”