Tarifas de 25% sobre aço e alumínio: Entenda os impactos para o Brasil e quais empresas são afetadas

A taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio feitas pelos Estados Unidos começou a valer nesta quarta-feira (12). E a medida do presidente Donald Trump deve impactar diretamente as empresas brasileiras.
Em torno de um quarto do aço usado nos EUA é importado, sendo que o Brasil é o segundo maior fornecedor em volume para o mercado norte-americano. O Instituto Aço Brasil estima que, considerando o comércio dos principais itens da cadeia do aço — carvão, aço e máquinas e equipamentos — os dois países movimentam cerca de US$ 7,6 bilhões, com os EUA registrando um superávit de US$ 3 bilhões.
No caso do alumínio, o maior comprador do Brasil é o Japão, com os EUA em segundo lugar.
Com a nova taxação, espera-se uma redução das exportações brasileiras, pressionando ainda mais o setor siderúrgico, que já enfrenta um cenário desafiador. Segundo a Associação Latino-americana do Aço (Alacero), a América Latina tem sofrido com um aumento expressivo de importações de “países que praticam concorrência desleal”, especialmente a China.
“O panorama internacional apresenta a oportunidade histórica de estabelecer uma cadeia de suprimentos regional, na qual a indústria do aço da América Latina pode desempenhar um papel de liderança com base em sua capacidade de produção com uma das menores pegadas de carbono do mundo”, afirmam em comunicado.
Além do impacto na oferta doméstica, que pode levar à queda nos preços do aço e alumínio e a uma reorganização do setor siderúrgico, o Brasil precisará diversificar seus parceiros comerciais para reduzir a dependência do mercado norte-americano.
Em entrevista para o Money Times, Rodolpho Damasco, sócio e chefe do Private Offshore da Nomos, destaca que a barreira comercial pode afetar diretamente empresas como CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3), que dependem do mercado americano para escoar parte de sua produção.
Já a Gerdau (GGBR4), por ter operações nos EUA, pode sofrer menos, uma vez que consegue atender à demanda local sem depender das exportações. “Para as empresas que não possuem essa estrutura, a necessidade de buscar novos mercados e lidar com um possível excesso de oferta interna pode pressionar margens e impactar a geração de empregos no setor”, afirma.
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Reação do governo brasileiro
Na terça-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que estuda medidas de retaliação contra os Estados Unidos e que estão sendo feitas avaliações técnicas.
“Não adianta ficar gritando de lá porque aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito que eu aprendi a respeitar as pessoas e quero ser respeitado”, disse Lula sobre Trump, em visita a um centro de desenvolvimento da Stellantis, em Betim (MG).
Apesar do tom firme do presidente, o governo brasileiro tem adotado uma postura discreta nas negociações com os EUA. O entendimento é que a medida de Trump mira setores específicos e não constitui um ataque direto ao Brasil. Além disso, a orientação é para que a equipe econômica evite cair em provocações de Trump em seus discursos.
Entenda a taxação de aço e alumínio
No mês passado, Trump anunciou a tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio para “todos os parceiros comerciais, sem exceções ou isenções”, revogando benefícios concedidos anteriormente a grandes fornecedores.
Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump já havia imposto tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, alegando razões de segurança nacional. Na ocasião, o Brasil negociou um sistema de cotas que permitiu manter as exportações sem a aplicação das tarifas, mas com restrições de volume.
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Segundo o Instituto Aço Brasil, a negociação de 2018 atendeu não apenas ao interesse brasileiro em preservar o acesso ao principal mercado externo do aço nacional, mas também aos interesses da indústria siderúrgica dos EUA, que depende de placas de aço importadas.
“Os Estados Unidos importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil. As exportações brasileiras de produtos de aço para os Estados Unidos cumpriram integralmente as condições estabelecidas no regime de ‘hard quota’, não ultrapassando, em momento algum, os volumes estabelecidos tanto para semiacabados como para produtos laminados”, apontam em comunicado.
“Tarifaço” de Trump
Desde o início da corrida eleitoral, Trump tem reforçado seu discurso protecionista e adotado medidas tarifárias. As primeiras ações foram direcionadas contra Canadá e México, com a imposição de tarifas de 25%. No entanto, as taxações estão suspensas até 2 de abril, após retaliações e acordos com os países vizinhos.
“Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos EUA quanto, da mesma forma, impedir o fentanil”, escreveu Trump em sua rede social.
A China, maior concorrente comercial dos EUA, inicialmente foi alvo de uma tarifa de 10%, elevada posteriormente para 20%. Em resposta, Pequim impôs taxas adicionais de 10% a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA e aplicou restrições a 25 empresas norte-americanas.
Trump também ameaçou taxar produtos da União Europeia. Em resposta, o bloco europeu anunciou que aplicará tarifas retaliatórias sobre uma série de produtos dos EUA a partir de 1º de abril.
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