Garcia vs Haddad: O marketing político que faz malabarismos nas Eleições de São Paulo
Ainda que o início da propaganda eleitoral só seja permitida a partir do dia 16 de agosto, a grande movimentação dos hoje pré-candidatos já tem exigido esforços importantes de marqueteiros políticos.
Devido ao peso deste pleito eleitoral, que se comprova pela configuração de alianças inéditas, discursos repetidos sucessivamente ao longo das últimas décadas perderam valor e estão sendo reescritos. Em São Paulo, mesmo que em junho, esse fenômeno é ainda mais claro.
28 anos de PSDB
O PSDB está prestes a completar 28 anos à frente de São Paulo.
Mário Covas desbancou Francisco Rossi em 1994 e, de lá para cá, o partido venceu todas as eleições: Alckmin era vice de Covas, assumiu o governo e foi reeleito.
Na sequência, José Serra teve um mandato de quatro anos e Alckmin voltou para mais oito, cedendo o posto para João Doria.
A vantagem tucana em São Paulo é tamanha que, dos sete embates, três ocorreram em primeiro turno — em 2006, 2010 e 2014.
A homogeneidade de como o eleitor paulista vota também não surpreende: fora José Genoíno (PT), em 2002, todos os oponentes que levaram o PSDB ao segundo turno também são ou de centro, ou de direita e, em algum momento fizeram parte de seus governos — como o PP de Paulo Maluf (2002) e o PSB de Márcio França (2018).
Durante as últimas três décadas, o PT sempre insistiu em candidaturas próprias ao governo do Estado.
Salvo José Dirceu e Marta Suplicy (que, inclusive, apoiou Covas contra Maluf no segundo turno), Genoíno, Mercadante, Alexandre Padilha e Luiz Marinho concentraram suas artilharias contra o excessivo tempo do PSDB à frente do Palácio dos Bandeirantes e ao modus operandi tucano quanto às privatizações e concessões (como Eletropaulo, Banespa e rodovias), políticas sociais e sobretudo quanto à condução da segurança pública.
O que mudou agora?
Com Geraldo Alckmin hoje no PSB e vice na chapa de Lula (PT), todo o discurso petista contra o PSDB precisou ser reescrito.
Como atacar os 28 anos de PSDB à frente de São Paulo se Geraldo Alckmin, sozinho, governou por quase 14? Como atacar a política de privatizações e concessões se o próprio Alckmin liderou boa parte delas?
Como atacar a política de segurança, sobretudo o chamado Massacre do Pinheirinho, ocorrido em 2012 e sempre lembrado pelo PT, sendo que o chefe do executivo na época era Alckmin?
Veja bem, não é sobre o PSDB, é sobre João Doria…
Fernando Haddad, em dois eventos recentes, demonstrou de forma clara, que o discurso da oposição mudou.
Em entrevista ao Roda Viva, na segunda-feira passada (06/06), o ex-prefeito isolou os últimos quatro anos dos 28 para mirar exclusivamente em João Doria.
“O que aconteceu no governo Doria é bem diferente do que aconteceu nos governos tucanos […] Não é uma questão de não lembrar as críticas que fizemos no passado, mas temos que distinguir o que aconteceu no passado e o que aconteceu com o Doria”.
Na mesma entrevista, Haddad enalteceu a parceria com Alckmin: “Quando fui prefeito, eu me dei muito bem com ele como governador. Nós temos divergências, mas sabíamos construir juntos e construímos muita coisa”.
Suas críticas se reduziram à falta de diálogo do PSDB com a oposição, mas sem citar nominalmente Alckmin.
Já em maio, em sabatina à Folha de São Paulo, Haddad novamente concentrou suas críticas ao período comandado por Doria.
“Talvez ele seja o único caso no Brasil que tenha aumentado impostos durante uma pandemia. Impostos que recaem sobre população de alta renda? Não. Impostos indiretos sobre medicamentos, alimentos… Ele chegou a aumentar o imposto do leite em saquinho e que o pobre em geral comprava”.
Temas como as privatizações e Pinheirinho perderam relevância para o PT.
E como o PSDB se comunica?
Levantamento da Quaest/Genial, divulgado em abril, apontou uma rejeição de 63% a João Doria como candidato à Presidência. Isso contribuiu para a sua desistência e para tudo o que foi traçado por ele e Rodrigo Garcia em 2018.
Se em 2018 a ideia era que Garcia pegasse carona num eventual bem avaliado governo de Doria para se eleger governador numa dobradinha com Doria para a presidência, agora a conversa é outra.
Marqueteiros de Rodrigo Garcia trabalham para desvinculá-lo de Doria. Enquanto Haddad, em seu Instagram, teve cinco publicações com Lula ou mencionando-o nos últimos 20 dias, a última aparição de Doria no Instagram do atual governador foi em abril de 2021.
Velhos jargões para cativar o eleitor
Em seus vídeos, Rodrigo Garcia se titula como ‘o novo governador de São Paulo’. Essa é, em ipsis litteris, a mesma forma com a qual Márcio França se apresentava em 2018.
Os dois, inclusive, têm o mesmo perfil: atuantes na política paulista há décadas, sempre tiveram força nos bastidores e no legislativo. Ambos compartilham o mesmo sonho de governar São Paulo.
Em entrevistas recentes, Garcia ratifica essa separação: “Sou candidato da minha história. Fui vice do Joao Doria. Um é diferente do outro”.
Quando questionado se é de esquerda ou direita, repete o jargão dos que buscam o voto de ambos lados: “sou para frente”.
Os marqueteiros do governador não apostam apenas em frases, mas também em atitudes para vendê-lo como alguém totalmente diferente de João Doria.
Em entrevista a Veja São Paulo em abril deste ano, apareceu dirigindo um Fusca 1969 com sua família. Ele também tem viajado pelo estado no ‘busão’, segundo ele próprio nomeia, pelo programa Governo na Área. Um contraste com o luxo que cerca Doria.
Quanto à nacionalização da disputa, Rodrigo Garcia prefere ficar de fora. Lula e Bolsonaro têm cerca de 74% em São Paulo.
Ciente de que é uma eleição polarizada, o governador não ataca nenhum dos dois. Prefere apoiar uma quase inexistente terceira via — Simone Tebet (MDB) tem apenas 4% no Estado.
Ainda que apoiar Simone não agregue em nada em sua candidatura, Garcia deixa de perder votos — o que ocorreria se endossasse apoio ou crítica formal a um dos dois presidenciáveis mais fortes.
O poder da comunicação
Com um cenário totalmente anômalo, marqueteiros têm trabalhado com ainda mais atenção em prol dos políticos.
As principais candidaturas estão repletas de incoerências e o eleitor, cada vez mais empoderado de acesso à informação (notícias, declarações, vídeos de campanhas passadas etc), precisará ser convencido a esquecer o passado para dar o seu voto.
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