Economia

Tarifaço de Trump: O que acontece se o Brasil for taxado?

05 fev 2025, 11:56 - atualizado em 05 fev 2025, 11:56
Estados Unidos Brasil
Atualmente, o Brasil já enfrenta tarifas impostas pelos EUA desde 2022, de 8,6% sobre produtos agrícolas e de 1,1% sobre bens não agrícolas. (Imagem: iStock/wenjin chen)

Desde que Donald Trump assumiu o poder, no dia 20 de janeiro, o mundo acompanha com expectativa uma possível guerra comercial, incentivada pelos planos do novo presidente de taxar os produtos importados pelos Estados Unidos.

Trump até tentou dar sua primeira cartada, mas precisou mudar de estratégia. No sábado (1), o governo americano confirmou novas tarifas de 25% para produtos do Canadá México, além de uma taxa de 10% de importados da China.

Os países afetados reagiram, aplicando tarifas sobre produtos provenientes dos EUA. Canadá e México conseguiram reverter a situação, levando a maior economia do mundo a suspender as taxas por 30 dias. Já a China continua sendo taxada e ampliando sua retaliação contra o comércio americano.

Embora o Brasil não seja o foco principal de Trump, o país também está na mira do presidente. Trump ameaçou os países membros do Brics com tarifas de 100%, caso o bloco siga adiante com o plano de criar uma moeda própria para substituir o dólar no comércio interno do grupo. Vale lembrar que o governo brasileiro lidera os debates sobre o uso do dólar nas negociações internacionais.

Além disso, durante um evento com congressistas republicanos no início do ano, o presidente dos EUA citou o Brasil entre os países que “taxam demais” e “querem mal” aos Estados Unidos.

Nesta quarta-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil retaliará os Estados Unidos com tarifas de importação, caso Trump decida impor taxas sobre produtos brasileiros.

“Se ele [Trump] ou qualquer país aumentar a taxação com o Brasil, nós iremos utilizar a reciprocidade e taxá-los também. Isso é simples e muito democrático”, disse Lula em entrevista às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNews FM BH, de Minas Gerais.

Entenda a relação comercial entre Brasil e EUA

Os economistas da XP, Caio Megale, Rodolfo Margato e Luiza Pineze, destacam que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos totalizaram US$ 40,3 bilhões, correspondendo a 12% do total das vendas externas do país. Já as importações de produtos americanos pelo Brasil atingiram US$ 40,6 bilhões, representando 15,5% do total importado.

As exportações brasileiras se concentram em produtos relacionados a commodities, sendo os principais óleos de petróleo bruto e refinado, no valor de US$ 7,6 bilhões; e produtos de ferro e aço, incluindo ferroligas, ferro-gusa, lingotes e outras formas primárias, somando US$ 5,9 bilhões. Juntos, eles representam 34% do total exportado para os EUA.

Já do lado das importações, os equipamentos de geração de energia (principalmente motores e máquinas não elétricos) são a principal categoria, totalizando US$ 7,1 bilhões e representando 18% do total importado.

Além disso, os Estados Unidos continuam sendo uma das principais fontes de Investimento Direto no País (IDP), com um fluxo líquido estimado de US$ 7,1 bilhões em 2024, o que corresponde a 26% do total líquido recebido nessa categoria.

Atualmente, o Brasil já enfrenta tarifas impostas pelos EUA desde 2022. O governo americano aplica uma alíquota média de 8,6% sobre produtos agrícolas brasileiros e uma tarifa reduzida de 1,1% sobre bens não agrícolas. No entanto, cerca de 66% dos bens e 62% do valor total das exportações brasileiras para os Estados Unidos entram no mercado americano sem a incidência de tarifas.

“Esses números indicam que a maioria dos produtos brasileiros enfrenta barreiras comerciais pequenas ao acessar o
mercado americano”, destacam os economistas. No entanto, eles lembram que o Brasil possui acordos comerciais específicos com os EUA, que podem modificar a estrutura tarifária e impactar determinados produtos.

Por exemplo, o governo americano impôs uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e 10% sobre o alumínio. No entanto, Brasil e outros países operam sob um sistema de Cota Tarifária, que permite que apenas um volume predefinido de exportações de aço entre nos EUA com tarifas reduzidas.

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E se Trump taxar o Brasil?

A XP avalia que, considerando a concentração da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos, eventuais tarifas e restrições comerciais poderiam ter efeitos setoriais significativos, mas impacto macroeconômico limitado.

Atualmente, as exportações totais do Brasil representam aproximadamente 18% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que as vendas externas para os Estados Unidos correspondem a apenas 12% desse total.

“Essa participação reduz a possibilidade de que perturbações nas relações comerciais com os Estados Unidos impactem fortemente o desempenho econômico geral do Brasil. No entanto, no nível setorial/empresarial, as consequências podem ser significativas”, afirmam os economistas.

Os setores mais vulneráveis a eventuais tarifas incluem ferro e aço, aeronaves e peças, máquinas e aparelhos especializados para determinadas indústrias (como equipamentos de engenharia civil) e minerais não metálicos (principalmente cal), que são produtos em que os EUA representam parcela expressiva das exportações brasileiras.

Por outro lado, setores como petróleo e celulose podem sofrer menor impacto, uma vez que as exportações brasileiras desses produtos são mais diversificadas entre diferentes mercados.

Os economistas do Itaú, Igor Barreto Rose e Julia Marasca, lembram que, além de eventuais taxas contra produtos brasileiros, Trump mencionou a possibilidade de uma tarifa “universal” de 10% sobre importações.

Kevin Hassett, presidente do Conselho de Políticas Econômicas de Trump, indicou que a política comercial americana pode adotar como princípio a equiparação das tarifas cobradas entre países. Atualmente, o Brasil aplica uma tarifa média de 11,2% sobre produtos importados dos Estados Unidos.

“Se este for o caso setor a setor, praticamente todos os itens serão afetados, com os maiores aumentos em
bens manufaturados e maquinário. Por outro lado, se Trump adotar uma tarifa universal de 10% em produtos importados, os setores com maiores aumentos serão aqueles relacionados a commodities e combustíveis”, afirmam.

Prós e contras de uma guerra comercial

Em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2020, Trump também promoveu uma guerra comercial. Na época, o cenário foi positivo para o Brasil, que viu um aumento do comércio exterior e das exportações, além de ganhos de market share em mercados como a China.

No entanto, os economistas do Itaú avaliam que, em uma eventual segunda guerra comercial, o espaço para novos ganhos seria mais limitado, devido às condições do mercado de commodities. Os principais fatores são:

  • Soja:  70% das importações chinesas já têm origem brasileira, limitando os avanços no mercado;
  • Milho: cerca de 45% do milho importado pela China vem do Brasil, e 30% dos EUA. Mas a produção forte e estoques internos elevados na China podem levar a redução de importações;
  • Minério de ferro: a maior origem é a Austrália (60%), seguida pelo Brasil (20%);
  • Aço: o Brasil fornece cerca de 10% do aço importado pelos EUA, sendo Canadá e Europa (ambos entre 20-25%) os principais fornecedores; a China tem participação baixa (menor que 5%); os EUA representam cerca de 50% das exportações brasileiras de aço;
  • Petróleo: cerca de 45% das exportações brasileiras vão para a China, conta 11% para os EUA.

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Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
juliana.americo@moneytimes.com.br
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